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Dimensionamento de benfeitorias e edificações em sistemas de produção de carne em pastagens - Parte 2

por Adilson de Paula Almeida Aguiar
Segunda-feira, 25 de setembro de 2023 -06h00


Na parte 1 desta sequência de artigos, escrevi sobre o dimensionamento dos setores da fazenda, a localização da infraestrutura central dos setores da fazenda, a modulação das pastagens, o tamanho e formato do piquete e o tipo de cerca.


Área de descanso


Também denominada área de lazer ou praça de alimentação, é uma área comum a um módulo de pastoreio na qual deve ficar disponível para os animais um espaço para: descanso, ruminação e interações sociais, além da fonte de água, de cocho para suplementos e sombreamento.


Para proporcionar conforto aos animais, recomenda-se planejar 5,0m2/Unidade Animal (UA) sem sombra. Se for prover sombreamento para os animais deve se acrescentar 3,0m2/UA em regiões de clima quente e seco, e 6,0m2/UA em regiões de clima quente e úmido.


Assim, a área total na área de descanso será de 8,0m2 e 11,0m2, respectivamente.


Fonte e dimensionamento da água


As fontes de água para os animais variam desde rios, riachos, córregos, represas, cacimbas e bebedouros ou pilhetas.


A água é o nutriente mais crítico na nutrição animal, primeiro porque compõe a maior proporção da composição corporal dos animais, segundo porque é determinante no consumo, mastigação e deglutição dos alimentos, como também a digestão e a excreção dos nutrientes.


Ruminantes precisam ingerir entre 3,5 e 5,5 litros de água para cada quilograma de matéria seca ingerida, vacas paridas precisam ingerir ainda mais 3,0 litros de água para cada litro de leite produzido. É necessário cuidado, pois a fonte de água pode ser também um veículo de transmissão de doenças infecciosas (botulismo, coccidiose ou eimeriose, fasciolose hepática etc.) e endoparasitos (verminoses).


Mesmo que seu rebanho esteja “blindado” com medicamentos e vacinas, animais que beberem água em bebedouros apresentarão maior desempenho porque não terão restrição na ingestão de água e, por isso, consomem mais forragem e mais suplemento.


Dados mostram que animais de recria que beberam água de bebedouro ganharam 105,0g a mais por dia do que os que beberam água em um açude. Vacas paridas que beberam água do bebedouro ganharam 270,0g a mais por dia e seus bezerros 140,0g a mais por dia do que as que beberam água de um córrego.


Outras vantagens dos bebedouros


É possível manter a qualidade da água por meio da limpeza do reservatório de água e dos bebedouros, ou através do uso de cal hidratada ou de peixes; posicionar o bebedouro em local de mais fácil acesso para os animais como também para facilitar o manejo do pastejo são técnicas que podem manter a melhor qualidade da água.


Para fins de planejamento e como precaução, eu recomendo que o reservatório seja construído com um volume três vezes maior que a demanda diária por água, para ter uma segurança de três dias se ocorrer algum problema no sistema de abastecimento do reservatório. Para os bebedouros, se estes são instalados em cada piquete e se os animais não têm que andar mais do que 250 metros dos cantos do piquete até o bebedouro, não é preciso se preocupar com a dimensão, mas sim com a vazão da água.


Por outro lado, se os bebedouros são instalados nas áreas de lazer ou mesmo dentro dos piquetes, e os animais têm que andar mais de 250 metros dos cantos do piquete até o bebedouro, é preciso dimensionar 5,0cm/UA na borda do bebedouro.


Dimensionamento de cochos para suplementação


Em uma planilha de custos de uma fazenda de pecuária de corte, o centro de custo “suplementação” é o primeiro (fazendas com maior escala) ou é o segundo (fazendas com menor escala) mais caro, disputando essas posições com os centros de custos “mão-de-obra” e “pastagens”.


Por isso a sua gestão tem que ser bastante eficaz. Mas o que eu ainda encontro nas fazendas comerciais? Cochos no chão (de tambores ou mesmo de madeira), ou cochos subdimensionados para o tamanho do lote de animais.


Eu já calculei para clientes que insistiam em suplementar o rebanho com cochos de tambores no chão, e mesmo se ele construísse cochos cobertos do melhor padrão possível, o custo fixo do investimento neste cocho (depreciação mais custo de oportunidade do capital) ao longo de sua vida útil, ficaria mais barato do que o custo das perdas de suplemento ao longo de um ano se estas fossem acima de apenas 5,0%.


Mas então como construir cochos para suplementação?


Antes de mais nada, é preciso posicionar o cocho próximo à fonte de água, porque se ficar a mais de 200m a 250m de distância, a frequência de ida ao cocho pelos animais é reduzida significativamente e, consequentemente, o consumo será abaixo do necessário. Idealmente essa distância deveria ser de, no máximo, 50 metros.


Quanto ao dimensionamento do cocho vai depender do tipo de suplemento e da frequência de fornecimento dele. De fato, pelo menos no meu ponto de vista, existe uma grande lacuna de experimentos avaliando os fatores que condicionariam as dimensões de cochos.


Mas, baseado em estudos de revisão bibliográfica, de algumas pesquisas, e da minha experiência e de colegas de campo, as dimensões que recomendo são as constantes no quadro abaixo (figura 1).


Figura 1. Medidas de cocho por UA de acordo com o tipo de suplemento e o acesso ao cocho, se por um ou se pelos dois lados.


Observação: para os animais terem acesso pelos 2 lados do cocho, ou seja, para que um animal fique em frente ao outro, a largura do cocho na parte superior deve ser maior que 50 cm.


É muito importante a observação diária porque muitos fatores condicionam o consumo de suplementos, tais como qualidade e quantidade da forragem disponível, qualidade e quantidade de água de bebida, condições climáticas (chuva, temperatura), presença de obstáculos para o acesso ao cocho tais como lama, pedras, tocos, paus etc.


Em um lote de animais, alguns deles que nunca vão ao cocho, ou seja, não ingerem o suplemento, principalmente suplementos de consumo limitado; a ingestão também varia para um mesmo animal, que ingere um dia e não ingere no outro dia.


Sombreamento 


Em um experimento conduzido na fazenda escola das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU) com animais nelores puros com idade inicial de 12 meses e final de 27 meses no tratamento, aqueles que tiveram acesso ao sombreamento com sombrite com provisão de 80,0% de sombreamento, o ganho de peso foi 11,0% maior e a espessura de gordura subcutânea foi 84,0% maior que o lote testemunha.


Animais nelores confinados que tiveram acesso ao sombreamento com sombrite ganharam 100g a mais por dia que o lote testemunha.


Olha, estou fazendo aqui referência a animais zebuínos, que são mais adaptados às condições de clima tropical. Agora, imagine para animais cruzados ou puros europeus.


E, estes resultados, foram alcançados com sombreamento artificial, com sombrites, mas o sombreamento mais eficaz é o provido por árvores.


Sobre o dimensionamento do sombreamento volte neste artigo no tópico “Área de descanso”. Além da metragem por UA é preciso aqui acrescentar a altura da instalação para o sombreamento e a sua direção. Quando o sombreamento é artificial (sombrite, ranchos), deve ter um pé direito acima de 3,5 metros, enquanto a direção deve ser no sentido Norte-Sul.


Todas estas dimensões citadas aqui têm fundamentalmente o objetivo de evitar o estresse provocado pela disputa destes recursos (área de descanso, cochos, bebedouros, sombreamento) entre animais que dominam e os que são dominados em um lote, proporcionando o máximo de conforto possível para que os animais desempenhem no seu máximo de acordo com o seu mérito genético e os recursos que o manejador proporciona a eles (pastagem, sanidade, suplementação).


Agora sim, a pastagem de fato está estabelecida e a forragem disponível poderá então ser colhida pelos animais por meio do pastejo. A partir daqui a equipe de campo deverá se dedicar ao manejo do pastejo, tema para os próximos artigos – aguarde.