As emissões de gases de efeito estufa provenientes da agricultura poderão aumentar 40% até 2030 se não houver uma mudança no modo de produção no setor, informa o relator especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter. Feroz opositor da produção de etanol, Schutter aproveitou a abertura da conferência do clima em Cancún (México) para divulgar um comunicado em Nova York no qual alerta para "impacto desastroso" da mudança climática sobre o acesso à alimentação.
O relator acredita que os reflexos da mudança climática sobre a volatilidade dos mercados e a produção agrícola dos países em desenvolvimento estão agora bem documentados. Cita como exemplo o grupo de especialistas intergovernamentais sobre a evolução do clima (GIEC, na sigla em inglês), o mesmo que foi acusado de ter exagerado algumas estimativas em recente debates.
Segundo Schutter, na África Austral os rendimentos da agricultura pluvial poderão cair 50% até 2020, e as zonas áridas e semi-áridas podem aumentar em até 90 milhões de hectares, ampliando a fome de populações pobres. "A agricultura já é diretamente responsável por 14% das emissões de gases de efeito estufa, e seguir cegamente na vida de uma agricultura industrial é insustentável". Ele propõe de maneira genérica a consolidação de uma "agro-ecologia" - técnicas que preservem os recursos naturais e reduzam emissões - e promete para março um relatório na ONU sobre como um plano dessa natureza poderia funcionar.
A conferência de Cancún também abriu espaço para novas acusações contra a produção de carnes. Artigo do jornal "Financial Times" estima que os consumidores de carnes trazem mais ameaças do que a produção industrial. Diz que o setor de carnes produziria 18% das emissões globais, mais do que os aviões, trens e automóveis juntos. Além disso, o setor consome, direta ou indiretamente, 8% da água no mundo. A FAO, braço da ONU para agricultura e alimentação, continua examinando todos os efeitos da produção de carnes sobre o clima, e os resultados esperados são negativos.
Fonte: Valor Econômico. Por Assis Moreira. 30 de novembro de 2010.