O controle de plantas daninhas nas pastagens é uma forma inequívoca para a melhoria de sua produtividade, e de certa forma faz parte da rotina da atividade pecuária. Realizada de diversas formas, desde a capina manual até a aplicação aérea de herbicidas, iremos neste texto abordar mais em detalhe a ferramenta química, os herbicidas, e aspectos relacionados à tecnologia de aplicação destes produtos em nossas pastagens.
O controle químico das plantas daninhas em pastagens é direcionado, em sua grande maioria, para o controle de plantas de folhas largas. Não que gramíneas invasoras também não tirem o sono do pecuarista e, abordaremos especificamente esse tema num futuro artigo, mas o controle das invasoras de folhas largas teve um avanço significativo há mais de 50 anos com a introdução, nos anos 60, da mistura de duas moléculas até hoje importantes nesse mercado, o Picloram e o 2,4-D.
Durante décadas foi praticamente a única solução herbicida que o pecuarista dispunha, sendo usada não só na modalidade de aplicação foliar, como também no toco, após o corte de plantas lenhosas, ou na casca da planta, a chamada aplicação basal.
Na década de 80 surge um produto peletizado, à base de tebutiuron que, aplicado na superfície do solo, ao redor das plantas, controlava plantas lenhosas de difícil controle e também algumas monocotiledôneas, como a taboca e o gramão.
Na década de 90 novas moléculas entram nesse mercado, como: fluroxipir e triclopir, com formulações destas em mistura ou isoladas, ampliando as possibilidades de controlar alvos mais específicos, ou aumentando o espectro de plantas controladas. Também nos anos 90 começa a ser comercializada uma formulação contendo apenas picloram com corante, direcionado para uso no toco, após o corte de plantas lenhosas. Em 2006 é registrado uma nova molécula para esse segmento, o aminopiralide, em mistura com fluroxipir, e em 2007 em mistura com 2,4-D. Mais recentemente, em 2018, é lançada no mercado a primeira formulação com três ativos para o mercado de pastagens, contendo aminopiralide, picloram e triclopir.
Basicamente essas cinco moléculas: 2,4-D, Picloram, Aminopiralide, Fluroxipir e Triclopir representam a essência de produtos seletivos às gramíneas forrageiras, controlando as plantas daninhas de folhas largas. Todas apresentam o mecanismo de ação denominado mimetizador auxínico, muitas vezes equivocadamente chamado “hormonal”. Esse mecanismo é caracterizado por atuar nos pontos de crescimento de raízes e partes aéreas, no núcleo das células vegetais, durante as sínteses de DNA e RNA, causa a multiplicação exacerbada de células que interrompem o fluxo normal de seiva dentro da planta, levando-a à morte.
Há ainda uma outra molécula registrada para pastagens, o Metsulfuron-metil, com diferente mecanismo de ação: inibidor de ALS, que age interferindo na síntese de aminoácidos essenciais à planta. O uso de Metsulfuron-metil se popularizou a partir da última década, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e é empregado basicamente em mistura com outros produtos, creditando a ele uma melhoria na performance do tratamento químico como um todo. Na verdade, essa molécula é muito ativa na planta Spermacoce verticillata, a popular vassourinha-de-botão, ou botão-do-ênio, uma planta conhecida pela dificuldade de controle nas regiões onde aparece, e também nas samambaias, sendo várias espécies, a principal delas Pteridium aquilinum.
O glifosato também é bastante utilizado na pecuária, porém, por ser um herbicida não seletivo, entra em operações de dessecação das pastagens pré renovação, ou em catações localizadas e beiras de caminhos e cercas.
Atualmente a quantidade de marcas de produtos e fornecedores é significativamente maior que há 15 ou 20 anos, o que é positivo, pois mais técnicos andam pelo campo, disseminando a tecnologia e propondo soluções diferentes. Um ponto que sempre comento é que na maioria das vezes pode-se ter várias recomendações diferentes, e corretas, para um mesmo problema. Raramente há uma única opção, e a criatividade em termos de misturas de produtos e doses corre solta pelo campo, nem sempre respeitando um balanço adequado entre os princípios ativos, feitas empiricamente e que, muitas vezes, são efetivas mais pelas quantidades aplicadas que propriamente pelo domínio destes balanços entre as moléculas.
Em pastagens dispomos de quatro modalidades para o uso de herbicidas: aplicação foliar; aplicação no toco de plantas lenhosas, imediatamente após o corte; aplicação basal também de plantas lenhosas, mas sem corte; e aplicação no solo.
A aplicação foliar de herbicidas pode ser dividida em duas modalidades: localizada e em área total. Na modalidade localizada podem ser utilizados equipamentos costais manuais ou mecânicos, com trator, mas basicamente se faz a aplicação planta a planta. É um método bastante eficiente de controle devido à planta tratada receber um bom molhamento e cobertura pelo herbicida.
Em área total, pode ser realizado por pulverizadores tratorizados, com diversas configurações, ou aeronaves, predominando os aviões, mas com crescente uso de helicópteros. O tratamento em área total é o de maior rendimento operacional e, portanto, o de maior interesse pelo pecuarista e fornecedores de insumos, porém envolvem as maiores exigências em termos de condições climáticas e fisiológicas da planta. Esse tema é tão amplo que merecerá um artigo exclusivo sobre ele.
Foto do autor: Aplicação foliar
Plantas lenhosas, arbustivas e arbóreas, muitas vezes não dispõem de um tratamento que as controle via aplicação foliar, por mais potente que seja o tratamento, mesmo nas melhores condições de aplicação, assim, estas podem ser controladas tratando-se o tronco remanescente após o corte rente ao solo. É desejável que a calda herbicida contenha um corante, para que se identifique o toco tratado. Alguns produtos já contêm corante em sua formulação, e caso não o tenha, pode ser adicionado. O principal ativo utilizado nessa modalidade é o Picloram, e alguns usuários ainda adicionam o Triclopir.
Alguns cuidados devem ser observados na aplicação no toco, como: o corte do tronco ser o mais rente possível do solo; que a aplicação seja imediata após o corte; e que haja um bom molhamento da área cortada, sendo desejável também que a calda escorra até o solo, pois o Picloram é bastante absorvido pelas raízes. Normalmente, para o bom desempenho no campo, são utilizados duas ou três pessoas por equipe, sendo um ou dois cortando as plantas, e um exclusivamente aplicando o produto nas plantas recém cortadas. Atentar para seguir a correta concentração de produto na calda, preconizada pelas bulas dos fabricantes.
Outro ponto interessante na aplicação de herbicidas no toco é que não há restrições quanto à época do ano, condições climáticas, ou fisiológicas das plantas, podendo ser feita durante todo o ano.
Foto do autor: Aplicação no toco
Assim como na aplicação no toco, a aplicação basal é direcionada para plantas não controladas na modalidade foliar. Ela é mais indicada para plantas lenhosas, com talos mais finos, difíceis de serem tratados no toco. O Triclopir é o principal ativo utilizado nesse tratamento, e há também produto contendo Picloram + Triclopir registrado para esse uso.
O produto deve ser diluído em óleo diesel, ou outro solvente orgânico, como querosene. A água não é eficiente como veículo, uma vez que a barreira a ser rompida para penetração na planta é a casca do tronco, sempre espessa, e muitas vezes suberificada e corticosa, e uma solução aquosa não proporciona a desejada penetração.
A aplicação se dá na metade ou terço inferior da altura do caule, a partir do solo, tomando o cuidado de tratar toda a circunferência do tronco, ou haste, aplicando em todas hastes, caso haja mais de uma.
Podemos encaixar também dentro desta modalidade o controle de palmáceas, as pindobas, uma vez que o tratamento é feito com Triclopir, diluído em óleo diesel, com a diferença que a aplicação é feita exclusivamente no ponto de crescimento das folhas, o chamado “olho” da planta. Uma recomendação é que as plantas tratadas tenham sido roçadas, e não haja tronco aparente, apenas as folhas sejam visíveis.
Foto do autor: Aplicação basal
A aplicação no solo é bastante simples e basicamente se constitui na distribuição do produto no solo, ao redor da planta. Atualmente está mais limitada pela restrição na disponibilidade de produtos para esse uso. O principal ativo usado nessa modalidade é o tebutiuron, um herbicida inibidor de fotossíntese, absorvido essencialmente pelas raízes, e os produtos registrados são apresentados na forma de pellets, com 10% de concentração de ingrediente ativo. Existem produtos registrados, porém não se tem observado comercialização destes nos últimos anos.
Em outros países há formulações sólidas contendo Picloram e Picloram + Aminopiralide utilizadas em aplicação no solo.
A indústria de defensivos trabalha continuamente no desenvolvimento de novas moléculas e novos produtos com as atuais moléculas, propondo novas alternativas para problemas atualmente sem solução. O pecuarista brasileiro está em crescente, e necessária, adoção de tecnologias, e entre elas o controle de plantas daninhas. Esperam-se frequentes e próximos lançamentos nessa área, não só de produtos herbicidas, mas também, e até arrisco afirmar que, predominantemente, no diagnóstico digital das infestações, utilizando aeronaves, drones, satélites e VANTs (veículos aéreos não tripulados), e no avanço da tecnologia de aplicação por drones, tornando muito mais dinâmico esse mercado com a introdução de novas soluções tecnológicas.
Até breve.