A maior parte da produção de leite brasileira ocorre com os animais em sistema a pasto. Então a produção leiteira é dependente da qualidade das forragens, que, por sua vez, necessitam de boas condições climáticas para o desenvolvimento ideal.
O Brasil é um país tropical, o verão é mais chuvoso e o inverno é mais seco. Logo na época das águas há maior disponibilidade de pasto de boa qualidade e na seca diminui a quantidade do alimento, fato denominado de estacionalidade de produção.
É possível observar que há maior produção de leite nas águas, aumentando a oferta da matéria-prima (leite cru), já nas secas o oposto. Esta sazonalidade de chuvas gera uma oscilação no volume de leite captado pelo laticínio.
A relação de oferta e demanda é clara e se aplica ao mercado leiteiro: quando a oferta do produto aumenta, seus preços diminuem. Veja, na figura 1, a relação entre o volume mensal médio de chuvas no Brasil (normal climatológica) e o preço do leite pago ao produtor - média ponderada Brasil mensal deflacionada pelo IGP-DI, de 2003 a 2022.
Figura 1.
Média mensal de chuvas (eixo da esquerda), em milímetros, e preço pago ao produtor (eixo da direita), em R$/litro.
Fonte: INMET e Scot Consultoria
Note que o período das águas no Brasil ocorre de novembro a abril e, neste mesmo período, o preço pago ao produtor é menor, quando comparado aos pagamentos de maio a setembro durante o período seco.
Além da estacionalidade de produção de forragem, existe uma relação entre preço pago ao produtor, leite spot e importação de produtos lácteos, sendo mais um recurso para entender o mercado.
Historicamente, o Brasil importa mais leite do que exporta. A entrada do leite estrangeiro no mercado interno influência na oferta e, consequentemente, no preço da matéria-prima e seus derivados.
A maior parte do leite importado é através da sua forma em pó, assim suas características físico-químicas mantêm a qualidade e durabilidade do produto.
O custo e o volume importado de leite em pó apresentam influência no preço do leite no mercado interno.
O leite spot é aquele comercializado entre as indústrias. A comercialização e o preço deste produto oscilam dependendo da demanda. Portanto, essa relação pode ser considerada um bom indicador para avaliar a demanda de leite no mercado interno.
O preço do leite spot aumenta quando a demanda está mais elevada e o contrário também é verdadeiro. Logo, o preço também é um indicativo interessante daquele pago ao produtor.
A correlação é um método estatístico para expressar um relacionamento entre as variáveis, ela é dita por um valor que oscila de um negativo até um positivo.
Quando próximo a zero, as variáveis não apresentam um relacionamento claro entre elas. Já quando próximas de um (positivo ou negativo), apresentam uma forte relação. Se positivo, o comportamento é semelhante, caso negativo, é inverso.
Ao correlacionar a variação do custo por tonelada importada de leite em pó pela variação do preço do leite spot é obtido um valor de 0,91, indicando uma tendência positiva entre os valores, ou seja, essas referências possuem alta correlação entre eles.
A regressão permite interpretar essa relação de um modo mais assertivo que a correlação. Desta forma, a figura 2 explicita a relação do fator importado pelo preço do leite spot.
Figura 2.
Regressão entre a variação do preço do leite spot e a variação do custo por tonelada de leite em pó importado, de 2003 até agosto/22.
Fonte: Comex e Scot Consultoria
A figura 2, mostra a variação entre o preço do leite spot e a variação do custo por tonelada de leite em pó importado. É possível observar uma tendência de que quando a variação de um aumenta a outra também recebe um incremento.
Pela regressão é possível pressupor o preço do leite spot através do custo por tonelada importada de leite em pó. É evidente que esse indicativo se trata de uma projeção e, portanto, está sujeito a alterações, mas ele ilustra, com certa clareza, o comportamento do mercado no mês vigente.
Analisando a variação do leite pago ao produtor em relação à variação do custo por tonelada de leite em pó importado, há uma relação de 0,95. Paralelamente, temos uma relação ainda maior, de 0,98, quando comparamos a variação do leite pago ao produtor em relação a variação do leite spot.
Há uma tendência de um comportamento semelhante entre estes preços no mercado, podendo assim ser utilizado como indicadores para conjecturar preços futuros.
O comportamento dessas duas novas análises difere da figura 2.
Figura 3.
Regressão entre a variação do preço pago ao produtor e a variação do custo por tonelada de leite em pó importado, de 2003 até agosto/2022.
Fonte: Comex e Scot Consultoria.
Figura 4.
Regressão entre a variação do preço pago ao produtor e a variação de preços do leite spot, desde 2003 até agosto de 2022.
Fonte: Scot Consultoria
Nas figura 3 e 4 há uma relação de linearidade. Logo é possível que sejam interpretadas por uma equação de reta. Então ao saber a variação de uma das variáveis é possível projetar a restante.
Um comportamento interessante, observado na figura 4, é que a variação do preço pago ao produtor não acompanha a variação do preço spot, desta forma o incremento ou decréscimo do preço do leite spot será refletido no produtor, mas não com a mesma intensidade.
Levando em conta o preço do leite spot (referência: setembro/22) como variável, o leite pago ao produtor em setembro, referente à captação de agosto, será, em média, R$2,20.
Logo, se espera uma queda de 21,15% em relação ao preço pago ao produtor quando comparado ao mês de agosto.
O mercado de leite tem uma série de fatores que influenciam seu preço. As figuras mostram como os fatores se relacionam, como pluviosidade, custo por tonelada importado de leite em pó e preços ao produtor e spot.
Desta forma é evidente a importância de conhecer estes fatores para compreender o preço pago ao produtor no litro de leite. A avaliação dos dados é uma importante ferramenta para predizer os pagamentos, visto que leva em conta a oferta e a demanda.