Os objetivos de um programa de melhoramento genético para sistemas em pasto devem ser: selecionar vacas que tenham facilidade em pastar (elas devem ser capazes de caminhar e pastar) para converter eficientemente o pasto em grandes quantidades de leite com alto teor de sólidos, além de permanecerem sadias e com bom desempenho reprodutivo; devem ter resistência às doenças; ter rápido fluxo de liberação do leite; bom comportamento durante a ordenha; boa anatomia de úbere, tetas e pernas e ser longeva.
Considerando as proposições anteriores, podem ser levantadas algumas limitações para o aumento do ganho genético dos rebanhos leiteiros no Brasil.
No Brasil muitos programas de melhoramento genético, utilizando parâmetros de avaliação diferentes, não têm seguido as tendências do que ocorre em outros países onde mais de 80% das vacas do rebanho em produção são avaliadas por uma única base de dados, facilitando comparações e avanços rápidos, como por exemplo, na Nova Zelândia. Na Holanda, do total de 1,8 milhão de vacas em lactação, 1,6 milhão (89%) estão registradas e 1,4 milhão (78%) participam do controle leiteiro oficial (ESTEVES, 2006).
Para promover e garantir o melhoramento genético dos rebanhos leiteiros é necessário o uso da inseminação artificial na reprodução, entretanto, em 2019 apenas 4,6 milhões de doses de sêmen foram comercializadas para o rebanho leiteiro, que foram usadas para inseminar apenas 10% das vacas do rebanho leiteiro brasileiro (ASBIA, 2020). Em Minas Gerais, maior bacia leiteira do país, somente 13% dos entrevistados usavam essa técnica em 2005 (Diagnóstico da Pecuária Leiteira em Minas Gerais e no Brasil, ano 2005). Passados 14 anos, a proporção de vacas leiteiras inseminadas nesse estado se manteve praticamente na proporção, apenas 13,1% em 2019 (ASBIA, 2020). Em países de pecuária leiteira desenvolvida entre 50 e 80% das vacas do rebanho são inseminadas artificialmente.
Será que ao adquirir sêmen de um touro cujas filhas (progênie) foram avaliadas em sistemas de confinamento, aqui ou em outros países, o produtor escolherá a melhor opção se o seu sistema de exploração for em pasto? Na Nova Zelândia, vacas da raça holandesa de origem estrangeira comparadas com vacas da mesma raça de origem neozelandesa produziram 1,3% a menos de sólidos do leite, foram 70 kg mais pesadas, apresentaram escore de condição corporal inferior e falharam em conceber em uma porcentagem nove vezes maior. As novilhas neozelandesas iniciaram sua puberdade 16 dias antes com 20 kg de peso corporal a menos. As conclusões desses trabalhos foram que as linhagens estrangeiras não se adaptaram aos sistemas de pastejos da Nova Zelândia por serem muito pesadas, por produzirem muito leite com baixa concentração de sólidos, por apresentarem maior demanda alimentar, apresentarem pior condição corporal e serem menos férteis.
No Brasil o controle leiteiro é adotado em apenas um pequeno número de propriedades, onde normalmente os animais estão registrados em uma associação de criadores, mas também nem sempre. Nesse caso, a associação de criadores é que coordena e conduz o controle leiteiro. Qualquer um que sair por este país para comprar vacas com controle leiteiro terá uma dificuldade tremenda em encontrar rebanhos com tal registro, ou quando encontrar, os dados nem sempre são confiáveis.
Os programas de melhoramento genético no Brasil deveriam desenvolver um parâmetro que transformasse o mérito genético dos animais em mérito econômico, tal como o índice de avaliação animal ou “Breeding Worth” (BW) adotado na Nova Zelândia. Lá esse índice mede a habilidade esperada do animal converter PASTO em LUCRO. A base de alimento considerada é 4,5 t de matéria seca de pasto/vaca/ano. Por exemplo, de um touro com BW de 76,0 se espera que suas filhas dêem um lucro de US$ 76,00/ano a mais por lactação que a média. Esse índice bonifica os conteúdos de proteína (principalmente), gordura do leite, fertilidade e longevidade da vaca, enquanto penaliza o volume de leite e o peso corporal da vaca.
No programa de melhoramento genético da Nova Zelândia, iniciado em 1950, vacas com alto mérito genético para a produção de leite em sistemas de pastejo produziram mais sólidos no leite (20 a 40% acima da média); ingeriram mais alimento (5 a 15% a mais) e foram mais eficientes em converter alimento (pastagem) em leite (10 a 15% maior), e a produção de leite/ha foi 30% maior apesar do aumento simultâneo na taxa de lotação de 1,4 para 2,7 vacas/ha. Além dessas características, as vacas de alto mérito genético, selecionadas para a produção de leite em pasto, também foram mais leves.
No sistema de produção de leite em pasto torna-se importante selecionar vacas de menor peso corporal, o que significa menor demanda de alimentos, mas de alta eficiência em converter pasto em leite.