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Carta Leite - A venda de bezerros para corte e descarte de vacas para abate e seu impacto na rentabilidade da atividade

por Sophia Honigmann
Segunda-feira, 30 de agosto de 2021 -11h00


Os altos custos de produção da pecuária leiteira têm pressionado as margens da atividade, principalmente no que diz respeito às despesas com a alimentação do rebanho (Carta Leite de maio/21).


Essa situação foi agravada pela seca, que diminuiu a oferta de pastagens e aumentou a necessidade de suplementação do rebanho.


Neste cenário, a produção brasileira de leite cru (matéria-prima) registrou quedas expressivas. De acordo com o Índice de Captação de Leite da Scot Consultoria, na média nacional, o volume captado em junho/21 foi 2,5% menor que em maio/21, o menor volume registrado desde julho de 2013. Em julho/21, o volume foi 2,8% menor em relação ao mesmo mês de 2020.


Confirmando esse quadro, a Pesquisa Trimestral do Leite (IBGE) revelou que no 2o trimestre deste ano a captação de leite caiu 11,5% frente ao trimestre anterior e 1,2% frente ao 2o trimestre de 2020.


Em virtude disso, o preço do leite pago ao produtor (média nacional ponderada) subiu 12,8% nos últimos quatro pagamentos e, na comparação anual, o preço pago em julho (último pagamento) foi 37,2% maior este ano.


Margens apertadas


Apesar desses aumentos, os produtores de leite enfrentam dificuldades para manter a rentabilidade do negócio, diante da elevação dos custos dos alimentos, fertilizantes e medicamentos veterinários, entre outros itens, além da dificuldade para a compra de alguns insumos.


Dessa forma, os investimentos na atividade têm diminuído, o que, atrelado às altas no mercado do boi gordo e de reposição, estimula o descarte de vacas leiteiras para abate, além da venda de bezerros, que é fundamental na composição dos resultados da pecuária de leite.


Simulação


A Scot Consultoria calcula anualmente as rentabilidades médias das atividades agropecuárias e de outras opções de investimento de capital.


Para esse cálculo são utilizados modelos econômicos que levam em consideração fatores estimados para cada negócio agropecuário (índices técnicos, localização e estrutura produtiva), conforme o nível tecnológico. Os parâmetros de referência são para propriedades em São Paulo, Minas Gerais e Paraná.


Nesse sentido, ressaltamos que os resultados apresentados podem ter significativa variação, conforme alteração dos índices produtivos.


A rentabilidade média da atividade de alta tecnologia (25 mil litros/ha/ano) em 2020 foi de 1,99%, segundo a Scot Consultoria.


Para os sistemas com produtividade média de 4,5 mil litros/ha/ano (baixa tecnologia) a rentabilidade foi negativa em 6,14%. Este foi o nono ano consecutivo de rentabilidade negativa.


A partir disso, a Scot Consultoria estimou qual o impacto da venda de bezerros na produção leiteira em 2021, comparando um cenário com a venda de animais e outro sem.


Para isso, utilizamos estimativas de custos para uma propriedade com atividade leiteira de média a alta tecnologia, com produção de cerca de 1.400 litros/dia (25 mil litros/ha/ano), localizada no estado de São Paulo.


Para 2021, considerando os preços do leite pago ao produtor e os custos de produção médios no primeiro semestre, a rentabilidade média dos sistemas de alta tecnologia está estimada em 0,99%.


Esses resultados consideram, além da venda do leite, o descarte de vacas para o abate e a comercialização de animais menos erados, que nos modelos representaram 8,5% da receita total da atividade.


Se excluirmos o faturamento com a venda dos animais, o resultado estimado é de rentabilidade negativa de 3,6%. Ou seja, o descarte de vacas para abate e a comercialização de animais mais jovens são fundamentais para a saúde financeira da produção leiteira.         


Com os custos de produção em patamares elevados, cabe ao produtor priorizar a gestão financeira da propriedade, bem como o planejamento da atividade, com relação à compra de insumos, por exemplo.


Outro ponto importante é o uso de tecnologia e aumento da produtividade e qualidade do leite. É notável que os produtores que vêm investindo em produções tecnificadas têm tido melhores resultados, pois as bonificações obtidas pela qualidade e volume produzido de leite garantem uma melhor rentabilidade e, com isso, investimentos e a sobrevivência na atividade.