Artigo originalmente publicado na revista DBO
A Scot Consultoria calcula diariamente índices relacionados ao preço da venda da carcaça bovina e dos componentes não-carcaça. Para entender os cálculos que serão apresentados é preciso definir alguns pontos:
1. Preço da arroba: representa o valor pago pelo peso do bovino.
2. Preço da carcaça bovina: é o preço da parte comestível do bovino.
3. Componentes não-carcaça: são os coprodutos do bovino, como couro, sebo, vísceras, ossos e outros.
Os indicadores da Scot Consultoria são:
• Equivalente Físico: refere-se à receita da indústria com a venda da carcaça com osso. O equivalente é calculado a partir do rendimento para cada porção da carcaça (48% traseiro + 39% dianteiro + 13% de ponta de agulha);
• Equivalente Scot: indicador para a receita da indústria com a venda da carne com osso, do couro de primeira linha e sebo, sendo a receita gerada a partir do rendimento proporcional de cada componente (equivalente físico + couro + sebo);
• Equivalente Scot Carcaça: refere-se à receita da indústria com a venda da carne com osso, couro de primeira linha, sebo, miúdos, e demais derivados e coprodutos bovinos (Equivalente Scot + miúdos + derivados + coprodutos);
• Equivalente Scot Desossa: indicador que determina a receita da indústria com a venda da carne desossada, couro de primeira linha, sebo, miúdos, derivados e coprodutos bovinos (carne sem osso + couro + sebo + miúdos + derivados + coprodutos).
Os cálculos tomam por base o preço vigente para a arroba do boi gordo destinado ao mercado interno, em São Paulo.
Ressalta-se que não são considerados os custos de produção da indústria. E, portanto, esses indicadores não representam o lucro, mas a relação entre a cotação da arroba do bovino e seus produtos.
Considerando apenas a carcaça (Equivalente Físico), as indústrias não seriam capazes de gerar receita suficiente para comprar, segundo o preço vigente da arroba na maioria dos anos (figura 1).
Figura 1.
Margem da indústria considerando o Equivalente Físico Boi.
Fonte: Scot Consultoria
No entanto, ao comercializar carne desossada, o quadro muda. A margem da indústria melhora (figura 2). A venda de coprodutos e da carne desossada permite a rentabilidade do negócio (figuras 3 e 4).
Com a queda na cotação do boi gordo ao longo de 2023, devido à maior oferta de boiadas, as vendas no mercado atacadista de carne sem osso permitiram que a margem de comercialização dos frigoríficos ficasse positiva desde abril, alcançando os melhores patamares da história.
Em 2024, ainda na fase de baixa de preços do ciclo pecuário, a margem segue na mesma toada, trabalhando em patamares maiores do que os observados em 2023.
Em maio, a margem dos frigoríficos segue trabalhando em média a 20%. E, com a expectativa de baixa de preços ofertados para a arroba do boi gordo no próximo momento, a margem deve trabalhar em patamares ainda mais elevados.
Figura 2.
Margem da indústria considerando o Equivalente Scot Desossa.
Fonte: Scot Consultoria
Considerando o Equivalente Scot, a receita gerada com a venda da carne com osso, couro de primeira linha e sebo é influenciada pela comercialização dos coprodutos bovinos, assim como pela cotação da arroba do boi gordo ou da vaca gorda.
Figura 3.
Margem da indústria considerando o Equivalente Scot Boi.
Fonte: Scot Consultoria
Figura 4.
Margem da indústria considerando o Equivalente Scot Vaca.
Fonte: Scot Consultoria
A queda da cotação da arroba do boi gordo, resultou em margens positivas para a indústria.
Além disso, as recentes valorizações do couro e sebo favoreceram a receita das indústrias, principalmente com a vaca. As médias mensais subiram.
Em 13 de maio, segundo os indicadores Scot - Equivalente Scot e Equivalente Físico, a margem para fêmea estava em 9,7% e 6,1%, respectivamente.
A margem está 3,4 pontos percentuais (p.p.) maior que a do boi gordo considerando o Equivalente Scot e 3,8 p.p. maior considerando o Equivalente Físico.
Tabela 1.
Indicadores Scot Consultoria, equivalentes.
* Preço para descontar o Funrural (1,5%), em 13/05/2024
Fonte: Scot Consultoria
Considerações finais
A perspectiva é de aumento na exportação brasileira de carne bovina em 2024.
No mercado interno, os preços do boi devem ser de maior firmeza do que em 2023 (já está assim), com a perspectiva de um mercado menos volátil, o que poderá afetar as margens das indústrias.
Não deveremos assistir a fortes oscilações nos preços da carne bovina ao consumidor em 2024.
O consumo deverá ser melhor no próximo semestre (menores taxas de desemprego, perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto e redução na taxa básica de juros, podendo estimular o consumo).
A análise do mercado através do Equivalente Scot não deve ser feita isoladamente e recomenda-se relacioná-lo com as condições que envolvem a cadeia da carne.
Entretanto, as maiores margens envolvendo os equivalentes, nos trazem a informação de que existem espaços para ajustes nos preços vigentes no mercado do boi gordo.