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Carta Boi - Preços em queda em relação a 2017!

por Mariane Crespolini
Segunda-feira, 10 de dezembro de 2018 -14h40


Será que o confinamento em 2019 será rentável? Essa pergunta martelou insistentemente na minha cabeça, quando estava aqui, fazendo o planejamento da engorda dos animais da minha família para o ano que vem, especialmente com a possibilidade de virada de ciclo, como analisei na Carta Boi da Scot Consultoria. Fizemos o levantamento dos custos, mas para ter um horizonte de preços de boi gordo, fui analisar os preços históricos para novembro e fiquei muito surpresa, para não dizer chateada, com o que observei! Para começarmos, você sabe o que é “a ilusão da inflação”?


Quanto valia uma arroba de boi gordo em novembro de 1999? Como você pode ver na figura 1, a série histórica do Indicador Esalq/BM&F do Boi Gordo aponta para uma arroba em R$42,00 em 1999, em “dinheiros da época”. A linha laranja do gráfico apresenta que o preço médio da arroba seria de R$90,00. Não faz muito sentido para a realidade de hoje, certo? Pois bem. Quando olhamos para passados distantes, a “ilusão da inflação” é muito perceptível e não nos surpreende.


Porém, em um passado recente, é mais fácil sermos enganados pela inflação. Veja ainda, na mesma figura 1, que, desde 2014 o valor da arroba de boi gordo para o mês de novembro segue relativamente estável. Em 2014, a arroba estava cotada em R$143,00, média para o mês. Subiu para R$149,00 no ano seguinte, alcançou R$150,00 em 2016. Já em 2017 teve uma queda e foi para R$141,00. E de 2017 para 2018 houve uma alta de 3,7%, registrando preço médio em novembro deste ano de R$146,00. Esta alta é real? Ou ela é uma ilusão que está nos enganando?


Figura 1.
Preço Médio do Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F para o mês de novembro (em valores nominais), 1999 a 2018.

Fonte: Cepea / elaboração - Mariane Crespolini


Na verdade, caro produtor, estamos sendo iludidos pelo fenômeno da inflação!! Veja agora a figura 2. Nesta figura eu peguei os mesmos preços da figura 1, mas trouxe para “dinheiros de hoje”. Peguei a série histórica e deflacionei com o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que estima a inflação nos preços.


O que a figura 2 ilustra é que, na verdade, em valores reais, a arroba caiu expressivos 20% no comparativo 2014 com 2018. Em “dinheiros de hoje”, a arroba em 2014 valia o equivalente a R$184,00, maior média mensal registrada para novembro no período analisado. No comparativo de 2017 com 2018, ao invés da alta, houve, de fato, uma queda de 5%.


A arroba em novembro de 2017 valia, na média para o mês, R$154,00 em “dinheiros de hoje”.  Isto é o que chamo de “ilusão da inflação”: poderíamos estar iludidos acreditando que os preços subiram, comparando novembro de 2018 com novembro de 2017. Mas, como a alta foi menor que a inflação, os preços na verdade estão em queda, em valores reais. Como produtora, chega a ser dolorido ver as receitas em baixa.


Apesar disso, a figura 2 traz outras informações muito valiosas. Como você utilizaria os dados apresentados para, por exemplo, decidir se vai confinar ou não em 2019? Já pensou sobre isso? Como os preços estão em valores reais, é possível comparar todo o período em “dinheiros de hoje” e com a sua estimativa de custo. Vou te mostrar as ferramentas. 


A primeira ferramenta que esta análise traz é o preço médio para o mês, de R$151,00. Ou seja, caro produtor, se o seu custo de produção estimado para 2019 estiver abaixo de R$151,00 é muito provável que você tenha margem positiva ao vender seus animais em novembro de 2019. A média é uma boa medida, apesar de não ser perfeita, para estimar margem e fazer um bom planejamento.


A segunda ferramenta é uma estatística bem simples, mas que pode ser útil no momento de você mensurar seu risco. Em 75% dos anos os preços médios estiveram acima de R$140,00, em 90% acima de R$120,00. O pior cenário observado em 2006, com a arroba valendo R$113,00, em valores de hoje. Estas medidas servem para você avaliar a chance de ter prejuízo. Se você souber seu custo de produção, estes números são ótimas ferramentas para a sua tomada de decisão!


Haveria uma terceira ferramenta, mas que não tem força matemática, vai quase como uma intuição. Eu particularmente não gosto de confiar apenas nela, mas todo produtor rural acaba confiando um pouco na sua experiência ou intuição, ou até mesmo fé, para os negócios.


Se olharmos para a figura 2, são quatro anos de preços em queda expressiva. Isto aconteceu também de 2002 para 2006, mas depois houve uma recuperação significativa da arroba. Apenas olhando para a figura, parece que a probabilidade de novas quedas vai reduzindo conforme as quedas se tornam mais frequentes de ano para ano. Isto me dá um certo otimismo, mas como falei, carece de sustentação matemática.


Figura 2.
Preço Médio do Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F para o mês de novembro (em valores reais), 1999 a 2018.

Fonte: Cepea / elaboração - Mariane Crespolini


Por fim, ninguém tem bola de cristal e cada ano é um ano. Lembra da carne fraca em 2017? Quem tinha boi para vender em março daquele ano ficou sem dormir. Naquela época, eu tinha um “seguro de preço” e o mercado físico não me assustou tanto. Mas me solidarizei por quem tinha boi pronto para entregar naquela época, sem nenhuma proteção para queda de preços. Temos que lembrar que choques sempre podem ocorrer. Então, estou falando em probabilidades e não em previsão.


Para ter certeza que você não vai ter prejuízo e vai garantir uma margem de lucro, a ferramenta mais garantida é conciliar estes dados, com seu custo de produção e fazer um “seguro de preço”. O Leandro Bovo escreve constantemente aqui na Scot Consultoria sobre isso.


Você pode estar se perguntando: “Esta análise fala de preços para SP e eu que estou em outro estado?” Comecei este texto falando justamente da decisão da minha família, sendo que estamos em Mato Grosso. Se sua produção também está fora de São Paulo, você pode descontar o diferencial de preços e chegar às conclusões desta análise para a sua região. Mas, se você não souber o diferencial, pode me mandar um e-mail: macrespolini@gmail.com que compartilho com você as minhas reflexões para outros locais. Como o Brasil é um continente, se eu fosse analisar cada estado, este texto ficaria muito longo. Espero ter te ajudado na tomada de decisão.