Artigo publicado originalmente na revista Agroanalisys
A Scot Consultoria calcula anualmente as rentabilidades médias das atividades agropecuárias e opções de investimento de capital.
Para este cálculo são utilizados modelos econômicos que levam em consideração fatores estimados para cada negócio agropecuário (índices técnicos, localização e estrutura produtiva), conforme o nível tecnológico.
Neste sentido, ressaltamos que os resultados apresentados podem ter significativa variação, conforme alteração dos índices produtivos.
Com o quadro de taxas de juros no Brasil e no mundo elevadas, para controlar a inflação, a cotação do dólar caiu 9,5% em 2023.
Com o aumento da taxa básica de juros no Brasil (taxa Selic) entre 2021 e 2022, os ativos voltados à renda fixa ganharam força como boas opções em 2023. O CDI (Certificado de Depósito Interbancário), principal indicador de investimentos em renda fixa no Brasil, ficou em 13% no ano passado.
A rentabilidade mensal, porém, caiu ao longo dos meses. Com maior controle da inflação, o Banco Central deu início a cortes na taxa Selic, que, iniciou 2023 em 13,75% ao ano e encerrou em 11,75% a.a. Para 2024, o mercado espera mais cortes, e, segundo o boletim Focus de 19 de janeiro, a taxa básica deverá terminar o ano em 9% a.a.
Com o aumento da taxa Selic, renda fixa e com as alterações na taxa de referência da poupança, o ativo teve bom desempenho em 2023, com 8% em 2023, superando a inflação, medida pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), que caiu 3,3% no ano passado, e o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que terminou 2023 em 4,62% (IBGE).
O Ibovespa, com o corte na taxa de juros ao longo do ano e perspectiva de melhora no desempenho da economia, ganhou força e teve forte recuperação em 2023, com destaque para o segundo semestre, onde a máxima histórica foi registrada e encerrou o ano em 22,3%. Quem investiu nesse índice, relacionado às principais empresas do mercado financeiro nacional obteve um retorno interessante.
Os bons números relacionados à economia brasileira (queda do desemprego, manutenção do Produto Interno Bruto e controle da inflação) contribuiu para esse cenário.
Por fim, destaque para o ouro, que subiu 12,9% em 2023, maior alta desde 2020. A valorização da commodity, com destaque durante os últimos meses de 2023, esteve relacionada à perspectiva de queda na taxa de juros dos Estados Unidos a partir de 2024.
Dentre as atividades agropecuárias, os retornos, de modo geral, ficaram bem abaixo dos investimentos mais conservadores e de menor risco em 2023. O destaque ficou com o setor sucroenergético.
A produção de cana-de-açúcar foi recorde na safra 2023/24, encerrada em novembro de 2023, cresceu 10,6%, com produção estimada em 667,6 milhões de toneladas. Área e produtividade aumentaram, compensando a queda nos preços do ATR (Açúcar Total Recuperável) no ano passado, que caiu por conta do aumento da oferta.
A produção de etanol cresceu 9,9%, estimada em 34,05 bilhões de litros (Conab), produzidos a partir da cana-de-açúcar e do milho.
Considerando o combustível produzido a partir da cana, o aumento foi de 5,5%, com produção projetada em 27,99 bilhões de litros. A produção a partir do milho cresceu 36,3%, comparado à safra passada, com produção estimada 6,06 bilhões de litros.
Com o aumento na produção de etanol, os preços caíram em 2023.
Para o açúcar, a produção ficou estimada em 46,88 milhões de toneladas, um aumento de 27,4% em relação à safra passada, maior volume da história (Conab).
O retorno financeiro da atividade foi sustentado pelo açúcar, cuja oferta no mercado internacional caiu, beneficiando a exportação brasileira, que foi destaque em 2023. A cotação subiu.
Para a soja e o milho que apresentaram boas rentabilidades em 2020 e 2021, o aumento nos custos de produção, dos preços de terras agrícolas e a forte depressão nos preços, com produção recorde no Brasil e, um balanço entre a oferta e a demanda global confortável, diminuíram a margem da atividade em 2023, que ficou em 1,5%.
Apesar do recorde de exportação, tanto para o milho como para a soja, a produção recorde e o déficit de armazenagem pesaram sobre as cotações, e o câmbio abaixo dos R$5,00 durante vários momentos em 2023 também não ajudou.
Na pecuária de corte, 2023 foi marcado pela maior depressão de preços na história, em função da maior oferta de bovinos causada pelo desestímulo à atividade de cria, com isso, o abate de fêmeas aumentou em relação à 2022.
Os melhores resultados na atividade foram para a recria, engorda e ciclo completo, quando comparados a cria. Entretanto, os retornos obtidos estão aquém dos registrados entre 2020 e 2021.
Sistemas com baixa adoção de tecnologia, tiveram desempenho pior do que aqueles cuja adoção de tecnologia é maior.
Na pecuária de leite, após os preços ao produtor subirem em 2022, a forte internalização de produtos lácteos, a queda nos custos de produção e a forte retração nos preços, marcaram 2023.
A captação caiu em 2023, mas a importação de leite em pó cresceu 100% comparando semestre a semestre em 2023, seguindo em alta nos últimos meses do ano, mas com menor intensidade.
A produção de leite com baixa adesão tecnológica teve o pior desempenho entre todas as atividades monitoradas pela Scot Consultoria (-13,9%).
Veja, na tabela 1, as rentabilidades agropecuárias, os indicadores econômicos em 2022 e 2023 em relação ao ano anterior.
Tabela 1. Rentabilidades médias em 2022 e 2023.
Fonte: Scot Consultoria
Os preços para a soja e o milho, em 2024, devem ficar pressionados – atenção, ao milho, que em função do quadro de oferta e demanda no Brasil, pode ganhar sustentação.
Para a soja, as expectativas iniciais apontavam para recorde de produção brasileira (162 milhões de toneladas). O clima, porém, prejudicou a safra e, a expectativa foi revista, com quebra na produção.
Apesar da revisão para baixo no Brasil, o balanço de oferta e demanda global deverá ficar confortável, com estoques finais estimados em mais de 100 milhões de toneladas para 2023/24, com a expectativa de recuperação da produção na Argentina e uma boa safra nos Estados Unidos.
Com isso, os preços na Bolsa de Chicago caíram a US$12,50/bushel para os contratos de março e maio/24. Com o dólar abaixo dos R$5,00, a colheita brasileira ganhando ritmo e maior oferta nos próximos meses, a expectativa é de que a pressão sobre os preços persista.
Para o milho, na safra 2023/24, a estimativa inicial indicava produção 9,1% menor em relação à safra 2022/23, em função da retração em área e produtividade. Com o atraso na semeadura da safra de soja, a janela de semeadura para o milho segunda safra ficou estreita, elevando o risco da produtividade e da produção.
A demanda interna deverá aumentar, e a exportação, deverá se manter. Com menor produção e aumento na demanda, os estoques finais para 2023/24 deverão ser os menores dos últimos anos, o que poderá trazer sustentação à cotação, frente aos atuais preços, em 2024.
Apesar da expectativa de arrefecimentos nos preços do milho e da soja, a expectativa é de menor pressão por parte dos custos de produção para a próxima temporada (2023/24), principalmente com relação aos preços dos adubos e defensivos, uma vez que a oferta tem sido ajustada gradualmente em meio à retomada das atividades econômicas ao redor do mundo.
No mercado do boi, o descarte de fêmeas deverá continuar, mas, com menor intensidade em relação a 2023. Espera-se que a oferta de bezerros seja menor, em resposta ao aumento no abate de fêmeas, que deverá repercutir na oferta de bovinos jovens a partir de 2024, podendo trazer sustentação às categorias mais novas e estímulo à atividade de cria. Apesar da expectativa, não deverá ser um ano de grandes variações às cotações.
Para o leite, o cenário é de oferta de leite cru ajustada, retomada da demanda e preços melhores no mercado internacional, o que poderá desestimular à internalização. Com isso, após forte retração em 2023, melhores cotações em 2024 podem acontecer, com destaque ao período de entressafra de capim no país.
Para as atividades agrícolas, destacamos que a expectativa de custos de produção menores em 2024, frente aos últimos anos, poderá trazer alívio às margens das atividades.
Figura 1. Rentabilidades médias de diferentes investimentos em 2023.
Fonte: Banco Central do Brasil (Bacen), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Scot Consultoria