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Carta Conjuntura - Fenação: Estratégia eficiente para garantir forragem de qualidade durante o ano

por Rodrigo de Mundo
Quinta-feira, 19 de setembro de 2024 -06h00


A fenação é um processo de conservação de forragem que consiste na secagem de plantas cortadas. Essa técnica permite a estocagem do alimento por longos períodos, preservando seu valor nutritivo. A fenação minimiza os efeitos da sazonalidade das pastagens e períodos de estiagem.


O feno se destaca entre os volumosos tradicionais por várias razões, primeiro, quando corretamente desidratado e armazenado, pode ser conservado por longos períodos, o que é especialmente útil para garantir alimento em épocas de escassez, além disso, ao ser colhido na época das chuvas, permite uma maior produção de forragem por área devido à rebrota das plantas. Sua flexibilidade no atendimento às necessidades nutricionais do rebanho, especialmente durante a entressafra de pastagem, mantém a produtividade animal estável ao longo do ano, o feno de boa qualidade pode até substituir, parcial ou totalmente, a necessidade de suplementos concentrados, reduzindo custos, especialmente se for de leguminosas ricas em proteína, outra vantagem é a possibilidade de armazenar grandes quantidades em pequenos espaços, quando compactado em fardos. O feno não depende de processos fermentativos e é estável ao contato com o oxigênio, evitando estragos durante o fornecimento, além disso, diversas espécies de plantas forrageiras podem ser utilizadas para sua produção.


Embora muitas espécies possam ser utilizadas para a produção de feno, algumas se destacam por características superiores, entre elas, estão o alto valor nutritivo, alinhado com as necessidades do rebanho, a elevada produção de forragem por área, uma alta relação folha-caule e caules finos, além de uma boa capacidade de rebrota após a colheita.


Tabela 1. Composição bromatológica, base na matéria seca, dos fenos de algumas forrageiras.











































































































































































































Feno Variáveis bromatológicas (% da MS) Coeficiente de digestibilidade (%)
  MS MM PB FDN FDA Ca MS MO PB
Alfafa 91,0 10,9 17,7 56,0 34,6 1,4 70,3 72,2 74,8
Estilosante Campo Grande 89,9 8,0 12,2 65,8 44,3 1,5 69,1 72,0 74,0
Estilosante Mineirão 89,5 8,9 11,1 67,6 46,6 1,6 67,0 69,5 69,9
Amendoim forrageiro 88,1 - 14,3 52,5 35,8 - 64,4 - 70,0
Stylosanthes guianensis 91,6 - 9,8 63,7 50,1 - 49,2 - 61,2
Soja Perene 90,1 - 12,3 52,0 40,4 - 44,3 - -
Leucena 91,2 - 19,3 50,5 28,9 - 55,6 61,9 70,2
Tifton 91,6 - 11,0 62,3 38,8 - - - -
Tifton 85 82,9 6,1 14,8 76,9 55,8 - - - -
Cunhã 91,9 - 13,6 62,1 37,8 - - - -
Coastcross 89,0 - 11,5 - - - 64,6 - -
Andropogon gayanus - - 6,6 - - 0,1 60,4 - -
Brachiaria brizantha - - 7,6 - - 0,1 - - -
Milheto 90,6 10,5 10,6 66,5 46,1 0,4 - - -
Capim-elefante Cameroon 90,6 11,0 6,7 71,4 49,0 0,3 - - -
Sorgo SF-2S 90,3 8,8 5,6 71,3 48,5 0,2 - - -

FONTE: Dados básicos: (A) Silva (2010), Dados básicos: (B) Ladeira et al. (2002), Dados básicos: (C) Moreira (2008), (D) Taffarel (2011), (E) Mizubuti et al. (2007), (F) Nascimento et al. (2001), (G) Aguiar et al. (2006), (H) Pedreira (2005)


NOTA: MS - Matéria seca; MM - Matéria mineral; PB - Proteína bruta; FDN - Fibra em detergente neutro; FDA - Fibra em detergente ácido; Ca – Cálcio.


Para a fenação precisamos passar por etapas:


Corte: O corte da forrageira é a primeira etapa da fenação, nesse processo, a planta é separada do solo para iniciar a secagem, o uso de máquinas como tratores e roçadeiras agiliza essa tarefa. É importante evitar picar a forrageira, pois isso dificulta a coleta do material.


Espalhamento: Para garantir uma secagem uniforme da forrageira após o corte, é importante espalhá-la adequadamente pelo solo, naturalmente, o corte inicial tende a formar leiras, onde a parte superior seca mais rápido do que a inferior, para evitar isso, utiliza-se um ancinho para espalhar o material uniformemente, além disso, é recomendável revirar a forragem a cada uma ou duas horas, também com o ancinho, o que faz com que o material mais úmido seja trazido para cima e o mais seco para baixo, assegurando uma secagem uniforme em toda a área.


Enleirar: O enleiramento é uma prática comum na produção de feno, especialmente quando a secagem não se completa em um único dia, ao agrupar o material em leiras, reduz-se a exposição da forragem à umidade noturna, evitando perdas.


Enfardamento: O enfardamento tem como objetivo compactar o feno, reduzindo seu volume e facilitando o manuseio e o transporte. Nesse processo, o feno é transformado em fardos retangulares ou redondos.


Depois do trabalho de selecionar a forrageira, preparar o solo e seguir os passos de produção com precisão, é preciso armazenar o feno. Essa etapa pode resultar em perdas tanto quantitativas quanto qualitativas. A umidade ideal do feno para o armazenamento é de 18% a 20%, o local de armazenamento deve ser seco, bem ventilado e protegido da luz solar direta, para evitar o contato do feno com a umidade do solo, recomenda-se utilizar paletes ou estruturas elevadas, a inspeção regular do feno é essencial para detectar sinais de deterioração, como aquecimento, mofo e presença de roedores, a temperatura e a umidade do ambiente de armazenamento devem ser monitoradas regularmente, especialmente durante os períodos mais quentes e úmidos do ano.


O feno pode ser armazenado e comercializado em diferentes formatos, adaptados às necessidades dos produtores e às condições de armazenamento e transporte. Os formatos mais comuns são:


Fardos Retangulares: Esses são os formatos mais tradicionais, facilmente empilháveis e de manuseio relativamente simples. Eles podem variar de pequenos fardos manuais a grandes fardos comerciais, pesando de 15 a 500 kg.


Fardos Cilíndricos (Rocambole): Também conhecidos como fardos redondos, são muito utilizados devido à maior capacidade de compactação e facilidade no manuseio com equipamentos agrícolas. Eles podem pesar de 200 kg a mais de 1000 kg.


Fardos Compactados: Esses fardos são densamente compactados para reduzir o volume, facilitando o transporte e o armazenamento, especialmente em regiões com espaço limitado ou para exportação.


Fardos Enfardados a Vácuo: Algumas vezes, o feno é embalado a vácuo para preservar o valor nutritivo e evitar a entrada de umidade, prolongando sua vida útil.


Fardos Enrolados com Filme Plástico: Conhecidos também como silagem pré-secada, esses fardos são cobertos com plástico, o que protege o feno da umidade e permite que ele seja armazenado ao ar livre por longos períodos.


Diferentemente do feno tradicional, o feno pré-secado é enfardado com maior umidade e embalado hermeticamente


Um feno de alta qualidade é reconhecido por sua cor verde vibrante, que indica boa conservação, feno com tonalidade amarelada sugere secagem excessiva, enquanto uma cor marrom aponta para fermentação causada por umidade excessiva. 


A proporção entre folhas e caules é outro fator essencial; quanto maior a quantidade de folhas, mais nutritivo e digerível será o feno, outro fator é a temperatura interna do feno, que deve ser menor que a temperatura ambiente, um aumento significativo pode indicar atividade microbiana, como fermentação, que reduz o valor nutricional. 


A umidade também é crucial: a desidratação deve ser uniforme para evitar áreas com excesso de umidade, que favorecem o crescimento de fungos, o revolvimento da forragem durante a secagem é vital para garantir uma desidratação homogênea.


Com isso podemos classificar o feno em três distintas categorias.


Tabela 2. Classificação de feno em função da qualidade























Tipo Umidade (%) Proteína Bruta (PB) Fibra em detergente neutro (FDN)
(% na MS)
A 15-12 >13 <65
B 18-15 9-13 65-69
C 18-15 <9 >69

FONTE: Pedreira (2005) NOTA: MS - Matéria seca.


Dada a variação nos níveis de qualidade, é natural que os preços do feno também variem consideravelmente, influenciados principalmente pela umidade e pelo tipo de forrageira utilizada, volume adquirido, o custo do frete, a região produtora, tempo de armazenamento do material e época do ano que foi feita a aquisição.


Com isso até o final da segunda quinzena de agosto de 2024, em São Paulo foi observada a seguinte variação de preço: 


Tabela 3. Preços médios de feno (R$/t) em São Paulo.




































Empresas Tipos de Feno R$/t
Empresa A Tipo A 2.000,00
Empresa B Tipo B 812,50
Empresa C Tipo A 1.400,00
Tipo B 884,00
Empresa D Tipo A 2.900,00
Tipo B 2.142,00
Tipo C 1.285,00

Fonte: Dados coletados pela Scot Consultoria, preços FOB*.


A fenação, quando bem planejada e executada, é um investimento estratégico para a pecuária, ao assegurar um suprimento contínuo de forragem de qualidade, os produtores podem otimizar a produção, reduzir custos com alimentação suplementar e mitigar os riscos da sazonalidade.


A escolha da espécie forrageira, a conservação adequada e o armazenamento eficiente são pilares desse processo. 


No entanto, a decisão de implementar a fenação na propriedade exige uma análise cuidadosa de fatores como custo-benefício, disponibilidade de mão de obra, área cultivável e infraestrutura, visando garantir a viabilidade econômica e operacional da atividade.