Vários estudos identificaram que os bovinos, da desmama até os dois anos de idade, criados na área chamada Brasil-Central Pecuário (regiões baixas e litorâneas de SC, PR, todos estados das regiões sudeste e centro-oeste, RO, AC e sul do AM, PA, MA e PI, centro e sul da BA) necessitam ser vermifugados estrategicamente três vezes ao ano, no esquema chamado “5-8-11”. No mês “8”, agosto, é hora da 2ª vermifugação em bovinos dessa faixa etária (figura 1). Recomendo nessa etapa o uso de vermífugos a base de levamisole. A ideia da vermifugação estratégica é diminuir os vermes, no decorrer do ano, nos animais mais jovens, que têm maior risco de verminose, e reduzir muito a contaminação das pastagens com larvas dos futuros helmintos. Segundo testes que acompanhei, essas vermifugações estratégicas, garantem ao final do ano uma arroba a mais que os bovinos vermifugados só na campanha da aftosa (maio e novembro) e quase 50 kg a mais dos não tratados. Não esqueça!
Figura 1.
Vermifugue agora todos os bovinos desmamados até dois anos.
Fonte: Enrico L. Ortolani.
Você está careca de saber dos cuidados com a cria no nascimento. Muitos bezerros morrem de diarreia dos 12 aos 20 dias de idade. A frequência da diarreia é mais alta em bezerros que nascem em piquetes de parição repetitivamente utilizados e não trocados por anos, que vão ficando cada vez mais contaminados; em áreas sujas e com capim alto; e em locais alagadiços ou muito úmidos. Se assim for, troque o piquete de parição por uma área limpa, plana e descontaminada. Em locais mais frios prefira piquetes que tenham cercas vivas (figura 3), para evitar o vento direto na cria. Cure o umbigo com solução de iodo a 6,0% (figura 2) ou com medicamentos apropriados, jamais empregando apenas spray larvicida. Use antiparasitário injetável para prevenir a bicheira. Dentre os disponíveis no mercado, selecione produtos à base de doramectina, que ainda apresentam maior ação contra as larvas, evitando aqueles a base de ivermectina. Segundo constatações, tratamentos com antibióticos no primeiro dia de vida não surtem efeito na prevenção de futuras infecções no umbigo. Boa sorte e trate bem da sua bezerrada!
Figura 2.
A cura correta do bezerro é fundamental para a vida.
Fonte: Enrico L. Ortolani.
Figura 3.
Em locais frios, privilegie piquetes de parição com cerca-viva.
Fonte: Enrico L. Ortolani.
Poucos meses após o MAPA declarar os últimos estados do Nordeste do país livres de febre aftosa sem vacinação, a detecção de um foco da doença de Newcastle no município de Anta Gorda, no norte do estado do Rio Grande do Sul, no dia 17 de julho, pegou todos de surpresa.
A doença viral nas aves não era diagnosticada desde 2006, após um surto em granja de subsistência no MT. O atual foco determinou que todos os 7.000 animais da propriedade fossem sacrificados (figura 4), que os galináceos criados nos quatro municípios circunvizinhos fossem impedidos de serem movimentados e que as 700 outras granjas ao redor fossem mantidas sobre enorme vigilância sanitária.
Na minha opinião, o MAPA tomou a decisão correta e corajosa de fechar a exportação de carne de aves, até dia 29 de julho. Os muitos países concorrentes na exportação e os compradores de aves pressionarão o Brasil para ganhar mercados ou para diminuir o preço comercializado da carne de frango. Com a parada temporária na exportação perderemos alguns bilhões de dólares, mas ganharemos e manteremos nossa credibilidade sanitária frente ao mercado mundial, onde até o dia do foco éramos líderes, e com certeza reassumiremos tal liderança até o início do ano que vem. Mas tudo isso com um prejuízo financeiro.
Mas qual a ligação da doença de Newcastle e a febre aftosa? Aparentemente, são doenças diferentes, em espécies animais também diferentes, mas ambas são causadas por vírus muito contagiantes e com facilidade de ser transmitidos. Além do mais, os rebanhos de aves não eram vacinados desde o controle do último surto, indo para o mesmo caminho os bovinos, em relação à febre aftosa. Vejo ainda outra coincidência: Newcastle pode ser transmitida por aves silvestres e na febre aftosa por mamíferos com cascos bipartidos (ovinos, suínos, antílopes, suínos, javalis, búfalos de reservas que não são vacinados etc.).
O foco de Newcastle em Anta Gorda RS não aconteceu por acaso, algum erro na prevenção da doença ocorreu para o surgimento do vírus, num local aparentemente isolado. O mesmo risco pode acontecer com a febre aftosa e qualquer descuido pode resultar na volta da maldita doença entre nós. Lembrando que no foco de aftosa no MS, em 2005, contabilizamos o sacrifício de mais de 4.000 bovinos (figura 5), a não exportação de carne para a Europa por 10 anos, para o Chile por 7 anos, Rússia e Egito por mais de um ano, e um prejuízo econômico de pelo menos 7,0 bilhões de dólares americanos. O site do MAPA dizia que o vírus de Newcastle estava erradicado no Brasil, quando eu afirmaria que estava apenas controlado. Todos nós da cadeia pecuária somos responsáveis na vigilância e prevenção da febre aftosa. O vírus ainda circula na Venezuela e por vezes na divisa com a Colômbia. O sinal amarelo deve ficar acesso o tempo todo. Barbas de molho!
Figura 4.
Sacrifício de milhares de aves num galpão.
Fonte: Nadis animal health skills.
Figura 5.
Sacrifício de bovinos por febre aftosa.
Fonte: BBC News.
Importante veterinário de campo acompanhou dois surtos de brônquio-pneumonia em rebanhos dos municípios de Buri (Região de Itapetininga) e de Ocauçu (Região de Marília), em bovinos de recria, meio-sangue, de cerca de um ano de idade. Na primeira localidade 30 fêmeas apresentaram a doença, num total de 1.000 recriadas (morbidade de 3,0%), e no segundo local 10, machos e fêmeas, num total de 200 bovinos (5,0% morbidade). Em Buri morreram cinco (letalidade de 16,7%) fêmeas e em Ocauçu inexistiram mortes. Coincidentemente, todos os animais desses locais apresentaram visivelmente o quadro cerca de dois a cinco dias após uma breve friaca, com duração de três dias consecutivos, com mínimas variando de 8,0º C a 11,0º C em Buri, e 10,0º C a 12,0º C em Ocauçu. Foi ainda relatado que os animais estavam em pastos bem abertos e submetidos às correntes de vento. Os animais mais debilitados e magros foram os mais afetados pelo quadro e coincidentemente os que morreram tinham viajado ao redor de 500 km para a nova propriedade, alguns dias antes.
O quadro clínico se caracterizou pelo abatimento, febre, diminuição da ingestão de alimentos, dificuldade respiratória e tosse. Alguns deles tiveram secreção nasal catarro-purulenta ou catarral (figura 6). À necropsia detectou-se áreas de inflamação e consolidação pulmonar, nas áreas anteriores dos dois lados do órgão. O tratamento indicado pelo veterinário (antibacteriano bactericida e anti-inflamatório não esteroidal) foi eficaz! Para prevenir novos surtos sugeriu-se a dupla vacinação, com intervalo de 30 dias, dos lotes com vacina contendo antígenos dos principais agentes infecciosos que causam ou facilitam o surgimento de brônquio-pneumonia (figura 7), pois são esperadas novas ondas de frio nos próximos dois meses no estado de São Paulo.
Figura 6.
Bovino eliminando secreção nasal sero-catarral.
Fonte: Enrico L. Ortolani.
Figura 7.
Uso de vacina respiratória previne e alivia a brônquio-pneumonia bacteriana.
Fonte: Enrico L. Ortolani.
Veterinário consultor técnico de confinamentos descreveu o surgimento de cinco caso de polioencefalomalácea (PEM) em garrotes Nelore que tinham acabado de entrar em uma central de engorda, em Redenção, no sul do Pará. Ele identificou o problema pelo chamado diagnóstico terapêutico, quando se confirma a doença a partir de uma terapia bem-sucedida. O interessante desse caso foi que ocorreu em bovinos que tinham acabado de entrar no confinamento (4º ou 5º dia), pois a maioria dos casos ocorre em gado confinado entre o 35º até o 60º dia de cocho.
A poliencefalomalácea (pólio = cinza, encéfalo = cérebro, malácia = amolecimento ou necrose) é uma doença decorrente de carência de vitamina B1, denominada tiamina, ou indiretamente por excesso de enxofre na água ou na ração, por exemplo, excesso de DDG ou similar. A vitamina B1, nos bovinos adultos, é normalmente sintetizada pelas bactérias do rúmen e atua, entre outras funções, na proteção dos neurônios, em especial da região cinzenta do cérebro. O estoque de B1 no organismo é relativamente baixo e condições que levem ao menor consumo de alimento por vários dias leva a uma diminuição da produção de B1 pelas bactérias ruminais.
No histórico descrito pelo veterinário consta que os animais foram deslocados de fazendas de outras regiões do estado, que provavelmente não ofertavam suplemento mineral, chegando assim relativamente magros no confinamento (condição corporal 2,5/5). O profissional foi chamado de emergência para atender os bovinos que manifestaram comportamento estranho, exibindo os seguintes sintomas: súbita cegueira, andar sem direção, como o de um bêbado (figura 8), tremores musculares, queda (figura 9), movimento e agitação das pernas (figura 10) etc. Caso não sejam medicados, a PEM pode levar à morte.
O surgimento da PEM ainda não é totalmente conhecido. Porém, sabe-se que quadros sequenciais de acidose por ácidos graxos de cadeia curta, produzidos em excesso no rúmen, ou uma severa acidose láctica ruminal podem, além de eliminar ou desfavorecer o crescimento de bactérias que produzem a vitamina B1, favorecer o crescimento de outros micróbios que destroem a B1, por ação de enzimas (tiaminases). Na Austrália verificaram que ovinos submetidos a certo grau de desnutrição aumentaram a quantidade de bactérias ruminais que produzem tiaminase. No Brasil, já foram descritos muitos casos de PEM em bovinos de campo, geralmente no período de seca, atingindo em muitos casos animais magros. Acredita-se que esses confinados que tiveram PEM já tivessem baixas reservas de B1 no organismo e que o estresse da chegada e da adaptação culminaram com a queda de B1 e destruição desta vitamina. Felizmente a rápida intervenção do profissional, e o tratamento com altas doses de B1 e outras terapias acessórias salvaram todos os animais (figura 11).
Figura 8.
Bovino com PEM: andar de bêbado.
Fonte: Adriano Bernardes Silva.
Figura 9.
Bovino com PEM: queda.
Fonte: Adriano Bernardes Silva.
Figura 10.
Bovino com PEM: agitação das pernas.
Fonte: Adriano Bernardes Silva.
Figura 11.
Bovino com PEM: após o tratamento
Fonte: Adriano Bernardes Silva.