Você que vai iniciar a estação de monta agora em outubro, já deve ter vacinado as vacas com a primeira dose contra a leptospirose, há 30 dias. Agora deve-se repetir essa vacinação um ou dois dias antes da IATF ou do início da estação de monta. Num experimento paulista verificou-se que em condições de IATF essa vacinação reduz as perdas gestacionais (abortamento e/ou mortalidade embrionária) em 6,0% em novilhas e cerca de 1,0% em vacas multíparas. A leptospirose ocorre em todo território nacional, mas é mais presente nos rebanhos do Centro-Oeste, Norte e regiões baixas e úmidas dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo.
Touros empregados na estação de monta ou usados para repasse na IATF também devem ser vacinados, pois cerca de 5,0% da transmissão dessa doença pode ser pelo touro, que cobre uma vaca positiva, tendo possibilidade de levar a bactéria do muco vaginal contaminado para vacas sadias.
A infestação de carrapatos (mais de 20 carrapatos na virilha ou barbela) é prejudicial para o ganho de peso, além de poder transmitir a tristeza parasitária, principalmente, de bovinos meio sangue zebu-taurino ou taurinos puros, e ocasionalmente também em gado Nelore. Geralmente, os chamados tratamentos estratégicos são feitos quando a população de carrapatos é bem menor, no decorrer do ano (entre julho e outubro, no Brasil Central). Assim, se seu rebanho tem risco de contrair carrapatos, trate agora e repita no final do mês de outubro os bovinos com 20 carrapatos ou mais, nos locais já comentados.
Como esses parasitas estão resistentes a maioria das diferentes bases farmacológicas de carrapaticidas, procure orientação do seu médico-veterinário de confiança ou faça o teste chamado biocarrapiticidograma, que é gratuito.
Para tal, siga as instruções e envie carrapatos adultos para a EMBRAPA Gado de Leite (MG): cnpgl.carrapato@embrapa.br e para o Instituto Desidério Finamor (RS).
Os resultados saem em até 60 dias e geralmente o carrapaticida indicado como o mais eficiente funciona tiro-e-queda.
Experiente veterinário catarinense confirmou vários focos de hipomagnesemia (baixo teor de magnésio no sangue), também chamada de tetania das pastagens, que matou algumas vacas de corte taurinas, com mais de três a quatro anos de idade em propriedades dos municípios de Correia Pinto, Lages, São Joaquim, Campo Belo do Sul e Santa Cecília, no planalto catarinense.
Porém parte das doentes foram devidamente tratadas com medicamentos à base de magnésio e reverteram o grave quadro. Todas as fazendas adotavam o sistema integração lavoura-pecuária com altas adubações de nitrogênio e de potássio em pastagens de aveia e/ou azevém. O excesso de potássio e de nitrogênio, além de outros fatores, interferem na absorção de magnésio, o qual em sua deficiência irá provocar graves quadros de tremedeiras e convulsões, que podem matar o animal (Figura 1).
No artigo de minha coluna na edição do mês de outubro da revista DBO eu explico detalhes do desencadeamento e da prevenção dessa grave enfermidade metabólica. Não perca!
Figura 1.
Vaca com hipomagnesemia.
Fonte: Enrico L. Ortolani
Veterinário de campo me relatou um surto de coccidiose que acometeu 12 bezerras da raça Nelore, num total de 40, numa propriedade mineira. Segundo o veterinário, esse surto aconteceu após uma prolongada fase de chuvas na região, que provocou o surgimento de poças d’água dentro do cercado do “creep feeding”, onde existia grande concentração de bezerros.
Tudo indica que algum animal com a doença eliminou pelas fezes oocistos (ovos) de Eimeria spp., que permaneceram ativos dentro das poças e os demais bezerros tomaram posteriormente dessa água. Os doentes começaram quase ao mesmo tempo a ter desinteria (eliminação de sangue vivo em fezes diarreicas) (figura 2), e graças à rápida intervenção medicamentosa não ocorreu morte de nenhum bezerro.
Surtos de coccidiose não são tão raros em bezerros em que se oferece o “creep feeding”, principalmente quando o cocho é baixo demais (menos de 20 cm de altura), favorecendo que a bezerrada defeque dentro do cocho. Recomenda-se, para desinfetar e matar os oocistos, que a cada dois meses seja esvaziado o cocho, raspado para retirar sujidades e passado a chamada vassoura-de-fogo! Deve-se preencher buracos no pequeno piquete ao redor do “creep fedding” para evitar o acúmulo de água. Os oocistos podem ser mortos com uma solução 1:1 de ácido acético glacial (puro), porém essa solução é corrosiva e não deve ser usada em metais.
Figura 2.
Bezerro com coccidiose.
Fonte: Enrico L. Ortolani
Professor da UFRPE acompanhou o ataque massivo de moscas-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) em bovinos em fazendas no distrito de Uruçu-Mirim, município de Gravatá, no agreste pernambucano, onde se planta muito inhame. Segundo o acadêmico, o surto foi provocado pelo uso intenso de cama-de-frango para fertilizar essa cultura e a condição encharcada da região, que favorecem muito a multiplicação das moscas nessa época do ano. Falar dos prejuízos da infestação das moscas é “chover no molhado”.
Uma possível forma de controle das moscas vem do próprio estado de Pernambuco, cuja Assembleia Legislativa criou uma portaria (Portaria nº 031, em Diário Oficial do Estado de Pernambuco em 24 de julho de 2014) sobre a disposição do uso de cama de aviário para agricultura.
Segundo pesquisadores pernambucanos, a cama de aviário deve permanecer por no mínimo 30 dias ensacada para que na compostagem ocorra morte dos ovos da moscas-dos-estábulos presentes. Em seguida, espalha-se o adubo orgânico ao lado do broto de inhame, recobrindo-o com terra, para evitar a postura de mais ovos de Stomoxys calcitrans, neste adubo já compostado.
Segundo o especialista do assunto da EMBRAPA, Dr. Antonio Thadeu Medeiros de Barros, caso fosse seguido rigorosamente esse processo, em especial, a completa cobertura com terra desse adubo orgânico já compostado, isso evitaria a presença dessas terríveis moscas. Mas teria que ser seguido por todos os agricultores e pelos criadores de aves, para que o manejo da cama de aviário fosse o recomendado, o que exigiria uma grande campanha de educação sanitária, inclusive com os pecuaristas locais!
Figura 3.
Bovino atacado pelas moscas-dos-estábulos.Fonte: Enrico L. Ortolani
Estamos passando por um ano de quebras de recorde de altas temperaturas ambientes, que se espalha praticamente do “Oiapoque ao Chuí”. Não apenas nós seres humanos sentimos o efeito desse calorão todo, mas também os bovinos, inclusive os zebuínos. Sem dúvida, os taurinos, em especial, os de pelame escuro são os mais atingidos, pelo fato deles terem maior dificuldade de eliminar o calor retido no corpo.
Em boa parte do Brasil, o calor está acompanhado de baixa umidade do ar, o que facilita a dissipação do calor interno. Mas temperaturas acima de 28ºC para taurinos e 33ºC para zebuínos, mesmo em baixa umidade do ar, já diminuem a ingestão de alimentos, podendo em alguns casos extremos provocar a queda no apetite em até 70,0%. É o chamado estresse térmico. Embora o gado Nelore seja proveniente de uma região semiárida e muito quente e seca da Índia, até ele sente esse calorão todo.
Podemos aliviar o estresse térmico por meio do oferecimento irrestrito de água de boa qualidade, que além de refrescar, aumenta a circulação de sangue da pele, dos pulmões e dos rins, ajudando a perda de calor. Um estudo na terra do Tio Sam mostrou que um bebedouro contaminado com fezes bovinas ou com algas reduzem o consumo de água pela boiada, na ordem 10,0% a 20,0%, diminuindo também o ganho de peso. É hora de limpar os bebedouros!
Evite manejar seu gado nos momentos mais quentes do dia, preferindo as primeiras horas da manhã ou no cair da tarde. O transporte também desidrata os bovinos, em especial os mais jovens, que chegam a perder até 3,0% de seu peso vivo se transportados por 4h. Assim recomenda-se, que caso a movimentação rodoviária deva ser feita, que seja conduzida durante a noite ou a madrugada.
Experimentos feitos com ruminantes submetidos ao estresse térmico pelo calor indicaram que a adição de cromo quelatado, por meio de suplementação mineral, abrandou os efeitos nocivos deste tipo de estresse e até aumentou a fertilidade de vacas submetidas ao IATF, nestas condições térmicas.
Árvores que geram sombreamento no pasto ajudam muito. Se por acaso seu pasto seja desprovido de árvores, é hora de plantá-las para não lamentar novamente em futuras ondas bravas de calor, que por certo virão.
Figura 4.
Água limpa e disponível ajuda aliviar o calorão.
Fonte: Enrico L. Ortolani