Em 13 de agosto, o Encontro de Confinamento da Scot Consultoria teve como tema o alto desempenho na produção pecuária.
Os palestrantes deste dia abordaram a importância de entender cada etapa (manejo, nutrição e sanidade) e como elas podem influenciar o resultado da operação do confinamento.“
Veja um resumo do que Fernanda Macitelli Benez, Paulo Henrique Jorge da Cunha, Flávio Portela, Anderson Alex Panzera e Pedro Parente, abordaram no evento:
Fernanda Macitelli, pecuarista e professora na UFMT no curso de Medicina Veterinária é zootecnista, mestre em nutrição de ruminantes e doutora em Comportamento e Bem-estar Animal pela UNESP abriu sua apresentação perguntando aos pecuaristas:
“Quais os fatores afetam o desempenho dos bovinos? Tenho certeza de que vocês apontarão estes cinco: mão de obra/manejo, nutrição, saúde, genética e ambiente. Se foram esses os fatores, já posso adiantar que estão automaticamente preocupados com o bem-estar animal (BEA) em sua fazenda. O BEA é o estado do corpo de um animal, todas as vezes que tem que se adaptar a um ambiente, bom, ruim, pobre, rico e, pode ser medido e avaliado.”
Fernanda destacou cinco princípios que devem estar em equilíbrio: nutrição, saúde, conforto/ambiente, expressão do comportamento e estados mentais. “Estes princípios se encaixam à Lei de Liebig, do barril dos mínimos nutrientes, onde, de nada nos adianta termos quatro desses itens em perfeita harmonia enquanto um, deficiente, está permitindo o extravasamento do conteúdo.”
Fernanda mostrou que “Se há desequilíbrio, este trará efeitos relacionados ao estresse, que levará a alterações hormonais e comportamentais, resultando em perda de parâmetros produtivos e reprodutivos no seu plantel.” E, pensar em bem-estar animal, é pensar no bem-estar deste corpo e, a maior métrica que pode ser observada é o próprio animal.
Paulo Henrique Jorge da Cunha, professor na área de saúde e clínica de bovinos e orientador no programa de pós-graduação em Ciência Animal da EVZ/UFG é médico veterinário, mestre em Ciência Animal pela EVZ/UFG, doutor na área de clínica de animais de produção pela UNESP/FMVZ de Botucatu.
Em sua palestra, Paulo Henrique destacou: “Estudos indicam que 90% dos custos do confinamento estão relacionados à nutrição e reposição, enquanto menos de 1% está relacionado à sanidade, o que é um erro enorme.”
Índices sanitários, associados a mortalidade e morbidade, são fundamentais para conhecer os verdadeiros custos sanitários. “Bovinos com doenças respiratórias em nível subclínico reduzem à metade o ganho de peso comparado a bovinos saudáveis, e podem elevar os custos indiretos em R$130,00/bovino confinado”, citou o palestrante.
É importante classificar os bovinos confinado através de medidas factíveis ao produtor, para garantir melhores resultados. “Há um decréscimo linear do ganho de peso quando analisamos bovinos em diferentes categorias: saudável, em condição subclínica e em condição clínica. Enquanto bovinos saudáveis trouxeram retorno financeiro de U$200,00, bovinos tratados apenas uma vez tiveram retorno de US$118,00. “
Paulo evidenciou que considerar custos de sanidade apenas gastos com vacinas e medicações convencionais, que compõe aquele 1% inicial é um erro e, conhecer os bovinos da propriedade e seus estados, principalmente aqueles subclínicos, que disseminam a doença sem que percebamos, é fundamental para um bom desempenho do confinamento e para menores custos com sanidade.
Segundo Flávio Portela, professor titular da Esalq/USP, engenheiro agrônomo, mestre em Nutrição Animal e Pastagens pela USP e doutor em Animal Science pela University of Arizona destacou:
“A produção de etanol de milho deve ter um aumento de 15 bilhões de litros até a safra 2029/30, um incremento de 5,4 milhões de toneladas de coprodutos que seriam suficientes para alimentar ao redor de 90 milhões de bovinos suplementados na seca ou, se usados como suplementos proteico-energético, 22,50 milhões de bovinos.”
O professor destacou os diferentes coprodutos obtidos da produção de etanol de milho, o grão destilado seco com/sem solúveis (DDG/DDGS) e o grão destilado úmido com/sem solúvel (WDG/WDGS) e os passos para obtenção do insumo.
Portela destacou que os valores energéticos desses coprodutos estão subestimados e mostrou como a presença do insumo, seja ele seco (DDG) ou úmido (WDG) com a adição ou sem a adição de solúveis (DDGS/WDGS) tem mostrado resultados positivos, melhorando a conversão alimentar e reduzindo custos de produção.
Anderson Alex Panzera, zootecnista pela Universidade Estadual de Santa Catarina, mestre em Produção e Nutrição de Ruminantes pela UFV e coordenador de nutrição no Grupo Mantiqueira destacou:
“A produção de volumoso para a quantidade de bovinos que temos, é de 99 toneladas de milho e, buscando um equilíbrio entre a agricultura e a manutenção do nosso abate, começamos a trabalhar com dietas totais. Há um desafio nutricional com a dieta total ligado a riscos metabólicos e, por isso, realizamos um planejamento e uma atividade experimental para saber a viabilidade econômica.”
Anderson destacou os melhores resultados financeiros com bovinos que receberam, durante 60 dias de cocho, a dieta total, melhorando a eficiência biológica, o lucro e a rentabilidade mensal.
“A partir disso, analisamos os custos operacionais e possíveis ganhos e, mais uma vez, o uso da dieta total nos surpreendeu, pois o custo, com ela, caiu. Caiu em quase R$1,5 milhão e permitiu a redução em 40% da área de cultivo de milho para silagem.
A dieta total, segundo Anderson, promoveu também a diminuição no consumo de matéria natural no confinamento, de 17 kg para 12,5 kg/cabeça/dia, permitindo uma otimização de tempo e maquinário relacionado às práticas de manejo diárias.
“Me sinto muito satisfeito em estar aqui, principalmente por ter relação a essas múltiplas crises que vivenciei. Em 2001, durante a crise de abastecimento de energia, quando corremos o risco de ter um corte compulsório de eletricidade, me lembro da complexidade do problema.”
Foi assim que Pedro Parente - Presidente do Conselho da BRF, iniciou sua palestra de encerramento. Pedro tem formação em engenharia elétrica. Em seu currículo no setor privado estão um período como consultor do Fundo Monetário Internacional – FMI; vice-presidente do Grupo RBS e presidente da Bunge Brasil. Já no setor público, sua última atuação foi como presidente da Petrobras.
“A maior lição foi que, mesmo que o risco seja pequeno, não se pode desconsiderá-lo. À época o risco de racionamento era da ordem de 5% e nunca deixamos de fazer a pergunta: e se cairmos neste 5%? A falta dessa pergunta é crítica, pois não considera o tamanho do problema”, destacou o palestrante.
Pedro destacou ainda que “À época, isso representava um corte de quatro a oito horas de corte, durante o dia, no fornecimento elétrico! Imagine como seria em grandes cidades? Foi essencial buscarmos metas de ajustes voluntários para promover uma redução expressiva no consumo, sem tomar essa medida drástica.”
“A coordenação é essencial, ter todos os setores reunidos e, ter poder terminativo, sem necessidade da aprovação de outros setores, torna a decisão rápida e autônoma. Transparência e comunicação, neste processo, também foi fundamental, com uma unidade de pensamento dentro do governo, além de uma boa administração dos recursos.”
Finalizando sua palestra, Pedro afirmou que “A elaboração de metas individuais para cada residência e empresa, fez partirmos de uma redução indiscriminada, para uma redução desdobrada por residência, por exemplo, sendo um dos nossos pontos chave naquele momento. Essas foram lições que aprendi e, em especial: Mesmo que o risco seja mínimo, se a consequência for grande, não devemos desconsiderá-lo.