Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Carta Conjuntura - Inferno astral suíno no ano do porco na China

por Juliana Pila
Quinta-feira, 28 de março de 2019 -13h00


A peste suína africana (PSA), que se propagou pela China a partir de agosto de 2018, tem sido pauta de discussões.


A PSA é uma doença contagiosa causada por vírus. A doença não acomete humanos e é exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados. Não existe vacina para tratamento e a doença é de disseminação rápida.


A China, principal consumidor de carne suína, deverá sentir os impactos causados pela doença em seu plantel.


Na figura 1 temos a evolução da produção, do consumo e da importação de carne suína pelos chineses, de 2000 a 2018.


Figura 1.
Produção, consumo (eixo da esquerda) e importação (eixo da direita) de carne suína na China, em milhões de toneladas.
Fonte: USDA / Elaborado por Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Em anos de redução na produção, como foi o caso de 2015 e 2016, a importação cresceu. Este fato mantém a expectativa positiva de incremento na importação para reabastecer o mercado interno este ano. 


Não é possível, no entanto, saber qual será a reação do consumidor chinês, tanto pela alta de preços no mercado interno, devido ao desabastecimento, como pelo medo de algum tipo de contaminação da carne, mesmo que infundado. 


Oportunidades para o Brasil 


Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os chineses produziram, em 2018, 54,15 milhões de toneladas de carne suína.


Como ainda é cedo para estimar as reais perdas na produção, utilizaremos um intervalo de 2% a 20% de recuo a partir da produção total de 2018, mantendo o consumo estável registrado naquele ano.


Sob esses parâmetros teríamos um déficit variando de 2,7 milhões de toneladas a 12,4 milhões de toneladas. Veja na tabela 1.


Tabela 1.
Projeção da produção de carne suína considerando as perdas causadas pela PSA.

Fonte: USDA / Elaborado por Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Este déficit provavelmente será suprido pela importação, ou seja, este fato pode ajudar a alavancar os embarques do produto brasileiro. 


Para efeito de comparação, o déficit, considerando o patamar mínimo de perdas com a doença, é 1,5 vezes maior que o total importado pela China em 2018 (1,8 milhão de toneladas).


A China para o Brasil


Em 2018 a China foi o segundo destino da carne suína brasileira, correspondendo a 24,6% do total embarcado (156,3 mil toneladas). Em primeiro lugar aparece Hong Kong (área administrada pela China), com 25,5%.


Apesar da segunda posição, a China vem se destacando devido ao aumento no volume comprado nos últimos anos, além disso, o país ocupou o vazio deixado pela Rússia, que voltou a comprar o produto brasileiro em novembro de 2018, após quase um ano de embargo.


Tabela 2.
Principais compradores da carne suína in natura brasileira.

* até fevereiro
Fonte: SECEX / Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Até fevereiro, a China ocupou a primeira colocação entre os importadores.


Diante da atual conjuntura, a China poderá aumentar as compras do produto brasileiro, o que ajudaria no escoamento da produção nacional, sendo um dos principais agentes do incremento previsto nos embarques em 2019.


Considerações finais


Se o cenário negativo na China se confirmar, o mercado agrícola e pecuário poderá sofrer diversos efeitos colaterais.


Do lado positivo, os embarques brasileiros de carne suína poderão crescer para ajudar no abastecimento do mercado chinês.


No entanto, do lado contrário, a redução no plantel asiático poderia afetar a demanda por soja brasileira, sendo o Brasil o principal fornecedor do grão ao país.