O Brasil é o país com mais incidência de raios anualmente. Em 2012, as descargas elétricas em território nacional chegaram a 94,3 milhões de raios. Em anos de ocorrência de La Ninã, as chances de ocorrer o fenômeno são maiores, pois, há a elevação da temperatura das águas dos rios, dos afluentes e da água do mar na porção norte do país (Elat*/Inpe, 2017).
De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Governo (Elat), as estações do ano que podem ter maior índice de descargas elétricas são a primavera, concentrando aproximadamente 43% dos raios anuais, e o verão, com 33% do total (Elat/Inpe, 2017).
Essas estações são as que concentram maior disponibilidade de água na maior parte do Brasil, e consequentemente maior disponibilidade de pastagens para alimentação animal, ou seja, o período de maior índice de descargas elétricas também é o período do ano de concentração de bovinos em pasto. E daí a ocorrência frequente da morte de bovinos vitimados por raios.
Para ocorrer a descarga elétrica em solo, o raio sempre procura a trajetória de menor resistência entre o ponto de concentração elétrica (nuvem) e o solo. Essa menor resistência é associada ao menor caminho que o raio terá que percorrer, por isso, em ponto de maior altitude, como morros e montanhas, a incidência de descargas elétricas é maior (Embrapa, 2017).
Considerando um piquete com somente uma única árvore isolada, esta atrairá raios, por ser o ponto mais alto frente a pastagem no solo.
Analisando o comportamento animal, afim de se protegerem da chuva, os bovinos vão em direção da proteção mais próxima que encontram, isso quer dizer que a única árvore que servirá de abrigo, também tem possibilidade de atrair as descargas elétricas.
Ao cair sobre o ponto mais alto do pasto, a descarga elétrica corre pelo solo, fazendo com que os animais que estão ao redor da árvore, sejam eletrocutados (Ceripa, 2016).
Em um estudo realizado em 2010, com a observação do rebanho de uma propriedade de recria e engorda, no Rio Grande do Sul, durante os anos de 2001 a 2006, foi registrado que do total de mortes da propriedade 3% foram causados por descargas elétricas, sendo que de todos as causas de mortalidade avaliada, a morte por eletrocussão ficou atrás de castração com 0,6%, abcesso com 1,2% e furto, representando 1,8% (GOTTSCHALL, C.S; CANELLAS, L.C., 2010).
Vale ressaltar que devido ao espaçamento entre as patas, o bovino está sujeito a uma tensão maior passando pelo seu corpo, e consequentemente a um acidente fatal, frente a um ser humano, por exemplo. O fato de o pasto estar normalmente molhado devido à chuva, as patas do bovino em contato com o solo molhado permitem um bom aterramento e consequentemente aumentam a corrente elétrica que passará pelo seu corpo (Embrapa,2017).
Por isso, a prevenção e cuidados contra descargas elétricas é aconselhável. As perdas podem ser em lotes grandes acarretando prejuízos aos produtores.
Por fim, vale ressaltar a dificuldade em encontrar dados oficiais relacionados a essas perdas.
Texto originalmente publicado na edição número 387 da revista Coopercitrus.
Referências
Embrapa, 2017. Proteção contra raios. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/AG01_260_217200392410.html. Acesso em: 2/11/2018
Cooperativa de eletrificação Rural De Itaí (Ceripa, 2016). Proteção contra descargas atmosféricas. Disponível em: http://www.ceripa.com.br/Prote%C3%A7%C3%A3o%20contra%20descargas%20atmosfericas.pdf. Acesso em: 2/11/2018
GOTTSCHALL, C.S; CANELLAS, L.C., 2010. Principais causas de mortalidade na recria e terminação de bovinos de corte.
*Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do governo. Disponível em: http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/noticias/informativo/index.php?informativo=162. Acesso em: 2/11/2018.