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Scot Consultoria

Verdade ambientalista versus fundamentalismo


Sexta-feira, 26 de março de 2010 - 08h45

O que parecia impossvel, acontece: estamos s vsperas de comear a conhecer, com preciso cientfica, o que o Brasil pode e no pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas. E mantendo o equilbrio da natureza, preservando as manifestaes de vida, animal e vegetal, e, a um s tempo, liderando a produo mundial de alimentos. Todo esse conhecimento ser alcanado por cientistas e pesquisadores brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) e das instituies parceiras, que comearam o trabalho e tm desde j os recursos necessrios assegurados. Ufa! Finalmente, a questo ambiental neste pas se desloca da defesa fantica de dogmas para o conhecimento cientfico sistemtico. Quem est em campo sabe (e como sabemos e sofremos!) que o jogo do ambientalismo e da ecologia no Brasil um vale-tudo. No tem regras. Uns poucos se autodenominam "defensores da natureza", conseguem franquias de ONGs internacionais ou criam as suas prprias, arrecadam muito dinheiro para definir o bem e o mal e lanar suas sentenas arbitrrias. Isso pode, isso no pode, decidem. Espalham avaliaes, frequentemente difamatrias, contra quem escolhem para bode expiatrio. O que decidem passa em julgado, sem apelao. J a sociedade, perplexa e generosa, preocupada com a qualidade de vida, as mudanas climticas e a prpria sobrevivncia do planeta, submete-se a toda sorte de exageros, supersties e invencionices, at mesmo porque as opinies arbitrrias vm sempre mescladas com as melhores e mais comoventes prescries. As prprias leis ambientais brasileiras, mesmo as consensuais, revelam generosidade e ignorncia, pois, em sua maioria, no tm nenhuma base cientfica e experimental. Por outro lado, ONGs exploram a insegurana, a debilidade institucional e a antropofagia poltica de uma nao que tardiamente, mas efetivamente, est driblando as suas contradies e avanando no bom caminho da ordem democrtica. Os paradigmas que nos querem impor refletem o remorso, a hipocrisia e, principalmente, o poder econmico dos povos at agora ditos desenvolvidos e que atravs de milnios de Histria desconstruram suas paisagens e no tm mais condies de recomp-las. Desta vez, porm, sofrero um contra-ataque que no esperavam, num pas tropical e extico, como nos olham. Estou escrevendo sobre o Projeto Biomas, a ser conduzido pela Embrapa, envolvendo 240 pesquisadores de vrias instituies e uma histria de sucessos - descobertas, invenes, experimentaes - que tornaram o Brasil o terceiro maior exportador mundial de alimentos (na verdade, o segundo, pois a Unio Europeia, hoje em segundo lugar, no um pas, mas a soma de 27 pases). O Projeto Biomas a oportunidade de ouro para a agropecuria brasileira, escorada no conhecimento cientfico, mostrar seus compromissos ticos e produzir sem medo. Escolhidos por algumas ONGs, na impostura ecologista que encenam impunemente, para o papel de "Judas em Sbado de Aleluia", os produtores rurais apostam na verdade. Por intermdio da Confederao da Agricultura e Pecuria do Brasil (CNA), esto contribuindo com R$ 20 milhes para que a Embrapa, com independncia e autoridade acadmica, desenvolva o Projeto Biomas. Fui to longe e esqueci o que devia ter sido o comeo da conversa: biomas. O que so biomas? Uma palavra nova, criada h pouco mais de 50 anos - formada por "bio", vida, e "oma", conjunto -, designa reas que apresentam uniformidade de paisagens, clima, solo, subsolo e predomnio de espcies vegetais e animais. No Brasil temos seis biomas: Amaznia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlntica, Pampa e Pantanal. O Projeto Biomas pretende reunir, em seis vitrines tecnolgicas de 5 milhes de metros quadrados cada (uma em cada bioma), conhecimentos e experincias para consolidar uma espcie de "bula", apresentao minuciosa das paisagens e dos solos de cada bioma nos 851 milhes de hectares do Brasil, acompanhada de "indicaes" e "modo de usar", apresentando a forma de uso da terra compatvel com o potencial ambiental. O Projeto Biomas tornar disponveis informaes tecnolgicas para todos, democrtica e gratuitamente, em especial para os pequenos e mdios agricultores, que no podem pagar por elas. E contaro, tambm, com 350 instrutores treinados pelo sistema CNA/Senar (o Servio Nacional de Aprendizagem Rural) para orient-los - so os transferidores de tecnologia. Ser a primeira iniciativa que inclui os agropecuaristas como protagonistas de uma importante ao ambiental. O Projeto Biomas agrega, no alimenta conflito. Vai substituir as "opinies", "intuies" e a absurda orientao ideolgica que transforma dogmas em legislao sobre quantos metros a mais ou a menos de margens de rios e topos de morros devem ser preservados. Agora, prevalecer a orientao cientfica, pesquisada e experimentada. a nossa opo pela cincia e uma declarao da nossa confiana na Embrapa e nos pesquisadores do Brasil. Os produtores sabem que no h produo sem gua ou em solos degradados. Sabem que nada cresce sem o equilbrio da biodiversidade, to importante para o controle de pragas e doenas. Ou, como ouvi outro dia de um velho pesquisador, adaptando inconscientemente um jargo do seu passado socialista regra de ouro que resultar do Projeto Biomas: "A cada bioma, segundo as exigncias de preservao da sua natureza; a cada agropecuarista, nos limites estabelecidos para uso econmico das suas propriedades." A utopia fundamentalista no se cumpriu, mas a verdade ambientalista no Brasil ser realidade. Publicado no Estado de So Paulo no dia 22 de maro de 2010.
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