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Carta Leite - Forte valorização no mercado de leite e expectativas

por Alcides Torres, Jéssica Olivier e Felipe Fabbri
Segunda-feira, 8 de agosto de 2022 -10h30


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 1/8/2022.


A cotação do leite marcou o noticiário nos últimos dias. O preço do leite UHT atingindo R$9,00 por litro no mercado varejista em algumas regiões estimulou a discussão. 


A Scot Consultoria acompanha regularmente o mercado de leite. No varejo, o preço médio do leite UHT, considerando a média paulista, subiu 54,9% em 2022, cujo preço médio está em R$7,08/litro. 


Figura 1.
Preço médio do leite UHT integral no varejo em São Paulo, em R$/L.



Fonte: Scot Consultoria 


Esse incremento no varejo, representa uma melhora na remuneração ao produtor? 


O preço do leite pago ao produtor também subiu, veja na figura 2. 


Figura 2.
Preço do leite pago ao produtor, média nacional ponderada, em R$/L.



*estimativa
Fonte: Scot Consultoria
 


Mas, apesar da melhor remuneração, o aumento de preço ao produtor foi menor que o aumento de preço ao consumidor final (figura 3). 


Figura 3.
Comportamento do preço do leite pago ao produtor, leite UHT no varejo e índice de custos de produção de leite Scot (alta tecnologia). Base 100 = janeiro/20.



Fonte: Scot Consultoria 


O incremento no preço veio associado a fortes aumentos nos custos de produção e achatamento de margens. Acompanhe, na tabela 1, a variação em doze meses dos componentes do Índice de Custos de Produção de Leite da Scot Consultoria.


Tabela 1.
Variações dos preços dos insumos utilizados no cálculo do Índice de Custos de produção de Leite Scot (alta tecnologia dos preços), em doze meses.



Fonte: Scot Consultoria 


O que elevou os preços? 


Os preços do leite têm comportamento sazonal ao longo do ano. No primeiro semestre, com o maior volume de chuvas e safra do capim em boa parte das regiões produtoras, os preços ficam pressionados com o aumento da oferta. Já o segundo semestre marca um período de queda na oferta e preços firmes. Em 2022, essa pressão praticamente foi nula, com a menor captação de leite (figura 4). Mas por quê? 


Figura 4.
Índice de captação de leite da Scot Consultoria. Base 100 = janeiro/2014.



Fonte: Scot Consultoria 


Entre 2020 e meados de 2021, com o custo de produção subindo e o consumo patinando por causa da pandemia e redução das atividades econômicas, o consumo caiu e muitos produtores acabaram migrando de atividade, reduzindo a oferta. 


Nesta mesma janela temporal, o mercado do boi gordo foi marcado por forte valorização na arroba do boi, vaca e novilha gordos, provocando o descarte de matrizes leiteiras. 


Somando a esse contexto, o clima também pesou. Pela terceira temporada consecutiva o fenômeno La Niña atuou sobre as lavouras brasileiras. E, em 2022, a quebra de produção na safra de verão não se restringiu apenas ao milho e à soja. As pastagens também foram afetadas, principalmente no Centro-Sul do país. 


A menor oferta de leite, em função do descarte de reprodutoras, associada a uma menor produção de pasto e custos de produção elevados, desestimulando o uso de tecnologia, sustentaram os preços pagos ao produtor. 


Nesse contexto de menor oferta, o controle da pandemia através da vacinação e o afrouxamento das medidas restritivas ganharam força, elevando a demanda. 


O que esperar do mercado de leite para os próximos meses? 


A expectativa é de mercado firme para os próximos meses. Se um afrouxamento nas cotações ocorrer, deverá ser entre novembro/dezembro, acompanhando a sazonalidade normal de mercado. 


Para o clima, a projeção é de mais uma temporada sob o La Niña, o que deixa incerto o comportamento das chuvas em importantes bacias leiteiras e merece atenção dos produtores. 


Os custos de produção deverão pesar relativamente menos nos próximos meses. Com um ritmo acelerado e boa produção na segunda safra 2021/22, o preço do milho atingiu o menor patamar em doze meses e assim deverá persistir até meados de novembro (entressafra no país). 


Por fim, a volta dos auxílios emergenciais devem estimular o consumo de alimentos, entre eles o leite, um produto de primeira necessidade.