Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 23/5/2022.
Na última quarta-feira, 4 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realizou o décimo aumento seguido da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.
Desde janeiro de 2021 (quando era de 2%) a taxa aumentou 6,37 vezes e passou para 12,75% na última reunião do comitê. Segundo o boletim Focus, existe a expectativa de mais um aumento de 0,5% até o final do ano, chegando a 13,25%.
Esse aumento visa conter a inflação, que acumula uma alta de 12,03% nos últimos 12 meses e que vem aumentando desde os primeiros meses da pandemia.
O aumento das taxas de juros desencoraja pessoas e empresas a procurarem crédito, consequentemente, reduzindo a demanda por produtos e serviços e contendo a inflação.
No agronegócio, o aumento da taxa de juros afeta a tomada de financiamentos e empréstimos pelos produtores. Pequenos e médios produtores são os que mais sentem essas variações nas taxas.
O crédito rural pode ser usado para:
• Crédito de custeio – cobrir despesas normais dos ciclos produtivos, da compra de insumos à colheita;
• Crédito de investimento – aplicações em bens ou serviços cujo benefício se estenda por vários períodos de produção, como a aquisição de um trator;
• Crédito de comercialização – viabilizar ao produtor rural ou às cooperativas os recursos necessários à comercialização de seus produtos;
• Crédito de industrialização – industrialização de produtos agropecuários, quando efetuada por cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural.
Para o Plano Safra 2021/22, as taxas de juros subiram comparado à safra anterior devido ao aumento das taxas de inflação e da Selic.
Tabela 1.
Taxas de juros praticadas no Plano Safra 2020/21 e 2021/22.
Fonte: MAPA / Elaborado pela Scot Consultoria.
Pequenos e médios produtores que procuram crédito através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor (Pronamp), tiveram elevações menores das taxas para não os desencorajar de continuar na atividade.
Outros acontecimentos ainda devem afetar o agronegócio brasileiro, como o aumento da taxa de juros dos EUA, que passou de 0,25% a 0,5% para 0,75% a 1% em 4 de maio, o novo lockdown que está acontecendo na China, devido aos casos crescentes de covid-19 e a incerteza quanto ao fim do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Os EUA possui o mercado financeiro mais robusto e consistente do mundo, onde se encontram os maiores investidores e as maiores empresas do planeta e, aliado à sua moeda forte, faz o Risco País ser baixíssimo. Ao elevar a taxa de juros atrai o fluxo de investimentos direcionados a outros países para lá, entre eles o Brasil, desvalorizando nossa moeda frente ao dólar.
O lockdown na China trás insegurança com relação a uma disrupção na cadeia de abastecimento, que pode aumentar ainda mais a inflação, uma vez que a China é a principal parceira comercial de mais de 180 países.
Além disso, um cessar fogo entre Rússia e Ucrânia parece ser remoto, elevando o custo de produção com o encarecimento dos insumos agrícolas.
O agronegócio brasileiro já vem sofrendo os impactos dessa conjuntura, a alta dos juros é um deles. Caso a inflação não seja contida, mais aumentos na taxa de juros virão, dificultando custeios e investimentos. Está ficando difícil para o produtor.