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Scot Consultoria

Enganos e mentiras sobre emissões de CO2 no Brasil


Quarta-feira, 29 de setembro de 2010 - 17h59

Entre 2000 e 2005, os Estados Unidos foram campeões do desmatamento ao perder 6% de suas florestas. O Canadá ficou em segundo lugar com 5,2% e o Brasil em terceiro lugar com 3,6%. Em termos absolutos, o Brasil ficou em primeiro com a perda de 165.000 km2 de florestas, seguido de perto pelo Canadá com 160.000 km2. Os EUA ficaram em terceiro com 120.000 km2. Esses dados foram publicados em março nos Anais da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos por Matthew C. Hansen, Stephen V. Stehman e Peter V. Potapov do Centro de Excelência em Ciências de Informação Geográfica da Universidade de Dakota do Sul e do Colégio de Ciências Ambientais e Florestais da Universidade de Nova Iorque (O artigo integral está disponível em www.pnas.org/content/early/2010/04/07/0912668107 ). Na quantificação das perdas florestais por imagens de satélite, os pesquisadores consideraram tanto as causas naturais (incêndios, ataques de pragas, etc.) como as humanas (desmatamentos). O artigo não repercutiu no Brasil, nem na mídia, nem nos meios acadêmicos ou governamentais. Estariam todos informados desse nível impressionante de desmatamento na América do Norte? Estariam todos cientes que o desmatamento da Amazônia de 19.014 km2 em 2005 caiu para 7.464 km2 em 2009? Esse trabalho científico suscita a questão de saber se os Estados Unidos e o Canadá incluem em seus balanços de emissão de gás carbônico (CO2) essas perdas de florestais. O Brasil tem sido acusado de ser um grande emissor de CO2. Até como quarto emissor mundial somos colocados, sem que se explique o que está sendo comparado, a partir de que dados e com que critérios. Considerando quatro indicadores homogêneos de comparação: o valor absoluto das emissões de CO2 e os valores relativos por habitante, por km2 e riqueza produzida, o Brasil está entre os que menos contribuem com esse fenômeno, segundo os dados da Energy Information Administration – Independent Statistics and Analysis dos EUA de 2005 (Disponível em http://tonto.eia.doe.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm?tid=90&pid=44&aid=8 ) e do Balanço Energético Nacional (BEN) (Disponível em www.ben.epe.gov.br ). Emissões Totais Absolutas Em termos absolutos de emissões totais de CO2 de origem fóssil, o mundo emitia 28 bilhões de toneladas em 2005. Os EUA respondiam por 21% com 5,957 bilhões de toneladas, seguidos pela China com 5,323 bilhões (19%). Depois vinha a Rússia com 1,696 bilhão (6%) e o Japão com 1, 230 bilhão (4,4%). Juntos, eles representavam 50% das emissões planetárias. O Brasil estava em 18o lugar com 360 milhões de toneladas (1,3%), bem atrás da Alemanha, Canadá, Inglaterra, Coréia do Sul, Itália, África do Sul, França, Austrália, México e outros países. Emissões por habitantes Os EUA são líderes da emissão de CO2 por habitante/ano: mais de 20,14 toneladas e só perdem para alguns países produtores de petróleo como Qatar (62,15t) ou Emirados Árabes (33,7t). A Austrália com 20,24t quase empata com os norte-americanos, seguida pelo Canadá (19,24t), Rússia (11,88t) e Alemanha (10,24t). As emissões européias são o dobro da média mundial que é de 4,4 t/CO2/habitante/ano. A América Latina apresenta uma média de 3,1 toneladas por habitante. Aqui, cada brasileiro emite 1,9 toneladas de CO2 por ano: doze vezes menos do que os norte-americanos, quatro vezes menos do que os europeus e metade da média mundial. Ocupamos a posição de 88º no mundo. Emissões por km2 No Brasil, as emissões são da ordem de 42,38 toneladas de CO2/km2/ano enquanto no Canadá são de 63,73t, na China de 569,95t, nos EUA de 630,32t, na Alemanha de 2.370,54t, no Japão 3.298,12t, na Bélgica 4.455,77t, na Coréia do Sul 5.080,71t e na Holanda de 7.597,62t/CO2/km2/ano! Ocupamos a posição de 96o no mundo. Emissões para gerar riquezas O quociente entre o total de toneladas CO2 emitidas por um país e seu Produto Interno Bruto (PIB) dá uma medida de sua eficiência energética e ambiental na geração de riquezas. A grosso modo, quanto mais eficiente o país, menor o número. Dada a variação da cotação do dólar entre países, o PIB foi calculado pelo poder de compra das moedas nacionais, o chamado Purchasing Power Parities (PPP). Os campeões de emissões de CO2 para gerar riquezas eram China (0,63) e Holanda (0,62), esta última com destaque nos três quesitos (emissões por habitante, por área e por unidade de PIB), seguidas pelo Canadá 0,61. A média mundial era 0,49 e a da Europa 0,39. O Brasil, com um quociente de 0,24, é mais eficiente do que uma centena de países no mundo: ocupava a posição de 108o. E os desmatamentos? Qual seria a posição do Brasil entre os emissores de CO2, caso às emissões de origem fóssil fossem agregadas as resultantes dos desmatamentos? Quem afirma que o Brasil ocuparia o quarto lugar é no mínimo duplamente desonesto. Ninguém sabe exatamente essa posição, por duas razões. Em primeiro lugar, o país não dispõe de avaliação criteriosa do total de CO2 emitido como resultado de desmatamentos. O Inventário Brasileiro de Emissões (1990/94) apresenta uma dezena de incorreções. Sequer descontou a madeira industrializada das áreas desmatadas, convertendo tudo em fumaça. Em segundo lugar, o mesmo cálculo deveria ser realizado pelos outros países do mundo para ser possível comparar. Agregar emissões dessa natureza ao cálculo do Brasil e compará-lo comas únicas emissões fósseis dos países é uma desonestidade, basta ver os dados do desmatamento atual na América do Norte, não computados. Conclusão O que explica esse excelente desempenho do Brasil é sua matriz energética: 46,4% de energia renovável contra uma média mundial de 13,9%. A agricultura garante 28,5% dessa energia renovável e consome apenas 4,5% na matriz. Somos os campeões mundiais da agroenergia. Existe uma injustificável vitimização do País nesse tema na mídia, aqui e no exterior, inclusive em áreas governamentais. Um tratamento bem diferente do dispensado à Holanda, por exemplo, que apesar de tão ameaçada pelo aumento do nível dos oceanos usa e abusa de combustíveis fósseis. Fonte: Portal DBO Rural. Por Evaristo Eduardo de Miranda, Doutor em ecologia, pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite.
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