Por Jeff Simmons, presidente e CEO da Elanco Animal Health, líder global em saúde animal, empresa dedicada a saúde animal, humana e do planeta.
Texto originalmente publicado na revista norte-americana “Fortune”, em 16 de novembro 2021.
Tradução de Rodolfo Silber.
Com o desdobramento da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), a conversa mudou para onde a pecuária tem se concentrado por anos: o combate ao metano. Mas, à medida que colocamos metano na mira climática, devemos garantir que estamos trazendo as vozes certas para a mesa com o intuito de identificar as melhores soluções.
O Global Methane Pledge do presidente dos EUA, Joe Biden, agora assinado por mais de 100 países, é uma oportunidade perfeita para incluir os agricultores em conversas sobre regulamentação. Os agricultores trazem uma visão crítica para o processo de solução de problemas. Sua experiência e contribuição nos ajudarão implementar soluções climáticas urgentes enquanto continuamos alimentando o mundo.
Reduzir as emissões de metano da pecuária em apenas um terço pode diminuir a taxa geral de aquecimento, criando um efeito de resfriamento enquanto o mundo ganha mais tempo para lidar com os impactos mais complexos e de longo prazo do CO2. Sem agricultores, pecuaristas e proprietários de terras à mesa nas conversas sobre mudança climática, não podemos apresentar soluções viáveis.
Este ano, em uma pesquisa da Elanco com mais de mil participantes, descobriu-se que duas em cada cinco pessoas que evitam consumir carne acreditam que a pecuária é a maior causadora de gases de efeito estufa (GEE) nos Estados Unidos, contribuindo mais do que qualquer outra indústria - mas isso está errado.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas afirma que a pecuária gera 4% das emissões de GEE dos EUA, enquanto outras indústrias singulares podem representar até 75%. O que muitos não percebem é que a pecuária já tem um histórico de redução de sua pegada ambiental.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), as intensidades médias globais de emissão de GEE para carne bovina, leite, frango, ovos e carne de porco caíram entre 30% e 60%, de 1961 a 2017.
Precisamos de uma regulamentação, guiada pela ciência, que considere os agropecuaristas. A indústria pecuária já está preparada para introduzir mudanças contínuas e maiores, na busca por maior produtividade e respeitando o meio ambiente. Alimentar o mundo e resfriar o clima são questões interligadas.
Em 2020, mais de 30% da população global não tinha acesso a alimentação adequada durante todo o ano. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 921 milhões de pessoas nos países mais pobres do mundo sofrem de insegurança alimentar - um aumento de 160 milhões desde o início da pandemia causada pelo covid-19. As nações industrializadas, que anteriormente se comprometeram a mudar isso por meio de apoio financeiro às economias emergentes e ajuda em investimentos que colaborem com as mudanças necessárias, estão perdendo seus objetivos, um importante ponto de discórdia durante a COP26.
A demanda por proteína deve ser atendida de forma sustentável para evitar pressão adicional sobre o meio ambiente. Devemos aproveitar a oportunidade para alcançar uma produção de carne neutra para o clima por meio da inovação na pecuária, não às custas da segurança alimentar global.
Juntos, agricultores, pecuaristas e proprietários de terras, estão se concentrando em quatro áreas nos esforços contra a mudança climática e a fome no mundo:
- Implementar sistemas de medição para integrar a sustentabilidade às operações diárias e às decisões de negócios.
- Incentivar a inovação e a descoberta de novas tecnologias, como captura e conversão de metano.
- Criar um mercado e uma oportunidade para os agricultores se beneficiarem economicamente de práticas comerciais sustentáveis.
- Comunicação com agricultores, pecuaristas e proprietários de terras para ajudá-los a compreender que a neutralidade climática é possível e que a colaboração da indústria é uma necessidade para atingir esses objetivos.
Devemos ouvir os que administram a terra. Nutrição, clima e sustentabilidade econômica são desafios globais urgentes e interconectados, e os animais podem e serão uma parte crítica da solução. É hora de uma verdadeira abordagem “da fazenda para a mesa”, onde os especialistas em agricultura animal podem trazer seus conhecimentos para essas conversas globais, para que possamos colaborar com sucesso para fazer a diferença.
O Brasil tem um grande potencial para a produção de alimentos de forma sustentável. Os sistemas de integração, sucessão de culturas e plantio direto, que estão sendo amplamente difundidos entre os produtores, são técnicas desenvolvidas por meio de pesquisas em ciência e tecnologia que colaboram para uma produção que minimiza os impactos ambientais.
Através da produção sustentável, teremos o que mostrar ao mundo e poderemos conquistar mercados que estão empenhados em fazer a diferença.
Matéria disponível em: COP26’s focus on methane is right—but don’t scapegoat animal agriculture on the altar of climate change