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Carta Insumos - Estratégias para a recria: oportunidades para o período das águas

por Mariane Crespolini
Sexta-feira, 31 de agosto de 2018 -14h50


O ano de 2018 praticamente “já foi” e começamos a planejar 2019. Aqui na região norte de Mato Grosso, temos observado a utilização de três estratégias de planejamento nutricional para a recria. O destaque fica para a suplementação proteica-energética intensiva no período chuvoso, uma oportunidade para os próximos meses e que, na nossa simulação (Cenário III) apresentou rentabilidade de quase 3% ao mês.


Além desta, a primeira estratégia para a recria (Cenário I), mais comum, é suplementar os animais com sal mineral. A segunda (Cenário II), que tem ganhado mais adeptos, especialmente aqueles que costumam “fazer conta”, é a da suplementação com proteinado (na época da seca) e com proteico-energético (na época da chuva).


Premissas técnicas – A tabela 1 apresenta os dados técnicos. Veja bem, no cenário I e II os animais são comprados em maio. Conforme explicado neste texto são os animais que tendem a ter a maior qualidade, são os bezerros “do cedo”. Já no Cenário III os animais são adquiridos em outubro, no início das águas. Enquanto os bezerros de maio são adquiridos com sete arrobas, considerou-se que o bezerro do Cenário III é um pouco mais leve, seis arrobas.


Nos três cenários, os animais são encaminhados para o confinamento no final de maio, início de junho. No cenário I, como o ganho médio de peso dos bovinos suplementados apenas com mineral é menor são necessários dois anos para que o animal atinja peso mínimo de entrada no confinamento, enfrentando assim duas secas. Já nos Cenários II e III, para alcançar o peso necessário, estima-se um período de 12 meses e 7 meses, respectivamente.


Nestas condições, o Ganho de Peso Médio Diário (GMD) para o período, nos diferentes cenários são de 333 gramas na suplementação mineral, de 625 gramas na suplementação proteica/proteica energética e de 900 gramas na suplementação proteica energética durante o período chuvoso.


Tabela 1
Premissas técnicas da Suplementação da recria

Fonte: Elaboração própria


Premissas financeiras - Na região norte de Mato Grosso, onde estamos situados, o preço do bezerro manteve-se praticamente igual, se comparado a maio e agosto. Por isto, assumiu-se que em outubro os preços estarão nos valores de hoje, em torno de 1100 reais, conforme apresentado na tabela 2. Para o arrendamento, considerou-se 22 reais por mês, preço médio para arrendamentos com capim de boa qualidade. Há relatos de arrendamentos mais baratos, porém, com qualidade inferior. Considerou-se também um desembolso de 20 reais por ano com protocolo de medicamentos.


Os desembolsos com a suplementação foram de R$100,00, no Cenário I; de R$295,00 no Cenário II e de R$210,00 no Cenário III. Afim de tornar a análise conservadora, considerou-se também o custo de oportunidade do capital. Isto é, se considerado todo o valor investido, e o seu custo de oportunidade de colocá-lo na poupança, com um rendimento de 6% ao ano.


Tabela 2 
Premissas Financeiras

Fonte: Elaboração Própria


Resultados –  Utilizando estas premissas, os resultados são apresentados na tabela 3. No montante total, a recria mais cara é justamente aquela que aparenta ser a mais barata, que é a do Cenário I. Por mais que o investimento com a suplementação seja o dobro, quase o triplo nos Cenários II e III, o resultado zootécnico compensa o valor investido, especialmente ao diluir o custo com o arrendamento.


O custo total por recria no Cenário I foi de R$2 mil. No Cenário II de R$1745,00 e no Cenário III de R$1427,00. Considerando todos os itens de custos descritos na tabela 2, o custo por arroba ficou em R$133,00, R$120,00, e R$116,00, para os Cenários I, II e III, respectivamente. Para mensurar a rentabilidade destas atividades, supondo que esta recria seja comercializada, adotou-se o preço de R$140,00, valor médio observado na região neste ano.


Dado o menor período na propriedade e seu menor custo total, no Cenário III, cada animal proporcionaria um retorno de R$295,33. Enquanto no Cenário I este valor seria três vezes menor, de apenas R$100,00. Estes valores refletem no retorno do investimento. Enquanto o Cenário I rende 5% no período e apenas 0,21% ao mês, o Cenário II rende 16,33% em um ano, o equivalente a 1,36% ao mês. Já o Cenário III expressivos 20,7% nos sete meses em que o animal fica na recria, equivalente a 2,96% ao mês. Os resultados em % já descontam a possibilidade de rendimento da poupança, de 6%. Isto é, se não for considerado este custo de oportunidade, este percentual poderia ser somado.


Tabela 3
Resultados Financeiros

Fonte: Elaboração Própria


Desafios e oportunidades da suplementação proteica-energética no período chuvoso – Cabe ressaltar que a suplementação proteica-energética nas águas oferece alguns desafios. O primeiro deles é a questão da infraestrutura, ao exigir que o cocho seja coberto. Se não for este o caso, com cocho descoberto, é necessário uma maior sensibilidade por parte do tratador. E, sabemos, que mão de obra é um desafio constante.


Por outro lado, a principal oportunidade em realizar a suplementação nas águas é que esta técnica nutricional não substitui ou influencia o consumo do capim. Deste modo, o ganho de peso aumenta expressivamente. O que ocorre, de fato, é que se potencializa um desempenho que já é bom.


O que tentamos mostrar é que o cenário III, que aqui no norte de Mato Grosso é o menos utilizado, pode ser o mais rentável. Ressaltamos que este animal de seis arrobas da simulação é possível de ser encontrado para aquisição nos próximos meses. Demonstrando uma oportunidade para quem faz a Recria e também para quem está de olho no confinamento 2019.


Utilizamos os valores de compra e venda da arroba constante, supondo que eles não mudaram no período, pela dificuldade de previsão. Os dados técnicos utilizados foram os observados na média, mas podem ser feitas simulações mais ou menos otimistas. O importante é não deixar de mensurar e fazer contas.


Texto em coautoria com Eduardo Manfrin (Zootecnista) e João Paulo Franco (Zootecnista, mestre, doutor e pós-doutor em forragicultura e nutrição animal).