Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 20/12/2021
A inflação subiu em 2021. As projeções do Banco Central, divulgadas através do Boletim Focus, são de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para inflação no Brasil, fechará 2021 em torno de 10,05%.
Esse fato se deve, principalmente, a um ano marcado pela cotação firme do dólar frente ao real e por adversidades climáticas que afetaram negativamente a produção de energia e elevaram os custos de produção dos alimentos.
O cenário de inflação e elevação de preços dos alimentos afeta de maneira mais cruel a população de baixa renda.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mede a variação de preços da cesta de produtos e serviços consumida pela população.
Diferentemente do IPCA, o INPC verifica a variação do custo de vida de famílias com renda mensal entre 1 e 5 salários mínimos, ou seja, da população mais sensível às variações de preços dos alimentos, ao passo que o IPCA engloba uma maior parcela da população, com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos.
De acordo com o INPC, entre janeiro e novembro, os preços dos alimentos em domicílio subiram 7,19%.
Dentre os alimentos que mais subiram estão as proteínas de origem animal. Até novembro/21, na variação nacional, o frango inteiro, por exemplo, subira 20,16% e as carnes (fígado, carne de porco, carne de carneiro, cupim, contrafilé, filé mignon, coxão mole, alcatra, patinho, lagarto redondo, lagarto comum, músculo, pá, acém, peito, capa de filé, costela, picanha) somaram alta de 6,45%.
Se a variação do salário de um ano para outro for menor que o IPCA, o poder de compra é prejudicado.
De 2020 para 2021 o salário mínimo subiu 5,3%, insuficiente para fazer frente aos aumentos dos alimentos.
Com as festas de final de ano e a realização de confraternizações, ceia entre familiares, recebimento de bonificações e empregos temporários, a demanda por proteína animal tende a aumentar. Entretanto, com um poder de compra pressionado, as vendas podem não ser tão boas como em anos anteriores.
Os preços das carnes historicamente sobem nos finais de ano e, com o poder de compra afetado, o escoamento poderá ser menor que a expectativa.
Considerando o preço no varejo dos cortes com demanda relativamente maior para as confraternizações de final de ano pelas famílias que possuem renda entre 1 e 5 salários mínimos, as proteínas pesarão no bolso da população (figura 1).
Figura 1. Poder de compra de um salário mínimo, em kg, para as carnes bovina, suína e de aves, no mês de dezembro dos últimos cinco anos.
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Scot Consultoria / Elaboração: Scot Consultoria
*dados parciais de preços da carne no varejo em dezembro até 16/12/21.
Nos últimos cinco anos, o poder de compra do brasileiro, no final de ano, para as proteínas de bovinos, suínos e aves caíram 20,29%, 5,68% e 27,47%, respectivamente. Em quilogramas, nos últimos cinco anos, a perda na compra foi de 5,41kg para o miolo da alcatra, 3,36kg para o pernil suíno com osso e 32,04kg para o frango inteiro.
A inclusão da proteína animal no cardápio da população brasileira de baixa renda teria que ser preservada, mas um cenário de inflação elevada tende a penalizar essas famílias.
Assim, em dezembro/21, o quadro é de negócios compassados, com consumo fragilizado e saturado pela inflação, mas, por outro lado, indústrias com preços elevados em decorrência da elevação do custo de produção ao longo do ano.
Bibliografia consultada
Banco Central
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA
Scot Consultoria