Segundo a Embrapa-Bagé, recomenda-se tratamento estratégico contra carrapatos no Rio Grande do Sul neste mês.
Este ano, em especial, está ocorrendo uma menor infestação de carrapatos no gado nas regiões Oeste e Central, em especial nas áreas dos pampas, devido à extrema seca que ocorre por lá. Essa secura ajuda matar as larvas de carrapatos presentes na pastagem.
“Muitas das larvas que sobrevivem não conseguem subir no boi e nem todos os que sobem conseguem se estabelecer, mesmo assim recomendo fazer o tratamento estratégico”, afirmou o prof. Tiago Galina Correa da Univ. Federal do Pampa, em Uruguaiana RS.
O ideal é que o medicamento a ser empregado seja selecionado anteriormente pelo teste de biocarrapaticidograma feito com carrapatos de sua própria fazenda. Nunca trate a esmo, pois a resistência dos carrapatos aos principais princípios ativos é enorme em todo o Brasil!
Depois de rever agulhas, seringas, geladeira e outros equipamentos, é hora de “passar um pente fino” no curral, um dos locais estratégicos para o manejo dos bovinos.
Uma quantidade enorme de currais pelo Brasil afora tem vários problemas físicos que dificultam o manejo, entre eles áreas muito enlameadas (figura 1) ou que empoçam água. Uma das formas de evitar o acúmulo de lama é através da instalação de calhas para escoar fora do curral a água que corre no seu telhado de cobertura.
Figura 1.
Curral de manejo com água acumulada, formando áreas enlameadas.
Fonte: Enrico Ortolani
Tábuas soltas e porteiras enguiçadas são fáceis de serem encontradas nos currais brasileiros, tornando-se causas de acidentes. É hora de arrumá-las!
Faça um exame detalhado do chão da seringa (brete), pois buracos, poças d’água, pedras, obstáculos e lama excessiva fazem o bovino baixar a cabeça e empacar, dificultando muito a locomoção em grupo dos animais. Tempo é dinheiro! O ideal seria concretar o chão da seringa.
Finalmente, deve-se examinar todas as tábuas e porteiras do curral para ver se não existem parafusos e pregos salientes que possam causar arranhaduras e cortes (figura 2).
Segundo o Prof. Livio Martins Costa Júnior da Univ. Fed. do Maranhão, a frequência de bicheiras no costado do gado aumenta muito após as campanhas de vacinações anuais, oriundo de cortes por pontas de parafusos e pregos salientes no curral (figura 3).
Uma das principais causas de disseminação de verrugas, causada por vírus, a partir de um animal positivo no rebanho, é por meio desses traumas na pele (figura 4).
Figura 2.
Ponta de parafuso saliente.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 3.
Bicheira na espádua de bovino.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 4.
Verrugas em gado de corte.
Fonte: Enrico Ortolani
Esplendor dos bernes no Sudeste e no Paraná
Todo ano é assim, com aumento da temperatura e da chuvarada, existe um ataque explosivo de larvas de mosca do berne (Dermatobia hominis) nos rebanhos, principalmente das regiões Sudeste e Sul.
A cada 15 dias, faço a contagem de bernes no meu pequeno plantel, no interior de São Paulo. De dezembro de 2022 para janeiro de 2023, aumentou 60% esse ataque. Informe de colegas de campo e de pesquisadores confirmam esse aumento de infestação em outros pontos do interior de SP, no Sul e no Triângulo Mineiro, no RJ, no ES e no Norte do PR.
O grande problema encontrado no momento é a diminuição da eficiência contra os bernes de medicamentos tradicionais (doramectina, fluazuron, fipronil e até alguns organofosforados) ou total ineficácia de vários princípios ativos (ivermectina, a abamectina e a eprinomectina).
Como a larva do berne é carreada para o boi por outras moscas, recomenda-se diminuir a multiplicação dessas moscas por meio da construção de esterqueiras, limpeza em torno do curral e evitar de vez a entrada de bovinos em matas e lugares muito sombreados, onde a população de moscas é maior. Está virando um problemão em áreas infestadas!
Figura 5.
Vaca muito atacada por bernes.
Fonte: Enrico Ortolani
Mesmo em plena seca nos pampas gaúchos, as “mutucas” (Tabanus spp) se multiplicam muito quando os termômetros chegam a máxima temperatura de janeiro. O mesmo fenômeno acontece nas regiões litorâneas de SC, do PR e de SP ou no gado que é deslocado da várzea para a terra firme no Pará.
Geralmente, as moscas vivem à beira de riachos e rios, mangues e solos enxarcados e costumam voar até 2km para atacar a boiada, apenas nos dias ensolarados e com temperatura entre 22ºC e 33ºC. Só as fêmeas picam os bovinos, os cavalos e os seres humanos; a sua picada é considerada como uma das mais doloridas que existem, pois na ponta de sua boca a mosca tem um tipo de lanceta que perfura a pele para ingerir sangue (figura 6).
Figura 6.
Aparelho bucal de um tabanídeo, com destaque para a lanceta que usa para perfurar a pele.
Fonte: Enrico Ortolani
Não precisa nem dizer que o ganho de peso despenca, assim como a eficiência reprodutiva. Segundos dados levantados no RS e no PA, brincos mosquicidas, a base do inseticida diazinon e/ou fipronil, têm uma eficiência de até 90% no controle dessa praga.
Figura 7.
Colocação do brinco mosquicida.
Fonte: Enrico Ortolani
A anaplasmose, também denominada de tristeza parasitária, é uma doença causada por um tipo de bactéria (Anaplasma marginale) que é transmitida pelo carrapato, por agulhas contaminadas e por certas moscas sugadoras, como os tabanídeos, citados acima.
Na anaplasmose, a bactéria entra no sangue e provoca grave anemia, febre e grande abatimento, principalmente em bovinos jovens.
Foi descrito um surto de anaplasmose em bezerros desmamados, de vários rebanhos pampeanos, que não foram devidamente prevenidos com brincos mosquicidas, após intenso ataque de mutucas. Vários bezerros desmamados, não medicados, infelizmente, morreram.
Figura 8.
Desmamado adoentado com anaplasmose.
Fonte: Enrico Ortolani
Foram descritos dois surtos de paranfistomose em bezerros desmamados vendidos em leilão, provenientes de Itaporanga-SP, e em bovinos jovens do município de Santa Helena-PR, próximo de Foz de Iguaçu. Segundo apuramos ambas as propriedades tinham charcos, em que os bovinos acometidos tinham acesso para “pastorear”. Os animais apresentavam emagrecimento, anemia e diarreia esverdeada (figura 9).
Figura 9.
Bezerro desmamado diarreico devido à paranfistomose.
Fonte: Enrico Ortolani
O quadro é causado por parasitismo por um verme chato, Paramphistomum spp, que acomete o intestino delgado. Esse parasito já foi descrito no Acre e no Maranhão, em propriedades também com áreas enxarcadas. Antes das larvas infectarem o bovino elas necessitam penetrar e se desenvolver num determinado caramujo. Já falei dessa doença em minha coluna Radar Sanitário em novembro de 2022.
Foi descrito, pelo Prof. Kedson A. Lobo Neves, da Universidade Federal do Oeste do Pará, um surto de coccidiose, em 10 fazendas, de terra firme, da região de Santarém-PA, que atacou em média 5% da bezerrada destas propriedades, matando ao redor de 25% dos animais doentes. Os bovinos acometidos eram todos da raça Nelore com 5 a 7 meses de idade, que acompanhavam suas mães. Os animais adultos não apresentaram a doença, apenas os bezerros que eliminaram, por 5 a 6 dias, uma diarreia escura e malcheirosa, além de ficarem tristonhos e diminuírem a ingestão de leite e de capim, perderem muito peso e ficarem desidratados. Suspeita-se que os bezerros que adoeceram beberam água em poças, de água de chuva, formadas na própria pastagem, contaminadas por fezes. Coincidentemente, esse quadro não ocorreu em propriedades que ofereciam aos bezerros “creep feeding” contendo na ração o aditivo “monensina”, que atua impedindo a multiplicação do protozoário causador da doença, dentro dos intestinos. Tal forma de prevenção também foi indicada no manejo das fazendas que apresentaram coccidiose.
Figura 10.
Bezerro com coccidiose.
Fonte: prof. Welber D.Z. Lopes (Univ. Fed. Goiás)
Segundo apuramos, foram diagnosticados, nos últimos 40 dias, focos comprovados pelas Agências Estaduais de Defesa Animal de raiva bovina em rebanhos de vários estados. Vamos a eles!
RS: Jaguari e Lavras do Sul (DSA/RS)
SP: Santana do Parnaíba, Catanduva, Salesópolis e Oriente (CDA/SP)
MG: Araxá, Delfim Moreira, Ferros e Lagamar (IMA)
MT: Jangada, Nossa Senhora do Livramento e Planalto da Serra (INDEA)
PA: Ulianópolis, São Feliz do Xingú, Salvaterra, Baião e Eldorado dos Carajás (ADEPARÁ)
Recomenda-se que todos os bovinos do rebanho sejam vacinados nesses municípios citados, no mínimo uma vez ao ano.
Figura 11.
Bovino cambaleante devido à raiva transmitida por morcegos.
Fonte: Enrico Ortolani
Referências bibliográficas
Agência de Defesa Agropecuário do Estado do Pará, ADEPARÁ
Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo, CDA/SP
Defesa Sanitária Animal, DSA/RS
Instituto Mineiro de Agropecuária, IMA
Instituto de Defesa Agropecuária do Estado Mato Grosso, INDEA