Introdução
A taxa de lotação representa a relação entre a quantidade de cabeças ou de peso dos bovinos em uma unidade de área, por um determinado tempo. Essa taxa é importante, pois o grau de densidade de bovinos influencia na capacidade de suporte das pastagens e no desempenho individual.
Quando a taxa de lotação está maior que a capacidade de suporte, há um super pastejo e degradação do pasto. Por outro lado, quando essa taxa é menor, ocorre o sub-pastejo e apesar dos animais terem um maior ganho de peso por cabeça, há um menor ganho por área e o excesso de forragem não consumida resulta em desperdício.
No Brasil, a taxa de lotação é medida através da relação entre o número de cabeças de bovinos por área (em hectares), ou então, considerando um peso padrão, a unidade animal (UA = 450kg).
Internacionalmente há outras medidas para definir a taxa de lotação. O livestock unit (LSU), por exemplo, é uma medida de peso animal padrão, como no caso da unidade animal. Contudo, há diferentes relações de pesos para cada categoria/espécie animal. Veja na tabela 1.
Tabela 1. Coeficientes para livestock unit, de acordo com a espécie animal, sexo e idade.
Espécie | Idade | Coeficiente livestock unit |
Bovinos | Menos de 1 ano | 0,400 |
---|---|---|
Entre 1 e 2 anos | 0,700 | |
Macho, 2 anos ou mais | 1,000 | |
Novilha, 2 anos ou mais | 0,800 | |
Vaca leiteira | 1,000 | |
Suínos | Leitão pesando menos de 20 kg | 0,027 |
Porca reprodutora com 50 kg ou mais | 0,500 | |
Outros porcos | 0,300 | |
Aves | Frango | 0,007 |
Galinha de postura | 0,014 | |
Avestruz | 0,350 | |
Outras aves | 0,030 | |
Ovelhas e cabras | 0,100 | |
Equídeos | 0,800 |
Fonte: Eurostat / Elaboração: Scot Consultoria.
A taxa de lotação também indica nível de tecnificação da produção, uma vez que é coerente pensar que para suportar uma taxa de lotação alta é necessária uma pastagem com uma alta capacidade de suporte.
Nesse contexto, Arantes et al. (2018) estimaram a taxa de lotação do Brasil e a capacidade de suporte das pastagens, utilizando dados do censo do rebanho nacional (IBGE, 2015). O resultado foi uma taxa de lotação média de 0,97 UA/ha em 2015, com estimativa da capacidade máxima de suporte de 3,6 UA/ha. Claro que para atingir essa capacidade, somente com tecnificação da produção.
Pensando nisso, fizemos projeções das taxas de lotação em alguns países, elas estão apresentadas na figura 1. As projeções foram baseadas em dados da FAO para diferentes países que são destaques para a pecuária mundial, seja na produção de carne ou leite, além da União Europeia e da média mundial.
Figura 1. Médias de taxa de lotação de pastagens de bovinos, em unidade animal por hectare1, para diferentes países em 2021.
1Para a transformação dos dados em livestock unit foi considerado um peso de 650 kg, e para cada unidade animal, um peso equivalente à 450 kg.
*Média mundial.
Fonte: adaptado de Faostat / Elaboração: Scot Consultoria.
A utilização de diferentes bases de dados resulta em divergências, seja na determinação/estimativa do número de animais, área de pastagem, ou da taxa de lotação, principalmente devido às diferenças metodológicas. Portanto, para essa comparação, utilizamos unicamente a base de dados da FAO.
A maior taxa de lotação de pastagem do mundo está na Holanda e ao considerarmos o ranking mundial proposto pela FAO, o Brasil ocupa a 23ª posição juntamente com a Alemanha.
Apesar do Brasil ser destaque entre os países contemplados na figura 1 e possuir mais que o dobro da taxa de lotação da média dos países da União Europeia, alguns países desse bloco econômico apresentam taxa de lotação maior que a do Brasil, como a Holanda com 2,67 UA/ha e a Irlanda com uma densidade de 1,91 UA/ha.
Portanto, fica evidente que a taxa de ocupação depende do universo trabalhado. No mesmo estudo citado aqui e realizado por Arantes et al. (2018), por exemplo, quando a taxa de ocupação foi por estado brasileiro, os valores variaram de 0,63 UA/ha (Nordeste) a 1,22 UA/ha (Norte).
A Holanda, detém a maior taxa mundial de lotação de pastagens. A área de pastagem holandesa é 130 vezes menor que a do Brasil (Faostat, 2019).
A produção de leite é tecnificada e exemplar. Em relação a produtividade, o país produz, em média, cerca de 8,9 mil kg leite/vaca/ano, ao passo que o Brasil apresenta uma média de 1,6 mil kg leite/vaca/ano (IFCN, 2018).
Os Estados Unidos se destacam tanto no setor de corte, quanto no de leite. O rebanho de corte tem aproximadamente 93,6 milhões de cabeças, equivalente a 43,6% do rebanho brasileiro, cujo tamanho está estimado em 214,4 milhões de cabeças (IBGE). Os EUA são os maiores produtores mundiais de carne bovina, sendo sua produção estimada em 2021 em 12,6 milhões de toneladas equivalente carcaça/ano, superando a produção do Brasil em 21,1% (USDA, 2021).
No setor leiteiro, os Estados Unidos são os maiores produtores com aproximadamente 95 bilhões de litros e com uma produtividade superior a 10 mil litros/vaca/ano. O rebanho leiteiro dos EUA, em 2018, era menor que 10 milhões de vacas (FAO, 2018). Portanto, a grande produção de leite se deve à alta produtividade, diferentemente da Índia que abordaremos a seguir.
Segundo o USDA (2021), considerando o rebanho bovino para produção de carne e leite, a Índia possui 30,52% do rebanho mundial, ou 305,5 milhões de cabeças. Ao considerarmos apenas o rebanho leiteiro, a Índia detinha o maior rebanho leiteiro mundial com 52,8 milhões de vacas em 2018 e a segunda maior produção mundial de leite, com um volume de 88 bilhões de litros. Apesar disso, a média da produtividade por vaca foi menor que a brasileira, com uma diferença de 200 litros/vaca/ano (FAO, 2018).
A Austrália, apesar de ter apresentado uma densidade animal 10 vezes menor que as pastagens do Brasil (Faostat, 2019), se destaca na produção de carne bovina. Seu rebanho é de 23,2 milhões de cabeças, equivalente a 10,8% do rebanho do Brasil, e a produção é de 2 milhões de toneladas equivalente carcaça/ano, aproximadamente 19,8% da produção brasileira. Cerca de 2/3 do sistema de produção na Austrália está baseada em pasto com inclusão de grãos na fase de terminação. O país sofre com problemas climáticos, principalmente na região Sul, que é mais sensível a seca, o que aumenta os desafios da produção (MLA, 2017).
A Argentina é outro país que merece destaque. Seu rebanho de 53,8 milhões de cabeças e representa 25,1% do rebanho do Brasil, e a produção de 3,1 milhões de toneladas equivalente carcaça/ano equivale à 29,8% da produção.
Apesar da taxa de lotação ser um dos indicadores de tecnificação, ela não deve ser analisada isoladamente. Outros atributos como taxa de desfrute, precocidade, peso de carcaça, e parâmetros ligados à reprodução e ao sistema de produção, além da produção e manejo das pastagens, também refletem a tecnificação do sistema. Um exemplo disso, é que parâmetros que expressam giro de lotes mais rápido e que resulta em maior produtividade, não é captada na taxa de lotação.
Apesar do Brasil apresentar uma alta taxa de lotação em relação a outros países de destaque e bastante acima da média mundial, ainda há um grande potencial para aumentar a produtividade por meio da tecnificação e da intensificação da produção.
Referências
Arantes, A. E., Couto, V. R. D. M., Sano, E. E., Ferreira, L. G. Livestock intensification potential in Brazil based on agricultural census and satellite data analysis. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.53, n.9, 1053-1060, 2018.
Comparação de pastagem de gado. Disponível em: Wikiqick. Acesso em: 5 de julho de 2021.
Eurostat. Disponível em: Eurostat. Acesso em: 6 de julho de 2021.
Food and Agriculture Organization (FAO). Disponível em: FAOSTAT. Acesso em: 6 de julho de 2021.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: IBGE. Acesso em: 6 de julho de 2021.
International Farm Comparison Network (IFCN). Disponível em: IFCN. Acesso em: 7 de julho de 2021.
Meat and Livestock Australia (MLA). Disponível em: MLA. Acesso em: 7 de julho de 2021.
United States Department of Agriculture (USDA). Disponível em: USDA. Acesso em: 6 de julho de 2021.