Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado.
O ágio e o deságio são conceitos utilizados na pecuária de corte para calcular o preço da arroba de um bovino em relação ao preço da arroba do boi gordo. O ágio é o quanto a mais se paga pela arroba de um bovino para reposição do rebanho em relação ao boi gordo, enquanto o deságio é o quanto menos se paga.
Para quem compra reposição, quanto menor o ágio, melhor.
E se o ágio está elevado, o preço do bezerro está mais firme, em relação ao boi gordo. Ou seja, ágio elevado é sinônimo de uma relação de troca menos atrativa com a reposição. Esse quadro é resultado de um cenário cujos preços do bezerro estão subindo mais ou caindo menos que o boi gordo.
No ciclo pecuário, quem define os preços é a oferta de fêmeas. Quando temos mais fêmeas indo ao abate, os preços no mercado do boi tendem a cair. E, com o tempo, o abate de fêmeas provoca a diminuição da produção de bezerros e consequentemente da oferta, deixando o ágio “maior”, menos favorável ao comprador.
Com os preços do bezerro mais firmes, a rentabilidade da cria começa a melhorar e acontece uma redução na oferta de fêmeas para abate. As fêmeas, matrizes, são direcionadas para a produção de bezerros. E, com menos fêmeas indo para o gancho, o mercado do boi começa a subir, diminuindo o ágio com o bezerro.
Veja na figura 1, o ágio do bezerro em relação ao boi gordo na comparação com o mesmo mês do ano anterior dos últimos dez anos.
O ágio desde maio vem esboçando uma reversão de tendência. A última vez que isso ocorreu, entre 2018 e 2021 houve menos fêmeas indo ao abate.
Isso nos mostra que os abates de fêmeas elevados nos últimos anos e agora em 2024 parecem começar a ser sentidos o que indica um quadro mais favorável aos preços do bezerro.
Se a reação nos preços do bezerro se concretizar, é provável que a retenção de fêmeas também comece a acontecer, dando suporte às cotações do boi gordo no futuro.