Dando sequência à série de artigos sobre produção animal em pasto especificamente sobre o tema “manejando o pastejo” nesta edição trataremos das respostas de plantas forrageiras e de bovinos leiteiros pastejando em pastagens manejadas pelo método de pastoreio[1 e 1.1] de lotação rotacionada[2].
1.Introdução. Sob as condições de pastejo intermitente, cuja modalidade mais comum é o pastoreio de lotação rotacionada, definiram-se duas condições de referência para a utilização dos pastos: a) uma de pré-pastejo (antes dos animais entrarem no piquete), de 95% e outra de 100% de interceptação luminosa (IL) para os capins Mombaça e Marandu (capim-braquiarão); uma de 90%, outra de 95% e outra de100% de IL para o capim-tanzânia; uma de 95% e outra de 100% de IL, e um período de descanso fixo de 28 dias para o capim-xaraés; uma de 95% de IL, e um período de descanso fixo de 27 dias para o capim-cameroom; b) outra de pós-pastejo (após a retirada dos animais do piquete), com alturas de resíduo de 30 e 50 cm para o capim-mombaça; 25 e 50 cm para o capim-tanzânia; 10 e 15 cm para o capim-marandu (capim-braquiarão) e um valor único de 15 cm para o capim-xaraés e de 45 cm para o capim-cameroom.
Por falta de espaço e pelos propósitos desta série de artigos sobre pastagens, será apresentado apenas um resumo de resultados de pesquisas nesta linha.
2.Respostas de plantas forrageiras em pastoreio de lotação rotacionada:
Para capim-mombaça os resultados revelaram um padrão dinâmico de acúmulo de forragem de forma semelhante ao relatado por Brougham (1956) para o capim-azevém perene. A rebrota teve inicio imediatamente após o pastejo por meio de acúmulo de folhas e a partir de 95% de interceptação luminosa o processo de acúmulo sofreu mudança, passando de uma redução no acúmulo de folhas e aumento acentuado no acúmulo de hastes (caules) e material senescente[3].
O processo de florescimento do capim-mombaça, indesejável em sistemas de pastejo, foi efetivamente controlado através da associação entre o resíduo mais baixo (30 cm) e o pastejo mais frequente (95% de interceptação luminosa).
O conceito de “índice de área foliar critico” (IAF crítico), condição na qual 95% da luz solar incidente é interceptada pelas folhas das plantas, originalmente descrito e aplicado com sucesso em plantas de clima temperado, se mostrou efetivo e válido também para gramíneas tropicais.
3.Respostas de bovinos leiteiros em pastoreio de lotação rotacionada:
Para o capim-mombaça, os tratamentos com pastejos iniciados com 95% de interceptação de luz pelo relvado (88,7 cm de altura) resultaram em forragem com valores mais elevados de proteína bruta e digestibilidade, conseqüência de uma maior proporção de folhas e menores proporções de caules e material morto na massa de forragem em pré-pastejo (tabela 1).
Tabela 1 - Concentração de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) (%) da massa de forragem em pré-pastejo de pastos de capim-mombaça submetido ao pastoreio com 95 a 100% de interceptação luminosa do dossel (janeiro de 2001 a fevereiro de 2002).
Médias seguidas de mesma letra maiúscula nas colunas não são diferentes (P>0,10)
Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas não são diferentes (P>0,10)
Fonte: BUENO, 2003.
O maior valor nutritivo trouxe respostas significativas no desempenho animal, com aumento de 30% na produção diária de leite por vaca quando os animais entraram nos piquetes no momento adequado, ou seja, com altura de 90 cm (próximos aos 88,7 cm) do pasto comparado com o manejo convencional adotado pela maioria dos produtores, com base em dias de descanso (35 dias neste caso) (tabela 2).
Tabela 2 - Produção diária de leite (kg/vaca/dia) em pastos de capim-mombaça pastejados a 90 ou 140 cm de altura por ocasião da entrada dos animais nos piquetes.
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (P>0,05)
Fonte: HACK, 2004.
Respostas semelhantes foram obtidas nos trabalhos de Voltoline (2006) e Carareto (2007) avaliando capim-elefante cv cameroom, com aumentos de aproximados de 18% na produção diária de leite por vaca, 40% no aumento da taxa de lotação e aumentos próximos a 50% na produtividade por área (tabela 3).
Tabela 3 - Produção diária (kg/vaca/dia), taxa de lotação (UA/ha) e produtividade de leite (kg/ha/dia) em pasto de capim-elefante (Cameroon) pastejados com 1,0 m de altura (95% de IL) ou 27 dias de período de descanso (média de 1,20 m).
Fonte: VOLTOLINI, 2006; CARARETO, 2007.
Os capins Marandu (capim-braquiarão), Xaraés, Tanzânia responderam de forma análoga aos resultados obtidos e aqui apresentados com os capins Mombaça e Cameroom.
Devido à dificuldade em se adotar a mensuração da interceptação luminosa como critério de manejo do pastejo em condições de campo (leia, fazendas comerciais), pela demanda de uso de aparelhos específicos e caros (fotômero) se usou a altura do relvado (altura do pasto), que se revelou durante o período experimental nos experimentos citados como sendo um parâmetro consistente para substituir a interceptação luminosa (IL) independente da época do ano, altura de resíduo e estádio fisiológico da planta forrageira.
É preciso ressaltar que em todos estes trabalhos, as condições de clima e solo, as espécies de plantas forrageiras, os animais (de raças puras ou cruzadas), a infraestrutura (cercas, bebedouros, cochos, etc.), a mão de obra, etc., foram iguais, sendo diferente apenas a prática do manejo do pastejo pela altura correta.
Estes resultados abrem novas perspectivas de ganhos significativos na produção e produtividade das pastagens sem investimentos e aumentos de custos adicionais.
[1]Método de pastoreio: é apenas o procedimento ou técnica de manejo do pastoreio, idealizado para atingir objetivos específicos. Referente à estratégia de desfolha e colheita de forragem pelos animais.
[1.1]Pastoreio: refere-se à ação antrópica (do homem) de condução do processo de pastejo (CARVALHO et al. 2009b).
[2]Lotação rotacionada: um ou dois lotes de animais pastejando no mínimo três piquetes.
[3]Senescência: envelhecimento