Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 6/6/2022.
O consumo de combustíveis aumentou com a retomada das atividades econômicas, após retração provocada pelas paralizações, em função da pandemia de covid-19.
A demanda mais intensa fez com que os estoques de combustíveis de fornecedores e/ou de consumidores diminuíssem.
A guerra russo-ucraniana veio piorar esse cenário.
Com isso, assistimos a uma disparada de preços do petróleo, cuja cotação média, em dólares, do barril, até abril (últimos dados disponíveis), subiu em média 41,9% (figura 1).
Figura 1.
Preços médios mensais, em dólares, do barril do petróleo.
Fonte: Indexmundi / Elaboração: Scot Consultoria
A Petrobras listou fatores de risco que podem afetar o abastecimento de diesel no segundo semestre.
Além do exposto, o aumento nos custos do frete, a temporada de furacões nos Estados Unidos e Caribe, que leva refinarias produtoras de diesel a suspenderem as atividades, e a situação brasileira, onde refinarias operam em capacidade máxima e podem parar para períodos de manutenção, podem agravar a oferta do combustível.
Apesar de ser autossuficiente em produção de petróleo, para suprir sua demanda de combustíveis, o Brasil ainda depende de importações e, em um caso de desabastecimento, o estoque brasileiro é capaz de atender por menos de dois meses a necessidade do produto.
Em função disso, o setor petroleiro projeta uma possível crise de abastecimento de petróleo no Brasil no segundo semestre.
A alta no petróleo, tem sido um fator de alta de preços para o diesel (figura 2). Com isso, as cotações devem seguir firmes no mercado nacional.
Figura 2.
Preço médio mensal de diesel B S10 e diesel B S500 comum para distribuição.
Fonte: ANP / Elaboração: Scot Consultoria
A depender do tipo de operação realizada e do maquinário, tratores agrícolas consomem, em média, de 15 a 20 litros de óleo diesel por hora.
Apesar do custo do óleo diesel ser responsável por uma fração menor dos custos da pecuária de corte se comparado com a agricultura, é importante sua consideração nas contas da propriedade, uma vez que refletem nos resultados do pecuarista.
Os preços firmes do boi gordo no início do ano sustentaram a relação de troca para o pecuarista frente ao diesel, mas os ajustes no preço do diesel nos últimos dois meses reduziram o poder de compra na comparação feita mês a mês, cenário intensificado em maio/22.
Em maio de 2021, uma arroba de boi gordo comprava 74,1 litros de óleo diesel S10. Em maio deste ano, uma arroba de boi gordo comprava 43,5 litros do combustível, piora de 41,3% na relação de troca. Veja na figura 3.
Figura 3.
Preço do óleo diesel S10 em R$/litro (eixo da esquerda) e relação de troca entre arroba de boi gordo e o litro do combustível (eixo da direita), em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
Para o diesel S500, em maio de 2021, com uma arroba de boi gordo comprava-se 74,8 litros do combustível, já em maio deste ano, uma arroba de boi gordo comprava 44,6 litros do combustível. Piora de 40,4% na relação de troca (figura 4).
Figura 4.
Preço do óleo diesel S500 em R$/litro (eixo da esquerda) e relação de troca entre arroba de boi gordo e o litro do combustível (eixo da direita), em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
Além da alta do custo de produção, outro ponto de alerta refere-se ao transporte de cargas e logística de produtos agropecuários. O diesel representa cerca de 35% do custo operacional do transporte, o que tem deixado o mercado apreensivo.
Nesse caso, a carência de diesel, se não sua alta de preços, frente à necessidade de importação do combustível, pode resultar em uma crise no setor de transporte.
Em suma, além do impacto na linha de produção, um desabastecimento de diesel no mercado pode refletir nos preços dos alimentos ao consumidor e, por isso, deve ser acompanhado.