Está a “meio caminho andado” quem têm um norte para seguir. Limitar-se à chamada “lama do operacional” e aos números internos da fazenda, infelizmente, retarda o processo gerencial e o ganho de resultado, como também, desliga a chave da inovação e motivação da equipe.
É preciso ultrapassar as fronteiras e não ter medo de enfrentar a possível comparação após olhar para o vizinho de cerca, para o criador de outro estado e até para outro tipo de negócio. A visão transversal é que faz com que o líder pense diferente, diariamente, seu próprio negócio.
“Quem compara, evolui”. Esse é um dos meus mantras que, a cada ano, tenho mais convicção de sua verdade, pois a comparação nos traz referência e motiva; elucida a diferença que nos faz evoluir e acaba nos impondo metas. Além disso, a comparação é algo inerente ao ser humano, em diferentes momentos da vida, para que possa se nortear e tirar as próprias conclusões.
Desde o nascimento de um ser humano, há questões que são de praxe: com quantos quilos nasceu? Qual a estatura? Como foi o parto? Intuitivamente, buscamos respostas para a nossa própria avaliação do fato, pois no senso comum, temos referência de quilos e tamanho de um bebê sadio. Se nasceu, em geral, de parto normal e com mais de três quilos está ótimo!!! Em seguida, no crescimento da criança, peso e altura são medidos mês a mês e comparados com curvas de referência universal que guiam os pediatras. Dos primeiros anos de aprendizagem até a formatura, são incontáveis as provas ou testes feitos. Ao receber o resultado, naturalmente, há uma comparação com os melhores e os piores da turma para nortear como está o desenvolvimento em meio ao grupo. E assim segue a vida. Comparando, comparando... mesmo após o último suspiro existem comparações. Do que morreu? Quantos anos tinha? E, dependendo da resposta, ela própria já é um fator de consolação e de conforto.
No ambiente empresarial, a comparação recebeu uma roupagem profissional e sistematizada a partir da instituição do benchmarking. Esse é um processo para busca das melhores práticas com intuito de conduzir a um desempenho superior. Uma das primeiras referências da ferramenta foi quando a Xerox comparou seus processos internos com o de um concorrente para entender como eles conseguiam vender produtos com menores preços. Em seguida, a partir dos anos 70, o benchmarking se popularizou como uma ferramenta de gestão para os mais diversos setores. E, é muito usado nos dias de hoje, fortalecido, ainda mais, por uma tendência de economia colaborativa, simplificada pela hashtag da moçada: #juntossomosmaisfortes.
Para avançar com essa ferramenta é preciso buscar estudos realmente confiáveis. Que deixem claros seus propósitos, fonte de dados, formatos de coleta, sistemática e que utilizem a estatística e as ferramentas de inteligência artificial, cada vez mais disponíveis. Fechar os olhos a essas informações é andar mais devagar e, talvez, por direção que não seja a mais rentável.
Diferentes finalidades
O benchmarking pode ser de vários tipos. O interno vale-se de dados da mesma empresa, a partir de unidades diferentes. Seria como comparar várias fazendas do mesmo grupo. Outro seria o benchmarking competitivo, no qual há comparação entre concorrentes e, por fim, há o de cooperação, quando as empresas se reúnem para gerar informação do setor, assim como fazemos no Benchmarking Inttegra de Métricas Pecuária. Além disso, o estudo pode ter duas finalidades diferentes, ou seja, buscar informação sobre resultado (indicadores zootécnicos, dados financeiros etc.). Outro modelo é o benchmarking de processo que explicita os passos de cada operação.
É simplista quem acredita que o intuito está na imitação do processo de outra fazenda ou na busca insana pelo número absoluto. A partir da referência há a adequação para cada realidade. O benchmarking propõe conquistas que podem ser alcançadas, a partir do que foi obtido por uma fazenda real, porém, deve respeitar as particularidades internas. Além dos dados globais, em um segundo passo, pode-se ter acesso a benchmark de fazendas de mesma atividade para um refinamento da informação. Assim, fazendas de cria vão ter dados mais específicos de fazendas de cria; as de recria com as de recria e as de engorda para engorda. Seja em uma análise global ou mais refinada, o importante é realmente querer melhorar a partir da referência confiável.
Faço o alerta que “respeitar a realidade interna” não deve ser uma muleta para quem não quer enxergar seus desafios. A verdade “nua e crua” é melhor do que qualquer desculpa. Digo isso, pois tinha um cliente que ao comparar sua fazenda com uma referência constatou, “Ah, mas ele faz melhoramento genético, integração e o líder até mora na fazenda. Não posso me comparar com ele, pois não uso essas ferramentas”. É preciso deixar de se enganar e deixar de querer ser o “craque entre os ruins”. Ter uma referência que trabalha tecnologias melhoradoras comprovadas é uma motivação para que, se demandado pelas metas, as técnicas sejam implantadas.
Olhar para fora, comparar-se e visitar uma fazenda de referência desperta a vontade de melhorar. Sempre há algo a ajustar ou uma forma de fazer melhor. É preciso ter humildade de reconhecer que há muita vida inteligente fora de nossas porteiras e podemos aprender e melhorar com a experiência do outro. Sem dúvida, metade dos problemas estão resolvidos quando identificados e quando nos abrimos pela busca da solução.
Vantagem de fazer parte ativamente do processo:
- Ampliação da gestão do próprio negócio, pois na primeira etapa é preciso buscar e conhecer os próprios números. Em seguida, há um ranqueamento que nos classifica em um universo e nos dá referências para estabelecer metas.
- Traz muita motivação ao grupo, pois a equipe passa a querer melhorar os próprios números como também alcançar níveis melhores entre os iguais.
- Oportunidade de aprendizado com os demais. Há pessoas que colocaram ousadia e perspicácia e já testaram alguns processos e ao compartilhar essas informações permitem que os demais cortem caminho para melhor rentabilidade.
- Impulsiona, organizadamente, a redução de custo por arroba e o aumento do lucro, esse que é o principal objetivo do negócio pecuário.
Portanto, participar de um processo de benchmark permite um aprendizado e avanço a passos mais largos e direcionados pela informação privilegiada. Também contribui para o setor, pois é fonte de números confiáveis sobre o que é feito no País por um grupo de pecuaristas. Traz luz para cada unidade de produção e para a atividade em si.