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Ajude o CEPEA a te ajudar

por Leandro Bovo
Sábado, 16 de fevereiro de 2019 -10h00


O artigo dessa semana não será sobre tendências ou expectativas de mercado, mas sim sobre um assunto tão ou mais importante que esse e que tem afetado de forma significativa as operações de um grande número de produtores Brasil afora.


O tema desse texto será sobre os indicadores pecuários do CEPEA/Esalq.


Abordar esse assunto num texto com tão grande alcance como o Boi e Cia da Scot Consultoria é um pouco delicado, pois poucos temas são tão polêmicos dentro da pecuária como os preços divulgados diariamente pelo CEPEA.


É difícil conversar com alguém que acompanhe esses números que não tenha história de problemas ou divergências que tenham ocorrido na utilização desses indicadores. Como o CEPEA iniciou uma campanha em 2019 visando ampliar o seu número de informantes, acho que é pertinente tentar contribuir para aumentar o alcance da divulgação.


Antes disso, porém, é necessário esclarecer alguns pontos importantes, quais sejam:


· Primeiro: desenvolver e fazer funcionar um levantamento diário de preços pecuários no Brasil é uma tarefa enorme e dificílima, poucas entidades ou instituições teriam condições de realizar esse trabalho sem a estrutura de pessoas, instalações, experiência e respeito que o Esalq/CEPEA possuem.


· Segundo: o CEPEA é apenas um intermediário no processo, ou seja, ele recebe as informações, as processa de acordo com a metodologia definida e divulga o número resultante desse processamento, sendo assim, não dá para exigir que o produto final seja perfeito, se a matéria-prima que o compõe não for de boa qualidade.


· Terceiro: atualizações na metodologia de cálculo são importantes e necessárias, eu diria até imprescindíveis, para que ele consiga ser uma referência mais próxima do que está acontecendo no mercado físico.


Tendo essas três observações em mente eu gostaria de salientar a importância dos pecuaristas reportarem seus preços negociados ao CEPEA, ou falando o português bem claro “ruim com o CEPEA, muito pior sem ele”.


O principal desapontamento de quem reporta preços é não ver o seu negócio refletido dentro dos parâmetros de mínima e máxima do indicador daquele determinado dia e essa situação é ainda mais crítica quando a média do dia fica muito distante do preço que ele negociou.


O produtor não se sente representado pelo indicador, para de reportar preços e muitas vezes age em seu círculo de influência para que os demais produtores também parem de informar.


Ao agir dessa forma o produtor está jogando contra a sua classe e seus próprios interesses, já que sem a informação dos pecuaristas, os preços do Indicador tenderão a se concentrar apenas nas informações das indústrias.


Uma das grandes fraquezas do levantamento é justamente ele ser voluntário, ou seja, cada participante pode escolher o negócio que irá reportar ou não ao CEPEA, com essa realidade em mente não é difícil imaginar que faria sentido para as indústrias reportar apenas preços “da banda de baixo” dos seus negócios do dia, enquanto os pecuaristas teriam interesse em reportar negócios “da banda de cima”, seria ingênuo imaginar que isso não acontecesse.


Ocorre que quando há um equilíbrio no reporte de negócios entre indústria e pecuarista, esse fator tende a ser mitigado, gerando um número mais próximo da realidade.


Quando o pecuarista deixa de reportar, o sistema fica “manco” e a concentração dos negócios reportados por frigoríficos faz os preços do CEPEA, em tese, ficarem nivelados por baixo, o que gera desconforto no pecuarista que não se sente representado, que faz com que menos pecuaristas informem preços e o ciclo vicioso vai se auto alimentando.


O indicador Esalq à vista é o que liquida os contratos futuros de boi gordo negociados na B3, porém, a sua importância vai muito além disso. A verdade é que talvez esse seja a utilização menos relevante em termos financeiros hoje em dia, dado o tamanho pequeno do mercado futuro de boi.


O indicador Esalq à vista e os preços do CEPEA de cada região são referência para negociações de Terras, contratos de venda futura de bois aos frigoríficos e mais diversos negócios que com certeza são diversas vezes maiores do que o mercado futuro de boi.


O mundo ideal, seria que fosse possível ter uma espécie de “PTAX” do boi, pra quem não sabe, a PTAX é o indicador que liquida os contratos futuros de dólares negociados na B3, onde esse contrato específico é um dos mais negociados do mundo. 


A PTAX é calculada todo dia pelo Banco Central, e nada mais é do que a média ponderada dos negócios com dólar no mercado à vista entre os bancos e corretoras autorizados pelo BC a negociar a moeda. Ela é coletada em 4 janelas diárias e a média de preço ponderada pelo volume é divulgada ao mercado no final do dia. 


Obviamente esse modelo não consegue ser implementado para o mercado pecuário porque as informações dos negócios entre pecuaristas e frigoríficos não são obrigatoriamente reportadas a um centralizador de informações como ocorre com as negociações de dólar no mercado à vista, porém, um aprimoramento da metodologia levando em conta a ponderação por volume faria muito sentido. 


Enfim, existem problemas que devem ser analisados e superados, os responsáveis pelo indicador sabem dessa realidade e estão sensíveis a ela.


Já há inclusive sugestões de melhorias com grande chance de serem implementadas, mas, enquanto elas não ocorrem, o pior que pode acontecer é o pecuarista deixar de reportar seus negócios, por isso fica aqui o meu apelo aos colegas de classe, que se cadastrem no CEPEA, e forneçam os preços de sua negociação. Isso pode ser feito via e-mail, telefone, ou até mesmo pelo aplicativo de celular exclusivo para esse fim.


Quanto mais pecuaristas informarem preços, mais próximo da realidade será o indicador e o contrário é verdadeiro. Ou seja, é um ato simples e sem custo que, se massificado, melhora a situação de todos os pecuaristas do Brasil.