Além da ministra, Alexandre Mendonça de Barros, Rafael Ribeiro, Hyberville Neto, Lygia Pimentel, Fabiano Tito Rosa e Ivan Wedekin, também participaram do evento.
A economia, o mercado do boi e de insumos, a gestão de crise e as políticas agrícolas, foram abordados pelos palestrantes de uma forma diferente, apresentando as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para cada uma dessas áreas, de forma simples e direta. Veja:
“Me lembro de 2007, quando aceitei ser Secretária da Agricultura e Desenvolvimento Agrário/Turismo de Mato Grosso do Sul. Um grande desafio que, logo em seguida, me fez lidar com o problema de surto de aftosa forte na região, que, na época fecharia o Brasil. Momento de extremo aprendizado, resiliência e paciência. Após superado, aprendi que nas crises e desafios é que crescemos e nos reinventamos, fazendo do limão oferecido, limonada.”
Assim abriu sua apresentação a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Viçosa, Deputada Federal licenciada por Mato Grosso do Sul, ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e ex-secretária de Desenvolvimento Agrário do Mato Grosso do Sul.
Segundo a ministra, “Diariamente enfrentamos no parlamento as crises diárias, e, em minha primeira votação, vi qual era o peso da minha participação e da minha representatividade ao povo brasileiro. É necessário pensar, agir, e tomar decisões.
Se errônea, voltamos, corrigimos, mas, não a tomar é nosso maior erro. Refletir e lembrar as crises que vivemos é fundamental para entender o que passamos, como superamos e para onde podemos ir, acredito que dentro da equipe que temos, com todas as suas competências, temos feito o setor do agronegócio brasileiro manter seu posto no cenário internacional.”
A ministra destaca que os últimos anos para a pecuária brasileira, foram difíceis, com preços ruins, commodity em baixa, sem muito recursos para crédito. Hoje, novos horizontes foram abertos para trazer ao produto e ao produtor brasileiro a devida valorização.
A pecuária tem aumentado produtividade nos últimos anos, mostrando o poder e a força que o setor tem e dando aos pecuaristas oportunidades novas. “A crise atual trouxe um avanço da digitalização, da busca de sustentabilidade e, do Oiapoque ao Chuí vemos a agropecuária brasileira se saindo vencedora e ainda mais forte.”, assim encerrou sua participação no último dia do Encontro de Recriadores no dia 07/08.
“Neste período de COVID-19, o mundo passou por uma sucessão de choques. Um choque macroeconômico profundo, com uma recessão mundial e queda estimada de 5 a 6%, segundo o FMI”, destaca Alexandre Mendonça de Barros, engenheiro agrônomo, doutor em economia aplicada pela ESALQ/USP e atualmente, sócio consultor da MB Agro.
Apesar do forte impacto no consumo, Alexandre destaca que o agronegócio brasileiro teve forte impulso graças às exportações estimuladas pela depreciação do real frente ao dólar, “A perda de força da moeda brasileira fez com que a carne e os insumos brasileiros ficassem muito competitivos e a demanda interna mantida e o auxílio emergencial, impactaram profundamente os preços.”
“A atual conjuntura brasileira, com a queda forte do PIB no ano, leva a uma expectativa de inflação abaixo de 2%, o que levou à redução da taxa básica de juros a 2%, menor nível na história, o que fortalece os investimentos na pecuária brasileira.” Segundo Alexandre, o cenário atual traz grandes oportunidades à pecuária e decisões que devem ser tomadas com base na situação da propriedade.
“A alta da moeda norte-americana modificou o comportamento de mercado interno dos insumos agrícolas, principalmente com relação ao milho e ao farelo de soja com os demais insumos.”, destacou Rafael Ribeiro de Lima Filho, zootecnista, mestre em administração de organizações agroindustriais e analista de mercado da Scot Consultoria.
Segundo o analista, o cenário de preços do milho para o restante de 2020 e início de 2021, deve ser de preços firmes, com o milho de segunda safra e os estoques disponíveis no mercado interno ditando o ritmo do mercado. As importações chinesas mantendo a demanda e a retomada de setores ligados ao consumo desses grãos, como o de biocombustíveis de milho, justificam essa projeção.
O farelo de soja, chama a atenção o analista, acompanhou a alta do preço na soja grão, puxada pelo câmbio e pelas exportações - principalmente para o mercado chinês - esperando manutenção de preços firmes no restante do ano com oportunidades advindas da guerra comercial entre China e EUA e o câmbio favorecendo o produto brasileiro.
Hyberville Neto, médico veterinário e mestre em administração de organizações e analista de mercado da Scot Consultoria, destacou o impacto da PSA na pecuária brasileira, “A peste suína africana continua afetando a produção chinesa e ditando o ritmo das exportações brasileiras, impactando o mercado brasileiro de proteínas de origem animal e afetando positivamente o mercado do boi gordo.”
Além da situação presente no continente asiático, o final da safra, a pouca disponibilidade de boiadas, a fraca atratividade do confinamento e uma maior retenção de fêmeas resultaram em aumento do preço do boi gordo em 44% nos últimos 12 meses.
A grande questão no atual cenário do boi gordo, segundo Hyberville, reside no mercado doméstico. A expectativa para o PIB brasileiro, ao início do ano, era de alta de 2,3% e hoje a projeção em meio a pandemia projeta queda de 5 a 6 %. Com as exportações firmes, e quebrando recorde, saber como o mercado interno reagirá é o grande desafio para o futuro.
Lygia Pimentel, médica veterinária, autora do livro “Administre o risco de preços pecuários: um guia prático para o hedge de sucesso” e diretora executiva da Agrifatto, destaca que, nos últimos anos a pecuária brasileira sofreu com a alta volatilidade, com aumento nos riscos desde a última década. “Segundo um levantamento, 42% dos produtores mostraram que o grande problema e reclamação é do preço pago pelo produto, porém, mais da metade dos entrevistados não conheciam seus custos de produção e não tinham algum tipo de estratégia de defesa de preço.”
O mercado de hedge está aí para o pequeno, médio e grande produtor, existem diferentes ferramentas disponíveis: contratos futuros, opções, mercado a termo ou CPRs. Como escolher a melhor estratégia para o seu negócio? Lygia destaca que “O principal ponto é o planejamento, com base em uma análise da empresa e seus elementos de risco. Uma análise de mercado, de maneira nua e crua e, principalmente, entender o perfil do investidor: arrojado ou conservador?”
Entender e dominar as ferramentas de hedge são os principais desafios para o pecuarista, porém, sua utilização é uma estratégia que pode estabelecer o sucesso ou insucesso de uma propriedade.
Fabiano Tito Rosa, zootecnista pela UNESP/Jaboticabal, mestre em engenharia de produção, com especialização em gestão de sistemas agroindustriais pela UFSCAR e diretor de compra de gado da Minerva Foods, trouxe a visão da indústria frigorífica, com pontos fortes e oportunidades do setor.
“Possuímos um rebanho e condições naturais que favorecem a produção de boi, produto que representa 80% do custo das indústrias frigoríficas, e a incorporação de tecnologia pelos produtores também merece destaque no aumento da produtividade e qualidade do produto, favorecendo nossa participação em mercados de maior exigência.”
Um dos principais pontos fracos na avaliação de Fabiano é a sazonalidade de oferta e de qualidade na participação das indústrias, além da intensiva necessidade de mão-de-obra e a imagem errônea do setor transmitida a boa parte da população.
Crises, entraves de sustentabilidade e volatilidade de preços são os principais riscos que as indústrias têm enfrentado do ponto de vista do Fabiano e, para superá-las, abraçar as oportunidades que estão na porta das indústrias brasileiras é essencial, como o déficit de proteína no mercado chinês, importante player no mercado da commodity, explorar as dificuldades dos concorrentes de outros países e a liderança do país na produção sustentável.
“A segurança alimentar trouxe a necessidade de criação de políticas agrícolas, principalmente após a crise de 1929. E, tem como pilares, a macroeconomia, inserção externa, a acessibilidade a crédito, o apoio a preços e a gestão de risco.”
Ivan Wedekin, engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP e diretor da Wedekin Consultores, destaca que o crescimento da demanda por proteína brasileira se tornou uma grande oportunidade ao país e que a principal fraqueza agora é a estagnação do crescimento da produção de carne bovina nacional, estagnada na casa de 0,9% a.a. nos últimos dez anos, sendo essa a razão principal da mais longa fase de alta do ciclo da pecuária brasileira, de 2006 até 2020.
Para Ivan é necessária uma postura estratégica do setor, considerando todas as fraquezas e oportunidades que vivemos agora e, cabe ao produtor, sua equipe ou às indústrias inseridas no meio tomarem as decisões cabíveis para o avanço e crescimento.