Respondendo à pergunta do título, aquela fatídica palavra que todo técnico adora, “depende”. Em verdade, o que irá determinar o início de tudo será em qual área iremos dar início à implantação de um sistema integrado.
Imaginando que iremos partir de uma área de pastagem degradada, temos que iniciar pela análise de solo destas áreas, de preferência com uma amostragem que realmente consiga traduzir as reais necessidades de correção e adubação destas áreas, tanto de 0 a 20 quanto de 20 a 40 cm de profundidade.
Com base nesta demanda de insumos, partimos para habilitar a área para introdução da agricultura, daí surgem algumas outras variáveis que necessitamos cuidar, caso estivermos em áreas arenosas, devemos evitar ao máximo a movimentação de solo quando estes são arenosos com riscos de termos uma perda significativa de solo no início das chuvas.
Caso a área apresente tocos, raízes e pedras, será necessário a retirada e limpeza destas áreas para que as máquinas agrícolas possam percorrer a área para plantio e colheita sem problemas.
Foto: William Marchió. Retirada de tocos e raízes, Estância Don Benigno, Bela Vista Norte PY.
Após esta primeira habilitação das áreas, de posse da análise de solo e recomendação da correção e adubação partimos para as operações de gradagem, distribuição de calcário, gesso e fósforo e incorporação destes insumos.
Na sequência se elege a lavoura ou pastagem a ser implementada, em áreas de risco climático alto, é comum se implementar uma pastagem no primeiro ano para no segundo ano termos uma palhada adequada para mitigar os riscos de uma cultura de grãos.
Caso se queira implementar o componente florestal nas áreas, pode-se realizar esta operação neste momento.
Foto: William Marchió. Distribuição de calcário.
Foto: William Marchió. Implantação dos terraços. Estância Don Benigno, Bela Vista Norte, PY.
A determinação do arranjo do componente florestal é muito particular de cada propriedade, levamos em conta a espécie florestal (eucalipto, mogno, teca, nativas etc.), e o propósito da floresta (sombreamento, produção de madeira para movelaria, para biomassa etc.).
O mais comum é a implantação de clones de eucalipto, com o objetivo inicial de sombreamento, porém podendo fornecer desbastes que irão ser propícios para a produção de mourões de cercas.
Outro ponto importante é o fato de que, se o componente florestal for inserido em áreas de lavoura, temos que respeitar uma distância mínima e proporcional às dimensões das máquinas e implementos agrícolas, principalmente o equipamento de pulverização cujas barras apresentam a maior largura necessária. Desta forma arranjos com no mínimo 28 metros para suportar a pulverização e sentido leste oeste dos renques para melhor posição do sol nas lavouras.
É sempre bom dizer que cada bioma, cada região, cada fazenda e cada produtor têm suas necessidades particulares e cabe buscar uma boa orientação nesta fase inicial, a fim de diminuir os riscos de investimentos inadequados à aquela condição particular.
Após esta base inicial, vamos tentar colocar números para estas diferentes fases:
Fase 1: Habilitação inicial das áreas de pastagens degradadas
- Análise de solo
- Gradagem pesada.
- Distribuição de calcário, gesso, fósforo e incorporação.
- Gradagem intermediária.
- Gradagem niveladora.
- Construção dos terraços.
Esta fase terá custos muito diversos devido à condição inicial das áreas, acreditamos que algo em torno de R$3 mil (três mil reais) por hectare será suficiente.
Em seguida teremos a implantação da cultura, se for soja teremos algo em torno de 30 a 35 sacas por hectare de custos, R$2.450,00 por hectare mais uns R$150,00 por hectare de sementes.
Se for milho verão teremos algo em torno de R$3 mil por hectare.
Caso tenhamos a possibilidade de fazer segunda safra de milho ou sorgo, esta deverá custar cerca de R$1,8 mil.
Lembrando que sempre teremos o consórcio com alguma gramínea, seja em sobre semeadura na soja; ou em consórcio com milho safra verão ou ainda em consórcio na segunda safra.
Caso a implementação da agricultura for realizada com a aquisição de máquinas, implementos e equipamentos novos, teremos cerca de R$ 4,8 mil de investimentos imaginando um módulo inicial de 500 hectares de área.
As instalações pecuárias de curral, cochos, cerca e água também demandaram um investimento entre R$300,00 a R$400,00 por hectare.
Em se estabelecendo a pastagem após a cultura e tendo que adquirir animais para a recria ou engorda no sistema, imaginando que teremos condições de suportar entre 2,5 a 3 U.A. por hectare, teremos mais um custo ao redor de R$4,8 mil para aquisição de animais.
Somando todas estas necessidades temos:
1. Habilitação da área = R$3 mil
2. Cultura em consórcio com gramínea = R$2,6 mil
3. Segunda safra em com consórcio de gramínea = R$2.050,00
4. Investimento em máquinas = R$4,8 mil
5. Investimento em estrutura pecuária = R$400,00
6. Aquisição de animais = R$4,8 mil
7. Implantação do componente florestal = R$2,5 mil
Total = R$20.150,00 por hectare.
Realmente, a demanda de recursos necessários à implantação de todo o sistema não é pouca, também irá variar muito em função das características das áreas e da fazenda. Quando a fazenda já realiza agricultura, todos estes valores se reduzem. Quando se utiliza a terceirização das operações também teremos significativa redução nos investimentos.
Agora, quanto estes investimentos poderão entregar de resultados, está diretamente relacionado às transformações que iremos conseguir na produtividade destes solos e na gestão destes recursos. O processo nunca é imediato, o condicionamento de solo e melhoria de sua fertilidade e a entrega de melhores produtividades irão crescer com o amadurecimento do sistema. Seja no que se refere às melhorias químicas, físicas e biológicas destes solos, seja as melhorias na gestão do sistema integrado.
Em sistemas já maduros, podemos esperar de resultados por hectare os seguintes valores:
1. Soja = R$2,1 mil
2. Milho verão = R$2 mil
3. Milho safrinha = R$1 mil
4. Eucalipto = R$1,4 mil
5. Pecuária = R$1,4 mil
Total de R$ 4,8 mil por hectare, colocando milho verão, boi e eucalipto.
Alguém pode me dizer, como você se atreve a colocar números em coisas tão complexas e tão particulares de cada propriedade de modo tão simplório. Porém em todo encontro, em toda palestra e em toda entrevista, temos sempre alguém questionando sobre estes resultados.
Desta forma resolvi, nos últimos anos buscar informações com diferentes fazendas que visito e poder traçar um levantamento bem simplório, porém bem realista, que representa uma boa média de fazendas que fazem ILPF.
Temos plena consciência de quanto estes custos são muito particulares de cada bioma, de cada região e de cada fazenda, também sabemos o quanto estes resultados são susceptíveis à gestão destes recursos implementada pelo fazendeiro.
Mas estes valores poderão servir de um norte para produtores que estão dispostos a implementar o sistema e não irão encontrar nada objetivo e em linguajar diferente do “economês” falando do tema.