Na primeira parte dessa sequência de artigos foram citados e descritos os principais capins infestantes de pastagens, suas origens, as regiões onde a sua infestação tem sido maior e as suas características e mecanismos de infestações.
Independente da planta daninha, ser uma monocotiledônea (Poacea, gramínea, capim, planta de folha estreita) ou dicotiledônea (Fabacea, planta de folha larga, latifoliada), os fundamentos de manejo e controle são os mesmos. Como manejos de plantas daninhas são adotados o preventivo e o cultural. Como métodos de controle são adotados o mecânico, o biológico, e o químico. Manejo e controle devem ser adotados de forma integrada.
O fogo tem sido usado no controle de plantas daninhas por milhares de anos pela humanidade, mas tecnicamente, economicamente e ambientalmente não é recomendado. E no caso do uso do fogo para o controle dos capins infestantes, está comprovado que o efeito é contrário, já que o fogo quebra a dormência das sementes destes capins, acelerando a sua germinação aumentando a sua infestação.
Para prevenir a infestação das áreas de pastagens de uma propriedade, adotam-se os manejos preventivo e cultural.
O manejo preventivo consiste na compra de sementes com alta porcentagem de pureza para o estabelecimento da pastagem; na adoção de protocolo de recebimento de animais recém-chegados na propriedade; na limpeza de roupas e calçados de trabalhadores que trabalharam em áreas infestadas; na limpeza de implementos, de máquinas e veículos que transitaram e trabalharam em áreas infestadas.
O manejo cultural consiste no manejo correto da pastagem, para que a planta forrageira tenha vigor para competir com as plantas daninhas, evitando que estas infestem as pastagens. Faz parte do manejo da pastagem para esta finalidade a escolha e estabelecimento de plantas forrageiras adaptadas às condições de clima e solo da região; o estabelecimento correto da pastagem; o manejo correto do pastoreio pelas alturas alvos especificas, para cada espécie e variedade de planta forrageira, os ajustes da taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem; o controle de pragas (insetos, nematóides); a correção e adubação do solo etc.
Uma vez as plantas daninhas já presentes na pastagem, é preciso adotar os métodos de controle. Para definir quais métodos serão adotados, é preciso primeiro fazer um levantamento do nível de infestação para decidir pela recuperação ou pela renovação da pastagem.
Recuperar é quando o estande da planta forrageira está preservado e uniforme, cobrindo quase toda a superfície do solo da área do piquete e o nível de infestação dos capins infestantes for baixo a médio na composição botânica da pastagem e mais localizado em reboleiras, nos malhadouros. Por outro lado, renovar é quando o estande da planta forrageira está desuniforme, falhado, ocupando uma pequena proporção da superfície da área do piquete e o nível de infestação dos capins infestantes está de médio a alto na composição botânica da pastagem e dispersos pela área do piquete.
A recuperação é feita diretamente, enquanto a renovação pode ser pelo método direto ou pelo método indireto. Pelo método indireto, se faz a integração com cultivos agrícolas em rotação ou em sucessão.
Na recuperação direta, adotam-se os seguintes procedimentos: ajuste da taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem; faz se o controle das plantas daninhas e de insetos pragas se houver, corrigir e adubar o solo. No caso específico do controle dos capins infestantes, quando a sua proporção ainda é baixa, este é feito com pulverização de herbicidas não seletivos de forma dirigida no alvo (a planta daninha), ou seja, uma aplicação localizada, geralmente com o ingrediente ativo Glifosato, ou arrancando a planta daninha. Neste caso, as plantas arrancadas devem ir sendo colocadas em sacos, ou sobre uma lona, ou em uma carreta, e depois levadas para longe e queimadas. Em infestações médias, é feito com aplicação de herbicidas seletivos em área total com pulverizadores tratorizados, ou por pulverizações aéreas por meio de aviões e drones.
Quase todo o conhecimento sobre controle químico de plantas daninhas de pastagens acumulado em 60 anos é aplicado ao controle de plantas dicotiledôneas (latifoliadas, de folhas largas). Mas nos últimos 30 anos, as pastagens têm sido infestadas por plantas monocotiledôneas (de folhas estreitas, gramíneas ou capins). Leia a parte 1 dessa sequência de artigos.
Em experimentos conduzidos na África (desde a década de 90), Austrália (desde a década de 80), Brasil (desde a década de 70), e Cuba (desde a década de 80), foram avaliados os ingredientes ativos de herbicidas Ametrin, Atrazina, Bentazon, Chlorimuron-ethyl, Diuron, Flumetsulam, Glifosato, Imazaquin, Imazapique, Imazapir, Imazethapyr, Nicosulfuron, aplicados em pré e em pós-emergência em campos de sementes e pastagens das espécies forrageiras Andropogon gayanus; Brachiaria brizantha (marandu. piatã, xaraés); B. decumbens; B. humidicola (llanero, tupi); Cynodon (gramas estrelas); Panicum maximum cv Massai, Mombaça e Tanzânia.
Eu comecei a acompanhar testes de campo em fazendas comerciais desde 2012 no Pará; 2013 no Mato Grosso do Sul, 2014 no Tocantins e em Minas Gerais. As pesquisas e os testes de campo demonstraram que em pastagens já estabelecidas com forrageiras que produzem sementes viáveis, os resultados foram erráticos, ora com alta eficácia, ora com baixa ou nenhuma eficácia. Os melhores resultados foram no controle do capim-navalha, que se mostrou bem menos tolerante aos herbicidas testados, enquanto para o capim-capeta, os resultados foram muito inconsistentes. E os resultados com pulverização aérea a baixo volume foram os melhores, porque a fitotoxidez provocada pelos herbicidas sobre as plantas forrageiras, foi muito baixa quando comparada com a pulverização com pulverizador costal e tratorizado (alto volume de calda).
Em 11 de maio de 2018 (ato no 37 de 09/05/2018, D.O.U de 11/05/2018), foi registrado um herbicida comercial à base dos ingredientes ativos Imazapique e Imazapir para capins infestantes do gênero Paspalum sp (gênero da espécie do capim-navalha). Entretanto, o controle do capim-capeta continuou sendo um desafio, pois herbicidas a base desses ingredientes nas doses que controlam o capim-navalha não controlaram o capim Capeta, e em doses mais altas, causava fitotoxidez nos capins forrageiros. Testes em fazendas comerciais foram feitos por todo o país, com altas doses de herbicidas à base do ingrediente ativo Atrazina, em doses de 10 litros/ha do produto comercial ou 5 litros do ingrediente, com resultados inconsistentes e erráticos.
Por fim, depois de mais de 40 anos de pesquisa internacional, 50 anos de pesquisas e testes no Brasil, se chegou ao uso de herbicidas à base da mistura dos ingredientes Atrazina e Mesotriona com resultados satisfatórios, com alta eficiência de controle do capim-capeta sem causar fitotoxidez significativa nos capins forrageiros.
Na renovação direta, adota-se a seguinte sequência de procedimentos: dessecação da vegetação no último mês de chuvas na região, com herbicidas à base do ingrediente ativo Glifosato, uma sequência de gradagens com grades pesadas e intermediárias durante a seca, com intervalo de um mês entre estas; aração invertida um mês antes do plantio da pastagem, grade niveladora, semeadura ou plantio de mudas, cobertura das sementes e aplicação de herbicida pré-emergente. Mas o plantio também pode ser direto sobre palhada de culturas agrícolas ou dos próprios capins infestantes.
Quando é possível integrar com lavoura, ou seja, a renovação indireta, fica bem mais fácil e mais segura a certeza de controle eficaz, porque durante o ciclo da cultura agrícola é possível usar um amplo espectro de ingredientes ativos de herbicidas seletivos às culturas agrícolas, mas, que controlam os capins infestantes. Neste caso, é possível aplicar herbicidas em pré-plantio, em pré-emergência e em pós-emergência.
O uso de um amplo espectro de ingredientes ativos de herbicidas seletivos em pré-plantio, em pré-emergência e pós-emergência ainda é possível quando se faz o plantio de pastagem com forrageiras que se reproduzem apenas por via vegetativa (por mudas), como a maioria das variedades da espécie do capim-elefante e a maioria das espécies do gênero Cynodon sp, principalmente o cultivar Tifton 85.