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Carta Grãos - Soja pra baixo, milho pra cima: expectativas para os preços na safra 2023/24

por Felipe Fabbri
Sexta-feira, 29 de dezembro de 2023 -06h00


Soja


Em Paranaguá-PR, a saca de 60 quilos de soja encerrou 2022 negociada em R$185,76, pautada na quebra de produção ocorrida na temporada 2021/22.


A safra 2022/23, encerrada em junho, foi marcada por produtividade acima da média, a produção e a exportação foi recorde e assistimos, paralelamente a recuperação dos estoques globais. Com a maior oferta no Brasil, dólar abaixo dos R$5,00 e um prêmio à exportação com forte pressão de baixa, a cotação caiu e chegou à mínima de R$135,00/saca em junho/23.


Com a entressafra no segundo semestre e incertezas quanto ao potencial produtivo da safra brasileira, em meio a problemas climáticos causados pelo El Niño como a ausência de chuvas em boa parte do Centro Norte, os preços subiram e, em 22/12, a saca estava cotada em R$145,95, em média (figura 1).


Figura 1.
Preço médio da soja em grão, em Paranaguá-PR, em R$/saca de 60kg.

Fonte: Scot Consultoria
* até 22/12/23 


Apesar da melhora nos preços no segundo semestre, a referência atual está 21,4% menor que  em igual período de 2022, o que levou à forte retração na margem do produtor na temporada 2022/23, com o maior custo de produção da história.


Para a safra 2023/24, a produção global, em dezembro/23, foi reduzida em 1,5 milhão de toneladas, estimada em 398,9 milhões de toneladas (USDA).


O mercado tem acompanhado a semeadura na América do Sul e as expectativas de produção no mercado local têm ditado os preços.


Refletindo o menor volume de chuvas no Brasil, a produção brasileira foi reduzida em 2,0 milhões de toneladas, com a produção estimada, em dezembro, em 161 milhões de toneladas.


Para a Argentina, após a forte quebra na safra 2022/23, a produção deverá recuperar-se neste ciclo, estando estimada em 48 milhões de toneladas, 23 milhões de toneladas a mais que a produção na safra passada.


Tabela 1.
Produção de soja, em milhões de toneladas, por país.

Fonte: USDA 


Com o atual recorte – a se confirmar, dada a possibilidade de redução da safra brasileira – a expectativa é de recuperação dos estoques globais, estimados em 114,2 milhões de toneladas (figura 2). 


Figura 2.
Estoques finais de soja no mundo, em milhões de t (eixo da esquerda), e relação (%) entre o estoque final e o consumo global estimado (eixo da direita).

Fonte: USDA


Mesmo que mais cortes na produção brasileira ocorram, a perspectiva de oferta global sustenta um cenário de preços pressionados negativamente. E, para que uma reversão ocorra, devemos ter uma quebra expressiva no Brasil e na Argentina, o que, até o momento, não se desenha.


Milho


Segundo levantamento da Scot Consultoria, o preço começou 2023 firme.  Em janeiro a cotação esteve em R$88,52/saca de 60 quilos em Campinas-SP. Os estoques estavam baixos e havia incerteza com relação à oferta na safra de verão.


Com o avanço da safra 2022/23, a consolidação de uma boa primeira safra e bom desenvolvimento da segunda safra, a principal no país, e a safra norte americana 2023/24 em desenvolvimento, os preços perderam sustentação e, a partir de abril, caíram (figura 3). De abril em diante, a oferta cresceu, consolidando uma safra recorde (131,9 milhões de toneladas), enquanto a cotação caiu, atingindo a mínima em meados de agosto (R$52,00/saca). 


Figura 3.
Preço médio do milho em grão, em Campinas-SP, em R$/saca de 60kg.

Fonte: Scot Consultoria


A abertura da exportação para a China, em novembro de 2022, e o conflito entre Rússia e Ucrânia influenciaram positivamente a exportação em 2023. O Brasil deverá assumir a posição de maior exportador global de milho ao final de 2023, com 55,0 milhões de toneladas.


Apesar da produção recorde na safra 2022/23, os estoques finais brasileiros não deverão ter grandes mudanças e, para a safra 2023/24, devem registrar o menor patamar dos últimos anos (figura 4).


Figura 4.
Estimativa de estoques finais de milho, em milhões de toneladas, por ano safra.

*estimativa em nov/23, **estimativa em dez/23.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria.
 


Com isso, em relação à safra 2023/24 - cujas expectativas iniciais já apontavam para diminuição da área, produtividade e produção, e agora sob um risco climático em função do atraso da janela de semeadura para a segunda safra – as cotações ganharam sustentação no fim de 2023 e ditam um viés de alta dos preços na próxima safra, acompanhe na figura 5. 


Figura 5.
Preços do milho, em R$/saca, no mercado físico, em azul, e no mercado futuro, em laranja.

Fonte: Scot Consultoria, B3 (21/12/23).


Para a safra 2023/24, o clima e os estoques no Brasil serão os principais pontos de atenção e deverão ditar um mercado firme, mesmo com um quadro no mercado internacional mais ofertado e de estoques maiores.