Aconteceu de tudo na grande conferncia ambiental promovida pela ONU, em dezembro, na Dinamarca. Chefes de Estado fazendo cartaz, ONGs mostrando fora, lobistas exibindo poder, cientistas ostentando categoria, diplomatas negociando, jornalistas aparecendo. Mistura de sria reflexo com festa ecolgica.
Temas variados da agenda ambiental desfilaram nos incontveis eventos paralelos da conferncia, enquanto os representantes dos governos nacionais pouco se entendiam na sala da reunio oficial. Nada escapou do debate. Vale a pena destacar aqui as principais questes discutidas em Copenhague. Um resumo breve e didtico.
Primeiro, claro, sobre o aquecimento global inexistia qualquer ceticismo naquele gelado inverno. Ningum duvida que o planeta esteja enfrentando um "efeito estufa" ampliado pelos gases que, em razo da ao humana, ou antrpica, aprisionam parte da radiao solar na atmosfera. Medidas urgentes e radicais sero necessrias para impedir a continuidade do deletrio processo, estancando o problema at 2050. O gs carbnico (CO
2), nunca considerado malfico na agenda da poluio, agora se transforma em vilo. Pequenos pases formados por ilhas ocenicas se apavoram com o assunto. Afinal, derretendo as geleiras e subindo o nvel do mar, simplesmente podero desaparecer. Por isso a angustiada Tuvalu, um pequenino Estado formado por nove atis polinsios, deu o tom na COP 15.
Segundo, debatia-se intensamente sobre como financiar as polticas de mitigao do fenmeno climtico. Mitigar significa amenizar, emitir menos gases estufa no espao. Mudanas nos processos de produo, pesquisa de novas tecnologias, investimentos nas energias renovveis, combate ao desmatamento, quem vai pagar a conta dessas imprescindveis aes? Os pases mais pobres, ainda em desenvolvimento, querem que as naes ricas banquem a modificao de suas economias. Afinal, foram eles que, h muito mais tempo, provocaram o problema climtico. Sob esse prisma, a reunio da Dinamarca parecia uma grande conferncia econmica, no ambiental.
Terceiro, discutiu-se bastante sobre a responsabilidade da lio de casa. Governos, empresas, entidades ambientalistas, governos subnacionais, cientistas, ser necessrio articular as vrias foras da sociedade em prol do benefcio ambiental. Nesse quesito, os Estados de So Paulo e da Califrnia se sobressaram, mostrando, por intermdio de seus governadores, Jos Serra e Arnold Schwarzenegger, a fora do poder local. Pensar globalmente, agir localmente: chave para a educao ambiental.
Em quarto lugar, todos defenderam a necessidade de as propostas para enfrentar mudanas climticas serem mensurveis, reportveis, conferveis. H que ter metas, cronogramas, recursos, gente capaz de conduzir as polticas de defesa ambiental. Ningum aguenta mais apenas o discurso carregado de boas intenes. O drama da poluio exige menos retrica, mais ao concreta. Uma nova fase do ambientalismo se inaugura, a da gesto ambiental com resultados. Mais que discutir, fazer.
Quinto, as energias renovveis destacaram-se contra as energias fsseis do petrleo e do carvo. Nesse aspecto o Brasil avanou divulgando o etanol, combustvel elaborado a partir da biomassa, embora tenha tomado poeira na energia elica. Carros eltricos se distinguiram, habitao sustentvel virou moda na construo civil. Eficincia energtica tornou-se coqueluche na Europa.
Da Amaznia ao vegetarianismo, temas especficos atarefaram os militantes ecolgicos. O Bella Center, local do evento, era um grande
happening. S faltou, mesmo, uma questo, eternamente esquecida das discusses ambientalistas: a demografia. A pegada ecolgica, conceito recentemente desenvolvido, aproxima-se da crtica a esse fantasma do crescimento populacional. Continua de p, porm, o maior tabu da ecologia.
Como no poderia deixar de acontecer, lderes populistas aproveitaram o clima da conferncia de Copenhague para fazer seu proselitismo poltico. O discurso mais fcil sugeria xingar os ricos em nome dos pobres, reduzindo a questo ambiental a uma disputa entre o Norte e o Sul, relembrando a poca do Terceiro Mundo. Lula e Chvez, por certo, capitanearam essa demagogia ambiental.
Copenhague no configurou um fracasso total. Quando milhares de pessoas, bem acima das expectativas, representando entidades variadas, se dedicam to apaixonadamente a uma causa, como acontece atualmente com a poltica ambiental, o resultado aparece. Se no de imediato, firma-se no momento seguinte. Aqui est uma leitura positiva da COP 15. Nunca a ecologia esteve to em voga, discutida amplamente, envolvendo inclusive sociedades perifricas. Ganho na certa.
Inexistiu um fecho da reunio, verdade. O documento final aprovado mostrou-se pfio ante o tamanho do desafio colocado pelas mudanas climticas. Quem aguardava um novo caminho, com metas obrigatrias de reduo dos gases de efeito estufa, acabou frustrado. Mandatrio murchou para declaratrio.
Mesmo assim, as mudanas esto em marcha. Modifica-se o padro da economia mundial. Empresas redefinem suas estratgias competitivas, governos revem seus planos, a sociedade grita e empurra. Aps dois sculos de industrializao explorando a natureza, nasce novo paradigma da economia de baixo carbono. A economia verde do futuro.
Ano-novo renova as esperanas de vida melhor. Tomara que neste 2010 uma governana global se firme para enfrentar o terrvel drama do aquecimento planetrio. No Brasil a torcida deseja que as eleies presidenciais incorporem o desenvolvimento sustentvel no seu mago. Um avatar ambiental.
Feliz ano-novo.
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