A área com pastagens no Brasil está estimada em 177,2 milhões de hectares (Lapig), crescimento de 56,5% desde 1985.
A área ocupada com pastagens atingiu o pico em 2008, com 179,9 milhões de hectares. De lá para cá, a área diminuiu 8,4%, ou 15,1 milhões de hectares.
Em 2002, 72,4% das áreas com pastagens apresentavam algum tipo degradação - sendo 30,7% delas com degradação severa e 41,6% com degradação moderada. Em 2021, as áreas degradadas regrediram para 60,7%, sendo 19,5% com degradação severa e 41,2% em degradação moderada (figura 1).
Figura 1.
Áreas com pastagem de acordo com nível de degradação e sem degradação ao longo do tempo, em milhões de hectares.
Fonte: MapBiomas e Lapig / Elaborado por Scot Consultoria.
A degradação é um processo que ocorre ao longo do tempo, com queda contínua da produtividade da pastagem e, na ausência de interferência antrópica, tende a aumentar conforme o uso da área.
A avaliação da degradação da pastagem pode ser feita acompanhando a capacidade de suporte (UA/ha/ano), pela perda da produtividade animal (ganho de peso ou da produção de leite) e observando o desenvolvimento da pastagem (pasto “rapado” ou pasto “passado”).
Dessa forma, se ano a ano o número de bovinos mantido em determinada pastagem estiver diminuindo, os indícios são de que essa pastagem está degradando.
A observação do aumento no percentual de plantas invasoras e consequentemente o declínio no percentual de capim (ou de leguminosas forrageira), compactação do solo e erosão são indicativos que há processo de degradação.
O manejo preventivo da pastagem é a forma eficaz para evitar a degradação. O produtor deve, desde a formação da área, controlar rotineiramente a taxa de lotação, periodicamente analisar o solo e manter a fertilidade e controlar as plantas invasoras e insetos-pragas.
Existem três opções principais para converter a degradação das pastagens, a depender do nível da degradação, do caixa disponível e da qualificação técnica do produtor.
A primeira é a recuperação direta, que consiste no controle das plantas invasoras e ajuste da fertilidade do solo por meio de adubação, com base em análise do solo. Em alguns casos, pode ser necessário a ressemeadura das forrageiras apenas em áreas de solo descoberto.
A segunda é a renovação, ou seja, a formação em uma nova pastagem. Neste caso, além da correção da fertilidade do solo, é necessário a ressemeadura com a mudança ou não da espécie. O uso da área tem que ser interrompido por cerca de 90 dias, tempo hábil para a formação da nova pastagem.
E a terceira é a recuperação/renovação indireta, que através da integração de vários sistemas de produção se busca recuperar a fertilidade do solo, obter renda em curto prazo ou diversificação da geração de renda. A integração pode ser realizada através da lavoura e pecuária (ILP), lavoura, pecuária e floresta (ILPF) ou pecuária e floresta (IPF).
A última opção requer mais investimentos em curto prazo, contudo, possui maior potencial de retorno do capital investido, agregando outras atividades e novas fontes de renda em uma mesma área.
A Integração Lavoura-Pecuária (ILP), consiste na integração da agricultura, principalmente soja, sorgo e milho, com a pecuária, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área, em um mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos.
A técnica, geralmente, é iniciada em pastagens degradadas. Ao longo de um período entre três e cinco anos, são conduzidas lavouras, após o qual a área é convertida novamente em pastagem por um período equivalente. O ciclo se repete, tornando-se um sistema estável.
Há ainda, a possibilidade de associação da ILP com o cultivo de lavouras anuais de verão seguidas por pastagens de outono-inverno, que também servem como cobertura vegetal para as culturas de verão, podendo ser dessecadas para o cultivo de verão.
Os benefícios da implementação do sistema são inúmeros, e recíprocos entre a lavoura e a pecuária, reduzindo as causas da degradação física, química e biológica do solo, resultantes de cada uma das explorações.
Os principais benefícios da ILP para a pecuária extensiva são a diluição dos riscos econômicos, uma vez que a produção não depende exclusivamente de uma atividade, melhorias na qualidade e disponibilidade da pastagem, redução dos custos com suplementação animal, aumento do bem-estar animal, redução do impacto ambiental e aumento de rentabilidade.
Em pesquisa da Bisceglie (2024), comparando as diferenças dos resultados de fazendas que implementaram o ILP com fazendas de pecuária tradicional, contatou-se uma melhora no desempenho da recria na ILP com ganho médio diário (GMD) na ordem de 267%, passando de 0,180 kg de GMD para 0,680 kg de GMD.
Para as culturas, ocorre a melhoria da estrutura e das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, em função da rotação de culturas, além de aumentar a matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes.
A rotação das culturas e/ou a presença de plantas, possibilita também a quebra do ciclo de doenças e de pragas específicas na produção. A integração oportuniza o controle de plantas invasoras, dado que a rotação diminui o desenvolvimento dessas plantas e proporciona um controle mais efetivo.
A introdução da pastagem, com subsequência, as culturas anuais, promove-se uma maior produção de grãos, uma que vez, que permite a recuperação do solo e aumento da matéria orgânica, favorecendo o desenvolvimento das culturas posteriores.
A integração de diferentes atividades, permite uma redução nos custos com insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, otimização do uso do maquinário e mão de obra, e a diversificação das fontes de renda.
Dessa forma, com a existência de várias atividades em uma mesma área, diminui-se a necessidade de abertura de novas áreas para a produção, seja agrícola ou animal.
No Brasil, não há dados oficiais referentes aos sistemas de integração. A Rede ILPF e a Embrapa, estimaram que na safra 2015/16, a área com algum dos sistemas de integração foi de 11,47 milhões de hectares, que equivale a 5,5% da área sob uso agropecuário.
Na safra 2020/21, estima-se, que a área com sistemas integrados tenha aumentado 52,0%. Ou seja, a área com integração subiu para 17,43 milhões de hectares, detendo 8,3% da área sob o uso agropecuário (figura 2).
Figura 2.
Evolução da área de ILPF implantada no Brasil em milhões de hectares.
Fonte: Rede ILPF.
De acordo com a pesquisa-expedicionária Confina Brasil 2023, organizada pela Scot Consultoria, de 180 propriedades pesquisas, 46,7%, ou 84 delas, realizam algum tipo de integração, seja lavoura-pecuária (ILP), pecuária- floresta (IPF) ou lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
Das que fazem integração, 95,2%, ou 80 propriedades, trabalham com o sistema de ILP, enquanto o restante (4,8% da amostra) realizam IPF (2,4%) e ILPF (2,4%). A maior parte das propriedades com ILP se concentra nos estados de Mato Grosso (17,5%), São Paulo (12,5%) e Goiás (12,5%).
Os estados com maior área com algum sistema de integração são:
• Mato Grosso do Sul com 3,17 milhões de hectares (18,2%);
• Mato Grosso com 2,28 milhões de hectares (13,1%);
• Rio Grande do Sul com 2,22 milhões de hectares (12,7%);
• Minas Gerais com 1,59 milhões de hectares (12,7%).
O Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), foi criado em 2010, com o fim de promover a adoção de técnicas agrícolas sustentáveis.
O Plano trouxe resultados, tanto em área, quanto em mitigação de gases de efeito estufa. Em relação à recuperação das pastagens degradas, o Plano permitiu a reconstituição em 26,8 milhões de hectares e 36,01 milhões Mg CO2 eq. de mitigação de gases de efeito estufa (GEE).
O Plano ABC+, implementado após a ratificação do Acordo de Paris pelo Brasil, estabelece metas até 2030. O objetivo é recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas e mitigar 113,7 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em emissões de GEE.
Os impactos da adoção da ILP nas fazendas
Os principais custos que englobam a atividade são com sementes e insumos, como fertilizantes e, preparo de solo com maquinário e mão de obra.
Em sistemas com ILP, a eficiência no uso de nutrientes pode reduzir a necessidade de fertilizantes em até 30,0%, especialmente com rotação de culturas e pastagens (tabela 1).
Tabela 1.
Número de sementes por metro quadrado no solo, em áreas de um experimento de cultivo lavoura-pastagem, na profundidade de 0-20 cm (1).
Fonte: Ikeda et al., 2007.
Estudos da Embrapa comprovaram que a associação de pastagem com lavouras aumenta o rendimento dos grãos. Por exemplo, após três anos de pastagem com Urochloa brizantha cv. Marandu, o rendimento da soja foi 17,0% (equivalente a 510 kg/ha de grãos) maior ao obtido no sistema de lavoura contínua.
Quanto à saúde das lavouras, o milho safrinha consorciado com Urochloa ruziziensis mostrou-se mais eficaz na desinfestação de solos contaminados pelo fungo do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) em comparação com o milho safrinha em monocultura.
Além disso, a palhada de Urochloa ruziziensis e de Urochloa brizantha cv. Marandu mostrou efeito positivo no controle de patógenos como Fusarium solani, Rhizoctonia solani e Sclerotinia sclerotiorum. Outro benefício notável foi a redução na população de plantas daninhas.
A integração de sistemas, ainda, proporciona benefícios à produção animal. Como a recuperação da fertilidade do solo, que permite à forrageira expressar seu potencial máximo de produtividade, assim aumentando a taxa de lotação da área.
O ganho de peso animal pode ser influenciado tanto em pastagens degradadas e recuperadas quanto em pastagens de sistemas de integração lavoura-pecuária (tabela 2).
Tabela 2.
Produção animal em pastagens degradada e recuperada e em pastagem de sistemas de integração lavou-pecuária num Latossolo de Cerrado, Campo Grande, MS.
Fonte: EMBRAPA, adaptado de Macedo (2007).
Por fim, a ILP é um caminho sólido para transformar o agronegócio brasileiro, unindo produtividade com sustentabilidade de forma exemplar.
Ao combater a degradação das pastagens, restaurar a saúde do solo e promover o bem-estar animal, a ILP não apenas impulsiona a eficiência das propriedades rurais, mas também se alinha com as exigências globais por práticas responsáveis frente às mudanças climáticas.
Ao adotar a ILP, o Brasil não só preserva recursos naturais, como também assegura um futuro próspero e resiliente para o agronegócio, abrindo portas para uma produção sustentável e rentável.
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