O objetivo da primeira parte do artigo sobre o tema “manejando e controlando pragas que atacam pastagem” (edição de dezembro de 2024) foi o de escrever sobre o histórico do ataque de insetos pragas nas culturas desde o início da revolução agrícola até os dias atuais, citar os insetos-praga que atacam pastagens e classificá-las, descrever as causas do seu aparecimento, as formas como atacam e as partes das plantas atacadas e as consequências dos danos causados por elas com prejuízos para a produção de forragem, consequentemente para a capacidade de suporte da pastagem como também na redução da qualidade da forragem.
Na segunda parte sobre este tema escreverei sobre o manejo e os métodos de controle gerais de insetos-praga que atacam pastagem.
Os métodos de manejo e controle vão desde o legislativo, o qual está fora do alcance do pecuarista, até os métodos que podem e são adotados em nível de fazenda.
O método legislativo se estende deste leis continentais, passando por leis de países, de regiões dentro de países, de estados dentro de regiões, até de municípios dentro de estados, e tem por finalidade prevenir a introdução de insetos pragas que ainda não existem localmente ou identificadas recentemente.
O método legislativo se baseia em leis e portarias federais e estaduais, e são de modalidades diversas, tais como serviço quarentenário e medidas obrigatórias de controle. Por exemplo, os vazios sanitários que devem ser respeitados, sendo o mais conhecido no país para a cultura da soja devido à extensão do seu cultivo e a sua importância econômica.
Já os métodos adotados nas fazendas comerciais vão deste o mecânico, o cultural, a resistência de plantas, por comportamento, físico, biológico, fisiológico, autocida e químico. Nem todos estes métodos são adotados no manejo e controle de insetos-praga que atacam pastagens.
Especificamente para o manejo e controle de insetos-praga que atacam pastagens, podem e são adotados:
- Como métodos de manejo existem a resistência de plantas, o preventivo e o cultural.
- Como métodos de controle existem o mecânico, o biológico, o fisiológico e o químico.
O método de manejo de resistência de plantas tem como base o histórico de coevolução de plantas forrageiras com insetos-praga pelo qual, por meio de seleção natural, evoluíram plantas resistentes, moderadamente resistentes, moderadamente susceptíveis e susceptíveis. O que o ser humano faz, principalmente os entomologistas e os geneticistas, é observar a natureza, coletar estes materiais, levá-los para centros de pesquisas, avaliarem seus comportamentos e por meio de melhoramento genético selecionar ou cruzar variedades resistentes, que são lançadas como cultivares resistentes.
Como mecanismos de resistência já são conhecidos a antibiose, a antixenose e a tolerância.
A antibiose é um mecanismo de natureza química que está relacionada aos efeitos de substâncias produzidas pelo metabolismo secundário das plantas sobre o crescimento, o desenvolvimento e a reprodução dos insetos.
A antixenose é um mecanismo tanto de natureza química como morfológica. O primeiro é semelhante à antibiose, enquanto o segundo está relacionado com a presença de estruturas e excreções que afetam a locomoção, acasalamento, a colonização, a alimentação e a oviposição dos insetos, evitando que a planta seja colonizada.
A tolerância está relacionada a fatores intrínsecos à planta, como a capacidade de certas gramíneas de maior vigor ou área foliar emitirem novas brotações rapidamente e tolerarem o ataque de insetos-praga, sem que haja efeito sobre o comportamento ou biologia do inseto.
Um cultivar ou um genótipo resistente é aquele que, em virtude de sua constituição genotípica, sofre menos danos que outros cultivares ou outros genótipos em condições de igualdade para o ataque de um inseto-praga. A resistência é relativa, e a sua detecção pressupõe estudos comparando dois ou mais genótipos diferentes.
A resistência geralmente é específica, ou seja, um determinado genótipo pode ser resistente a uma determinada espécie de inseto-praga, mas na mesma condição, ser suscetível a outros insetos. A manifestação do caráter da resistência depende das interações entre genótipo e ambiente, ou seja, dependendo de condições ambientais especificas um mesmo genótipo se manifesta como resistente, enquanto em outro ambiente se manifestar como susceptível a um mesmo tipo de inseto-praga.
O método de manejo preventivo tem a finalidade de prevenir a introdução de insetos-praga na propriedade. Devem ser adotados a compra de sementes com alta porcentagem de pureza, idealmente sementes de padrão tipo exportação, para prevenir a introdução de ovos de insetos-praga por meio de sementes, semear sementes tratadas com inseticidas para o controle de insetos-praga que já estão na área, principalmente na fase de emergência de plântulas e perfilhamento inicial; a limpeza de implementos, máquinas, veículos, vestes e calçados de funcionários que trabalharam em áreas infestadas antes de iniciarem o trabalho em uma nova área onde ainda não tem infestação de um determinado inseto-praga.
Deve-se dar ainda mais atenção à adoção deste método em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta porque nestes os prejuízos não são somente para a pastagem e a pecuária, mas também para as culturas agrícolas.
O manejo cultural consiste em adotar todas as práticas de manejo da pastagem, com a finalidade de aumentar o vigor e a tolerância da planta forrageira aos ataques de insetos-praga. A diversificação de espécies forrageiras na propriedade, o cultivo de espécies forrageiras adaptadas às condições do ambiente da fazenda, principalmente o clima e o solo, o estabelecimento correto da pastagem, o manejo correto do pastoreio, a correção e adubação do solo e não queimar a pastagem, são as bases deste método.
Por exemplo, se o manejo do pastoreio levar ao superpastejo, as rebrotas serão tenras e com baixo índice de área foliar, colocando a planta muito sensível ao ataque de insetos-praga cortadores/mastigadores/rapadores. Por outro lado, se o manejo do pastoreio leva ao subpastejo, as perdas de forragem aumentam, formando camada de palhada espessa, que cria um ambiente favorável à sobrevivência de ovos e larvas, com consequente aumento da densidade populacional de insetos-praga.
O correto manejo da fertilidade do solo leva a uma nutrição equilibrada da planta, sendo que todos os nutrientes essenciais e uteis, de forma direta e indireta, aumentam a tolerância da planta a estresses abióticos (extremos de temperatura e de umidade) e bióticos (causados por insetos pragas e doenças). De forma direta os nutrientes cálcio, potássio e silício aumentam este tipo de tolerância.
Como método mecânico se adota o preparo do solo no período da seca, com o objetivo de quebrar os ninhos de insetos-praga de solo, alterar a umidade, a temperatura e a velocidade dos ventos dentro dos ninhos, e expor as larvas e os ovos à radiação solar, como também deixar a área sem vegetação que sirva de alimento para os insetos. Mesmo para os insetos-praga que não são de solo, o preparo do solo por meio de aração, gradagens, expõe seus ovos e larvas à radiação solar, diminuindo o nível populacional na estação chuvosa seguinte. Entretanto, este método mecânico só deve ser adotado no estabelecimento de novas pastagens ou na renovação de pastagens degradadas. Em pastagens bem estabelecidas, com estande de plantas preservado não é recomendado.
Outro método mecânico, é a roçada de pastagens antes que insetos-praga cortadores diminuam ou eliminem a área foliar das plantas.
Como método de controle biológico se adota o pastejo antes que insetos-praga cortadores diminuam ou eliminem a área foliar das plantas, a aplicação de espécies de bactérias e fungos específicos que causam doenças aos insetos-praga.
Como exemplo da aplicação de bactérias, tem o controle de lagartas cortadoras com a espécie Bacillus thuringiensis. Como exemplo da aplicação de fungos, tem a espécie Beauveria bassiana no controle de lagartas cortadoras, e o Metarhizium anisopliae no controle de cigarrinhas que atacam pastagens.
O método fisiológico consiste no uso de inseticidas a base de reguladores de crescimento que alteram o metabolismo do inseto-praga, como por exemplo, impedir as ecdises (as mudas) do exoesqueleto do inseto e as metamorfoses. Este método tem sido mais adotado no controle de lagartas cortadoras.
O método de controle químico consiste no uso de inseticidas químicos de contato e sistêmico, e a combinação de ambos.
Entretanto, nenhum método de manejo ou de controle, isoladamente, é eficaz no controle de insetos-praga, sendo recomendada a adoção do manejo integrado de pragas, conhecido pela sigla MIP. Este método consiste em um conjunto de métodos de controle, tais como os listados neste texto, com a finalidade de manter os insetos-praga abaixo do nível de dano econômico e é executado em etapas: reconhecimento dos insetos-praga mais importantes; avaliação populacional, determinação dos níveis de controle e de dano econômico, avaliação de inimigos naturais, estudo das condições climáticas, avaliação do melhor método de controle e execução do método.
O nível de controle é definido pela densidade populacional do inseto praga, na qual se deve tomar medida de controle, de modo a evitar danos econômicos. Enquanto o nível de dano econômico é a densidade populacional de um inseto-praga, cujo prejuízo causado será igual ao seu custo de controle.
O inseto-praga que mais tem causado danos recorrentes às pastagens no Brasil são as cigarrinhas que atacam pastagens, sendo classificadas como insetos-praga principais ou específicos desta cultura.
Na terceira e última parte desta série de artigos sobre “manejando e controlando insetos-praga que atacam pastagens” vou trazer os conteúdos dos textos da primeira e da segunda parte aplicadas ao manejo e ao controle de cigarrinhas que atacam pastagens – aguarde.