Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado.
O mercado de commodities sofre flutuações cíclicas da oferta e, consequentemente, nos preços. Isso acontece devido ao choque de demanda, interna e externa, além da sazonalidade ao longo do ano.
Fatores climáticos afetam a colheita ou semeadura dos grãos, interferindo na produção (excesso, escassez ou equilíbrio). Por isso, em determinadas épocas do ano são ofertados em abundância, gerando queda nos preços, enquanto em outras, a oferta é reduzida, levando ao aumento de preços.
Da mesma forma, os bovinos de corte são afetados por estes fatores, uma vez que o peso de abate pode ser comprometido. Além da sazonalidade anual, apresenta um ciclo pecuário endógeno (Bragança, 2010).
De acordo com os dados de abate de 1997 a 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o ciclo pecuário dura em torno de 5 a 7 anos. Os números têm mostrado que o intervalo entre as altas e as baixas de preços vêm diminuindo, ou seja, o ciclo está encurtando.
A oferta (maior ou menor) é determinada pelo preço do bezerro, ou seja, pela reposição. Quando o preço da reposição está atraente, há retenção de fêmeas para a produção de bezerros. A retenção de matrizes para a cria, reduz a oferta de bovinos para abate, desta forma cotação da arroba do boi sobe.
Esse movimento dura até que a oferta de bezerros não seja absorvida com facilidade pelo mercado e, o preço cai. Com essa queda no preço, há um desestímulo na produção e, matrizes são descartadas, aumentando a oferta de bovinos para o abate, derrubando a cotação do boi gordo.
É o abate de fêmeas que determina o aumento ou a redução da oferta, uma vez que o abate de machos é regular.
Figura 1.
Ciclo pecuário de preços.
Fonte: Scot Consultoria
De acordo com a Embrapa, 95% da carne bovina no Brasil é produzida em pastagens. A área destinada a essa produção é de aproximadamente 158 milhões de hectares, com cerca de 63% dela com algum estado de degradação (Lapig).
Em todo o Brasil, apenas 15% das pastagens foram formadas nos últimos dez anos. Três em cada quatro hectares de pasto na Amazônia (73%) foram formados a partir dos anos de 1990, sendo que 14,8% foram formadas nos últimos cinco anos (MapBiomas).
Em um intervalo de 38 anos (1985 e 2022), a área ocupada pela agropecuária no Brasil cresceu 50%, integrando 95,1 milhões de hectares – extensão superior ao Mato Grosso, terceiro maior estado brasileiro, e 10,6% do território nacional, de acordo com dados atualizados pelo MapBiomas.
Na década de 80, a atividade explorava pouco mais de um quinto (22%) da área do Brasil, ou 187,3 milhões de hectares. Essa área saltou para 282,5 milhões de hectares em 40 anos, integrando um terço do território nacional.
De acordo com as estimativas da Scot Consultoria, através dos dados atualizados pelo MapBiomas, o Brasil conta, em 2024, com 165 milhões de hectares em pastagens. Desse total, 64 milhões, ou 38,8%, sem sinais de degradação.
Isso é reflexo, de uma atividade que sofre com a falta de investimento, sendo tratada de forma secundária, e não como uma lavoura que é bem cuidada.
A estimativa de pastagens degradadas no Brasil retrocedeu nos últimos 24 anos, de 50 milhões de hectares em 2000, para 33,8 milhões de hectares em 2024.
Esse é um sinal do crescimento do investimento em pastagens. Seja com integrações, adoção de técnicas de produção e demais práticas agrícolas.
Desta forma, o objetivo deste documento é demonstrar a janela de investimentos que as pastagens possibilitam.
Um excelente indicador do cenário produtivo brasileiro, o Valor Bruto de Produção (VBP) é calculado com base na receita gerada pelas fazendas.
Para o primeiro levantamento de 2024, o VBP da bovinocultura de corte vem com a previsão de queda, atingindo o pior desempenho desde 2020.
Porém, o momento, em 2024 é de pré-mudança de fase do ciclo pecuário. Estima-se, com os dados dos últimos 20 anos, um VBP para 2025 em 133,7 bilhões para o setor, desempenho 3,5% maior que no comparativo de 2024, estimado em 129,2 bilhões.
O VBP é um bom indicador, e está associado ao preço da arroba do boi gordo (figura 1).
Figura 2.
Valor Bruto de Produção (em bilhões de R$) e a cotação da arroba do boi gordo (R$), nos últimos 20 anos.
Fonte: Mapa / elaborado por Scot Consultoria
Dessa forma, a cotação da arroba do boi gordo também estaria em alta no período, estimada em 9,87% no preço médio anual, com R$ 260,76 (com base em São Paulo).
As estimativas para área com pastagens também são positivas, com expansão e crescimento das áreas não degradadas, um indicador de maior investimento por parte do pecuarista.
Veja na figura 2, a proporção de pastagens nos principais níveis de degradação (sem degradação, moderada e degrada), em hectares.
Figura 3.
Quantidade de hectare de pastagens nos principais níveis de degradação (sem degradação, moderada e degrada, de 2000 e projetado até 2025.
Fonte: MapBiomas / elaborado por Scot Consultoria
O uso de fungicidas, herbicidas e inseticidas, deve ser melhor em 2024, com ponto de virada em 2025, tendo em vista as estimativas de toneladas comercializadas com base nos dados do Ibama.
Veja na figura 3, a quantidade de toneladas comercializadas de produto formulados.
Figura 4.
Toneladas de produto formulado comercializados. 2,4-D e Glifosato no eixo da direita.
Fonte: Ibama / elaborado por Scot Consultoria
Vale ressaltar que o consumo de defensivos agrícolas está crescendo desde o início dos anos 2000, como pontua o relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) “Agrotóxicos no Brasil: padrões de uso, política da regulação e prevenção da captura regulatória”.
Porém, tendo como exemplo os fungicidas (Fluazinam, Fludioxonil), herbicidas (2,4-D, Aminopiralide, Diurom, Glifosato e Picloram) e inseticidas (Clopirifós e Fipronil), cujo consumo relativo caiu em 2022 e 2023, espera-se uma retomada do uso em 2024, com firmeza prevista para 2025.