O descarte de fêmeas e a queda da cotação da arroba do boi gordo eram esperados, já que em 2021, houve forte retenção de matrizes e os preços estavam altos. Ainda assim, os números em 2023 surpreenderam.
Nas praças pecuárias paulistas, o preço médio da arroba do boi gordo caiu 21% em relação a 2022. Brasil afora, a cotação da arroba chegou a ficar abaixo dos R$200 e, em São Paulo, chegou a ser cotada em R$204,85, valor que não era registrado desde 2020 no estado.
Toda fase de baixa nos preços gera desestímulo ao produtor, não só para a aquisição de bovinos para a engorda, mas também, para a aquisição de bovinos destinados à cria e recria, fazendo com que uma desvalorização acometa os preços dessas categorias, refletindo no mercado de reposição.
O mercado já sabia que 2023 seria um ano de preços mais baixos, no entanto, não se esperava que em fevereiro, um caso atípico de “mal da vaca louca” (encefalopatia espongiforme bovina - EEB) fosse confirmado no Pará. A doença, apesar de confirmada atípica, prejudicou as vendas do produtor brasileiro, já que as exportações de carne bovina para a China – maior comprador da carne brasileira - foram cessadas, retornando após um mês, com negociações abaixo do padrão negociado anteriormente.
Muitos não tiveram condições de segurar a boiada até o cessar do embargo estabelecido pela China, portanto, a oferta no mercado interno aumentou, o que gerou uma pressão de baixa ainda maior à cotação do boi gordo.
Contudo, mesmo com os problemas enfrentados ao longo do ano, 2023 também foi marcado por oportunidades.
A principal oportunidade no ponto de vista econômico, foi a chance de comprar animais de reposição mais jovens (bezerros), com preços bem abaixo da média.
O produtor que se planejou para a fase de baixa nos preços, terá a oportunidade de vender esses animais no futuro como boi gordo e obter lucro, visto que a fase de alta nos preços deve ocorrer em 2025.
A exportação da carne brasileira também foi motivo de comemoração, mesmo com as paralisações causadas pela EEB, e o Brasil teve a oportunidade de iniciar negociações e a exportação para a Indonésia, México e República Dominicana.
Após o cessar do embargo imposto pelo acordo entre Brasil e China, mais frigoríficos foram habilitados a exportar carne bovina ao país asiático, o que gerou maior oportunidade para os produtores, nas negociações da categoria popularmente conhecida como “boi China”.
A habilitação de novas plantas e a abertura de novos mercados, somada a alta demanda global, fez com que 2023 se tornasse o segundo melhor ano para as exportações da carne bovina brasileira, perdendo apenas para 2022.
Com isso, 2024 deve ser um ano muito bom para a exportação brasileira de carne bovina in natura, seguindo os mesmos patamares dos anos anteriores.
O abate de fêmeas em 2024 continuará intenso, porém em menor escala, o que nos faz acreditar que a pressão de baixa nos preços não será igual a 2023.
O ciclo pecuário é imponente e é quem dita o mercado, no entanto, é importante destacar a ocorrência do El Niño, fenômeno climático que tem gerado problemas nas lavouras e nos pastos.
O El Niño gerou complicações, principalmente, nas produções de soja, milho e sorgo em quase toda a América do Sul, o que acarretou num aumento dos preços de concentrados, afetando também o custo das dietas de bovinos em todo o país.
As dificuldades causadas pelo El Niño devem permanecer até o final do primeiro semestre de 2024, que é quando o fenômeno começa a perder força.
Portanto, 2023 ensinou a necessidade de estar preparado para as incertezas e contratempos, de se planejar de acordo com o ciclo pecuário e de estar atento ao clima, para se proteger dos obstáculos e seguir trabalhando para uma pecuária lucrativa.