Toda a abordagem que fiz nas edições anteriores sobre o estabelecimento da pastagem foi baseada em fundamentos para o plantio por meio de sementes. Entretanto nem todas as plantas forrageiras produzem sementes viáveis. Vale a máxima que qualquer forrageira pode ser cultivada por meio de mudas, mas nem todas as plantas forrageiras podem ser estabelecidas por meio de sementes.
De fato, até o início da década de 70, praticamente toda pastagem, mesmo aquela que foi estabelecida com forrageiras que produzem sementes viáveis, foi plantada por mudas, porque ainda não existiam empresas produtoras e comercializadoras de sementes de forrageiras. Mas a partir de então apenas aquelas espécies que, de fato, não produzem sementes viáveis continuaram a ser plantadas por meio de mudas.
Destaco aqui, as forrageiras das espécies Brachiaria arrecta (braquiária do brejo ou braquiária tóxica ou braquiária tanner grass), Brachiaria mutica (capim-angola ou capim-bengo), Brachiaria arrecta x Brachiaria mutica (capim-tangola ou gramão do Pará), Digitaria decumbens (capins pangola e transvala), Hemarthria altissima (capim-hermatria) e Pennisetum purpureum (capim-elefante), e as dos gêneros Cynodon sp (gramas Coastcross, Estrelas, Jiggs, Tiftons etc.) e Echinochloa sp (canaranas prostrada, a pilosa e a lisa). E ainda a espécie leguminosa Arachis pintoi cultivar Belmonte (Amendoim forrageiro).
Mas aqui o pecuarista ou o técnico pergunta - o plantio por mudas não é muito mais demorado e mais caro que a semeadura por sementes? A resposta é sim. Então o que justificaria a escolha pelo plantio por mudas e não por sementes? Vamos lá, até o final da década de 90, os cultivares de capim-elefante foram os mais semeados para o manejo sob cortes em capineiras e para a produção de silagem de gramíneas.
A partir dos anos 2000, os cultivares de portes mais altos, da espécie Panicum maximum, particularmente o capim-mombaça, têm sido os preferidos para a produção de silagem de gramíneas, com a vantagem de serem semeadas. Por isso, os cultivares de capim-elefante têm caído em desuso.
A maioria das espécies forrageiras que toleram a condição de solos com drenagem imperfeita, solos temporariamente ou permanentemente encharcados, não produzem sementes viáveis. São elas as já citadas braquiárias do brejo, o Angola, o Tangola, as Canaranas, as gramas Estrelas, o Amendoim forrageiro.
Para as produções de feno e pré-secado, de pastagens destinadas à equídeos e bovinos jovens (bezerros mamados e recém-desmamados), as melhores opções forrageiras não produzem sementes viáveis, sendo os capins Pangola, Transvala e as gramas do gênero Cynodon, por serem de porte muito baixo, apresentaremrelação folha:caule maior, produzirem caules finos, apresentarem hábito de crescimento estolonífero que proporciona maior tolerância a cortes (para fenação ou pré-secagem), pastejos intensos e frequentes (hábito dos equídeos). Estas gramas também são indicadas para terrenos com relevos ondulados porque seu hábito de crescimento possibilita maior proteção do solo contra a erosão.
Desde meados da década de 90, o capim-tifton 85 tem se apresentado, tanto na pesquisa quanto nas fazendas comerciais, como a melhor opção de forrageira para pastagens irrigadas em ambientes com maiores altitudes e latitudes (regiões mais ao Sul do Brasil).
Outra razão para o plantio desta forrageira se deve à sua alta tolerância a uma grande variedade de ingredientes de herbicidas que não são tolerados por outras forrageiras, o que o torna uma excelente alternativa para o estabelecimento e manejo de pastagens em áreas altamente infestadas por plantas infestantes de folhas estreitas tais como as espécies Digitaria insularis (capim-amargoso), Eragrostis plana (capim-annoni), Paspalum virgatum (capim-navalha), Sporobolus indicus (capim-capeta), e mesmo para áreas antes cultivadas com forrageiras que produzem sementes viáveis dos gêneros Brachiaria sp, Panicum sp etc, mas o produtor quer substitui-los.
Na próxima edição descreverei as etapas e a sequência de procedimentos para o estabelecimento da pastagem por meio de mudas - aguarde.