Em 16 de novembro a cotação do boi gordo em São Paulo, praça referência, chegou em R$290,00/@, preço bruto e à vista, ou seja, uma alta de 57,5% em doze meses.
Essa valorização, no entanto, não foi na mesma velocidade da alavancada dos preços dos insumos, que passaram uma boa parte do primeiro semestre em patamares atrativos para o agricultor, mas não para o confinador.
Com as cotações do boi magro subindo mais que as do boi gordo no primeiro semestre e sem ajuda dos insumos ou mercado futuro, não houve estímulo ao confinamento. Com pouco estímulo ao confinamento, a oferta de gado, que no primeiro semestre teve menos fêmeas no gancho, no segundo semestre viu uma oferta de gado confinado modesta. Isso, somado às exportações em bom ritmo, colaborou com as altas fortes.
De julho até meados de novembro a cotação do boi gordo subiu 31,6% (figura 1), na praça paulista.
Figura 1. Preços médios mensais da arroba do boi gordo de janeiro até a segunda quinzena de novembro, em São Paulo em R$/@.
Fonte: Scot Consultoria
O otimismo foi contido pelo aumento forte dos preços dos insumos no decorrer do segundo semestre, com altas de 58,7% para o milho em grão e de 65,3% para o farelo de soja, além do boi magro, que subiu 25%, considerando o animal anelorado.
Se analisarmos a série histórica, a valorização da cotação do boi gordo deste ano, apesar da magnitude incomum, segue a tendência de sazonalidade dos anos anteriores (figura 2).
Figura 2. Sazonalidade dos preços da arroba do boi gordo, deflacionados, de janeiro de 1995 a dezembro de 2019 (jan=base 100).
Fonte: Scot Consultoria
O pecuarista no início de novembro que travasse uma venda futura com alguma indústria frigorífica para dezembro, poderia garantir o preço da arroba acima de R$290,00, como no dia 5/11, onde o preço futuro da B3, no fechamento do dia, estava em R$295,00/@. Hoje, o mesmo contrato, encontra-se em R$273,00/@, ou seja, uma queda de 7,4% ou R$22,0/@.
Caso o produtor travasse o preço no mercado futuro para dezembro em R$295,00/@, um animal pronto para o abate, com 20@ de peso de carcaça, seria vendido por R$5,90 mil reais.
Hoje, o mesmo animal seria vendido em dezembro por R$5,46 mil reais, uma diferença de R$440,00 por animal. No caso do confinador que tenha 1.000 animais para a venda, a diminuição no ganho giraria em R$440 mil.
De novembro a maio do ano que vem, são esperados ajustes, apesar da oferta de boiadas não melhorar da noite para o dia (figura 3).
Figura 3. Diferença do preço da arroba de novembro a maio desde 2004.
Fonte: B3/elaborado pela Scot Consultoria
Apesar de não existir um padrão, a possível queda esperada de novembro a maio, utilizando como parâmetro contratos futuros, pode ser que, caso ocorra esse recuo, não seja tão expressiva como em outros anos.
Com contrato futuro para maio em R$256,50/@, uma queda de 8,3% em relação ao preço médio da cotação de novembro, pode ser um bom indicativo de que travar os preços não seja uma má opção.
Com a recente suspensão das compras, principalmente pelos frigoríficos de grande porte, estabeleceu-se uma menor demanda por gado, concentrando as ofertas somente nas mãos dos compradores de menor porte.
Além do mais, esse movimento “pesca” os produtores que reagem por impulso, onde logo após alguns ajustes negativos, aumentam a oferta, reflexo do “medo” de quedas maiores para a frente.
Em suma, vender na alta é sempre a melhor estratégia para os cuidadosos; já a espera do ápice de preços das cotações tem as suas vantagens e desvantagens: caso consiga atingi-lo, ponto para o pecuarista, caso não, ponto para a indústria.
A oferta está restrita, sendo o fator que está segurando maiores ajustes negativos.
O primeiro soco foi dado, isso é fato, a questão agora é saber se virá outro, caso venha, aprender a se defender é a melhor solução.