Chegando próximo à colheita da safra 19/20, meu papo é com quem é responsável pela parte agrícola dos empreendimentos.
E, pode se surpreender quem está acostumado a associar as informações e dados do Instituto Inttegra apenas aos ganhos de produtividade da pecuária, mas desde os primeiros controles para a construção de nosso benchmarking também reunimos informações sobre a agricultura de fazendas que têm integração com pecuária ou não. É claro que com uma representatividade menor do que o volume de dados do boi em si, mas após sete anos, temos bagagem para constatações extremamente importantes que afetam diretamente o maior lucro de quem produz grãos seja soja, milho, feijão, trigo ou qualquer outro.
De posse dos dados acumulados até 2019, tenho muita segurança para afirmar que “o agricultor precisa olhar para os 50% da sua atividade que ele não vê”. Ficou confuso? Explicarei, mas antecipo que me refiro a parte que não está diretamente ligada ao seu dia a dia com a terra e com as plantas, mas a outros fatores que afetam, na mesma medida, o seu resultado financeiro.
Ao organizar os custos agrícolas, optei por subdividi-los em três grandes conjuntos para que possa entender como o agricultor gasta seu dinheiro. Isso porque seu foco tem que estar no desembolso. Assim como para o boi, o valor de venda não é algo determinante para o lucro, pois está fora do controle direto do líder, já o custo é outra história. A gente pode e deve controlar e reduzir, sim.
Para melhor análise do desembolso em custos agrícolas, os subdividimos em três conjuntos:
Onde estão os fertilizantes e corretivos; sementes e tratamentos e defensivos em geral. O agricultor conhece muito bem esses itens e seus números. Na média, ele gasta R$2.002 ha/mês com os insumos. Os agricultores que mais rentabilizaram no ano de exercício do benchmarking, aqueles que chamamos de “top rentáveis”, gastaram R$1.929 ha/mês, ou seja, algo muito próximo da média, apenas 4% de diferença. Concluímos que a média é representativa nesse item e todos estão muito alinhados.
Incluímos todos os custos relacionados ao maquinário para os tratos culturais. Seria tudo o que está por trás do cálculo de hora máquina. Nesse ponto, a média foi de R$659 ha/mês, porém, diferente do item anterior, há uma economia de 24% do “top rentáveis” se comparado com a média.
Reúne o gasto com administração, taxas e impostos, mão de obra e manutenções de infraestruturas. Quem mais ganhou dinheiro no último ano de exercício, os “top rentáveis”, economizaram 45% em manutenção, 26% em mão de obra e 36% em taxas e impostos.
Na tabela 1 apresento um resumo dos cálculos referente ao gasto ao mês:
TABELA 1.
Desembolso com custos agrícolas ao mês.
Fonte: Instituto Inttegra de Métricas Pecuárias (safra 2018/2019)
Perceba que somando o segundo e terceiro conjuntos, o custo médio é praticamente os mesmos R$2 mil que ele gasta com o pacote de insumos. Mesmo sendo equivalente, por experiência e também me baseando nos dados de variação, tenho a certeza de que não há a mesma dedicação no controle do segundo e terceiro item como ele tem no primeiro. É isso que quero deixar claro quando digo que o agricultor precisa também “olhar para o que não vê”.
Quem gosta de cultivar a terra concentra a maior parte de seus esforços no primeiro item, porém, é onde se tem menor oportunidade para a economia atualmente, já que há um padrão muito bem definido e organizado. Os protocolos de produção estão estabelecidos, difundidos e são mais parametrizáveis.
Por outro lado, nos outros dois setores, o abismo é maior entre quem ganha dinheiro ou não na atividade, o que nos leva a crer que é algo com menor rigor de controle, ou a diferença seria menor. São itens que o agricultor não presta atenção com a mesma intensidade em seu dia a dia, pois o seu foco está no primeiro grupo.
Quando defendo que ele deve olhar para o 50% que ele não vê, é exatamente isso. A metade de seu custo não está sendo controlada na casa da vírgula.
É claro que ele precisa estar atento a uma subida repentina do dólar, pois isso reflete nos fertilizantes, por exemplo, porém, o mesmo comportamento deve se refletir ao analisar sua folha de pagamento ou aos custos da hora/máquina. Eles abocanham da mesma forma! Tem gente que pensa que os insumos são como mordidas de tubarões e a equipe como peixes menores, ledo engano! Ao extrapolar seu rigor para os dois outros grupos terá grandes oportunidades financeiras.
Como os números escancaram onde o agricultor tem que colocar sua atenção, aprofundo ainda mais. Pensando em mão de obra, por exemplo, a variação média de hectares plantados por funcionário é muito grande. Na mesma cultura, os “top rentáveis” tem 199 ha/funcionário, quando a média está em 132 ha/ funcionário. Isso significa que dois produtores, com uma área de mil hectares, quem está na média precisará de 2,5 funcionários mais do que o top rentável, um custo fixo a mais. Há ainda quem consiga ter 245 ha/funcionário, são os que chamamos “top dos indicadores”.
Quando defendo que os números “rasgam o verbo” é porque vivemos isso em nosso dia a dia. Eles evidenciam que a nossa realidade está longe de ser perfeita e previsível. Cada vez estou mais convicto de que a única certeza que temos é que as coisas mudam. Pela padronização dos tratos culturais, temos a impressão rasa de que a média dos dados da agricultura representa a realidade da maioria, mas isso não é verdade.
Na última safra, 2018/2019, a média na soja, por exemplo, foi de - R$875 ha/ano, sendo que as 10% top rentáveis atingiram R$1.374 ha/ano. Ainda na soja, se fizermos a mesma comparação para desembolso constatamos que a média das fazendas gastou quase o dobro das “top rentáveis”. Ao compararmos os gráficos de resultado e desembolso, representados na figura 1, fica nítido o peso da falta de cuidado com os custos no resultado final. Quem ganhou menos, gastou mais. Parece obvio falar isso, mas às vezes não nos damos conta de que o obvio se aplica a nossa realidade.
Figura 1.
Desembolso com custos agrícolas ao mês.
Fonte: Instituto Inttegra de Métricas Pecuárias (safra 2018/2019)
Acreditamos que a meta principal deva ser sempre em sacas de resultado. Os números mostram que a média de cinco anos deva ser superior a 12 sc/ha, 20 sc/ha e 30 sc/ha para soja, milho safrinha e milho verão. Sem desgrudar o olho do desembolso, nossos cálculos apontam que na agricultura convencional ele deve buscar a seguinte produtividade:
▶ Soja – acima de 60 sacas/ha.
▶ Milho safrinha – acima de 100 sacas/ha.
▶ Milho verão – acima de 150 sacas/ha.
Perseguindo esses números, há mais chance de êxito. A estatística mostra que esse é o limite que separou os mais rentáveis dos que não conseguiram o mesmo resultado. Portanto, nas promessas de ano novo não se esqueça de incluir: mesmo rigor de atenção a todos os grupos de custo da fazenda e produtividade mínima como sugerido. Com essas metas, o impacto será grande e rápido.