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Mercado pecuário: a virada de ano trará boas novas?

por Pedro Gonçalves
Terça-feira, 24 de janeiro de 2023 -11h30


O emocional do brasileiro ficou marcado em 2022, principalmente no final do ano. O hexa não veio e grandes ídolos do futebol nos deixaram, entre outros acontecimentos.


Para o pecuarista, o ano também foi diferente. Na Scot Consultoria, costumamos dizer que todo ano pecuário é um ano atípico e 2022 não fugiu a essa regra.


No início do ano, com a retomada da exportação para a China, a cotação da arroba do boi gordo decolou. A bonificação, ou ágio, atingiu R$30,00/@ em relação aos bovinos destinados ao mercado interno. Boiadas para o mercado interno estavam em R$337,00/@ e, as destinadas à exportação, estavam acima de R$350,00/@, livre de impostos e a prazo.


Na figura 1, o comportamento da cotação da arroba do boi gordo em 2022.


Figura 1.
Preços para a arroba do boi gordo na praça pecuária paulista.

Fonte: Scot Consultoria


E esse caminho de alta durou até março, a partir daí o cenário mudou.


A cotação caiu, subiu em julho e sem consistência, caiu sem parar até novembro, reagindo em dezembro, mas sem força para atingir o mesmo nível do começo do ano.


Um dos fatores da perda de firmeza foi o consumo interno de carne bovina, que esteve abaixo das expectativas o ano todo, reflexo da crise econômica provocada pela pandemia, inflação e desemprego. A firmeza dos preços no varejo também contribuiu, os preços não acompanharam a queda da cotação da arroba do boi gordo.


A exportação recorde em dezembro, comparada a dezembros dos anos anteriores, foi um fator para a recuperação do último mês do ano. Recuperação que não durou.


Exportação - será recorde?


Se no mercado interno o consumo patinou e esteve baixo, o consumo externo foi recorde, tanto em faturamento como em volume.


Figura 2.
Volume, em toneladas, e faturamento, em bilhões de dólares, da exportação de carne bovina in natura.

Fonte: Secex / Elaborado por Scot Consultoria


O mercado chinês respondeu por 62,0% do volume com a exportação de carne bovina in natura.


Neste início de ano, a impressão é que o apetite do dragão não cessou. Nos primeiros 10 dias úteis de janeiro, os embarques de carne bovina in natura foram de 7,7 mil toneladas/dia em média, alta de 18,4% em relação a janeiro de 2022.


Se esse desempenho continuar, poderemos ter mais um recorde para em janeiro, superando as 317,4 mil toneladas registradas em janeiro do ano passado.


A cotação está em US$4.868,30/tonelada, 7,0% menor em relação à média em janeiro de 2022.


Bem atrás da China, os principais importadores da carne brasileira são Egito, Estados Unidos e Chile (tabela 1). 


Tabela 1.
Destino da exportação brasileira de carne bovina in natura, em volume (toneladas) e participação no total exportado, em 2022.

Fonte: Secex / Elaboração Scot Consultoria


Expectativas


Este é o ano do coelho, segundo o calendário chinês, e os ventos parecem estar em nosso favor, estamos com o pé-de-coelho em mãos.


No final de 2022, a projeção era de retração da importação de carne bovina pelos chineses em 9,6%, porém esses números foram revistos em janeiro e a expectativa é de incremento. Um aumento de 2% em relação às compras globais feitas em 2022. O Brasil poderá ser favorecido.


Os concorrentes, como Argentina, Estados Unidos e Austrália, diferentemente do Brasil, estão retendo fêmeas e o preço nesses países deverá subir, favorecendo a opção da carne brasileira.  


No mercado interno, contudo, a expectativa é de preços pressionados em função do aumento da oferta e da perda do poder aquisitivo do consumidor.


Referências bibliográficas


Scot Consultoria


Secex, Secretaria de Comércio Exterior


USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos