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Documento de posicionamento sobre as negociações de mudanças climáticas e as ações do governo brasileiro


Terça-feira, 15 de setembro de 2009 - 09h17

Os setores da agricultura, de florestas plantadas e de bioenergia do Brasil entendem que a busca pelo desenvolvimento de economias de baixo carbono uma meta central, no Brasil e no exterior, com o objetivo de lutar pela mitigao e adaptao aos efeitos das mudanas climticas. Nesse sentido, a Aliana Brasileira pelo Clima: Agricultura Florestas Plantadas Bioenergia torna pblica a sua posio sobre as negociaes ligadas Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas Climticas (doravante Conveno) e aes correlatas que o Pas precisa adotar nessa matria, considerando e reconhecendo que: - Os pases desenvolvidos tm maior responsabilidade histrica pela concentrao de gases causadores do efeito estufa (GEE) na atmosfera e, por isso, devem adotar metas internacionais ambiciosas no sentido de limitar o aumento da temperatura em no mximo 2C; - Os pases em desenvolvimento devem assumir responsabilidade de reduo significativa do crescimento de suas emisses futuras por meio de medidas efetivas de mitigao, em conformidade com o princpio das responsabilidades comuns, porm diferenciadas; - As mudanas climticas constituem um problema global que exige aes coordenadas e urgentes de todas as partes envolvidas, priorizando tecnologias de mitigao disponveis, economicamente viveis e de impacto no curto prazo; - Os mecanismos de comrcio de permisses de emisso so essenciais para o sucesso de qualquer regime internacional de mudanas climticas, mantendo o custo total de ajuste da economia em nveis aceitveis e promovendo tecnologias limpas ou pouco intensivas em carbono. Porm, o mercado de carbono no deve ser um fim em si mesmo, nem a nica soluo no combate s mudanas climticas e sua eficcia est vinculada atuao do Estado no que se refere aos aspectos regulatrios e aos esforos de gerao de sinergias positivas com polticas pblicas nacionais e internacionais; - O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto (MDL) um passo importante para estabelecimento de projetos que visem reduzir emisses de GEEs, e tem elevada importncia para o engajamento dos pases em desenvolvimento nos esforos globais de mitigao. Entretanto, imperativo aperfeioar seu funcionamento, o que exige: (i) reduzir os custos de transao, (ii) ampliar o seu escopo e (iii) avaliar a sua possvel fuso ou interligao com mecanismos de mercado complementares, respeitando o princpio da irretroatividade para iniciativas existentes e sem prejuzo da integridade ambiental; - O desenvolvimento responsvel da agricultura, das florestas plantadas e de outros setores baseados em biomassa contribui de maneira especial para a mitigao das mudanas climticas, na medida em que resultam em (i) sumidouros adicionais, por meio da captura, manuteno e aumento de estoques de carbono nos diversos ecossistemas terrestres, e principalmente em (ii) diferentes fontes de energia renovvel (como o etanol, o biodiesel, as florestas plantadas, o carvo vegetal renovvel e outras formas de biomassa) capazes de substituir vrios combustveis fsseis ou no-renovveis provenientes de desmatamento, favorecendo a reduo de emisses de GEEs; - Mais de 2 bilhes de pessoas em todo o planeta, sobretudo nos pases em desenvolvimento, dependem da biomassa como fonte de matria prima ou energia. Portanto, a promoo do uso de energias renovveis baseadas em biomassa fundamental no s para os esforos de mitigao pelos pases desenvolvidos e em desenvolvimento, mas tambm para a integrao sustentvel entre o desenvolvimento rural (uso da terra) e o desenvolvimento industrial (uso de biomassa como matria prima ou energia), o que tem especial relevncia para o combate pobreza, ao xodo rural descontrolado e para a promoo do desenvolvimento socioeconmico nesses pases; - O agronegcio representa 26% do PIB nacional e os setores aqui representados respondem por 16% das exportaes brasileiras, ou US$ 31,4 bilhes, valor que supera o atual saldo da balana comercial brasileira. Alm disso, o uso dos diversos tipos de biomassa, incluindo a cana-de-acar, as florestas plantadas e o carvo vegetal renovvel, representa aproximadamente 28% de toda a matriz energtica nacional, o que reflete o potencial desses setores para o desenvolvimento econmico, social e ambiental do Pas; - O Brasil tem uma matriz energtica limpa e sua contribuio para a concentrao de GEEs na atmosfera extremamente baixa em relao a maioria dos pases desenvolvidos e em desenvolvimento. No entanto, grande parte das emisses brasileiras se refere ao desmatamento; - Os setores aqui representados desenvolvem e disseminam prticas de produo responsveis, mas so negativamente afetados pela imagem do Brasil no exterior, em funo do alto nvel de emisses provenientes de desmatamento na Amaznia. preciso destacar que esse fato tem impactos diretos no acesso de seus produtos a mercados consumidores importantes; - O aumento da produtividade das diversas culturas brasileiras e a disponibilidade de reas agricultveis antropizadas, inclusive de reas degradadas, dispensam a necessidade de converso de florestas nativas para fins agroindustriais; O posicionamento da Aliana Brasileira pelo Clima: Agricultura Florestas Plantadas Bioenergia dividido em dois pilares: (a) recomendaes ligadas ao regime internacional que dever ser definido pelas negociaes no mbito da Conveno do Clima; e (b) recomendaes para aes no plano interno. Negociaes sobre o regime internacional de mudanas climticas 1. A Aliana Brasileira pelo Clima apia a meta de reduo de emisses de GEEs at 2020 de, no mnimo, 40% em relao aos nveis de 1990, para os pases Anexo I, signatrios ou no do Protocolo de Kyoto, nos termos da proposta apresentada pelo G-77 / China; 2. O futuro acordo internacional dever priorizar a adoo de tecnologias de mitigao j disponveis, economicamente viveis e de impacto no curto prazo, principalmente considerando a necessidade de cumprimento das metas dos pases desenvolvidos; 3. A adoo de compromissos voluntrios pelos pases em desenvolvimento, na forma de Nationally Appropriate Mitigation Actions NAMAs, mensurveis, reportveis e verificveis essencial para viabilizar a reduo significativa das emisses de GEEs, incentivar a adoo de boas prticas que favoream a transio para uma economia de baixo carbono, e, conseqentemente, para o cumprimento dos objetivos da Conveno do Clima; 4. importante considerar a possibilidade de que alguns tipos de NAMAs especficos (ou outro mecanismo), definidos a partir de linhas de base pr-determinadas, sejam concebidos com vistas a gerar crditos de redues de emisses para cumprimento parcial das metas dos pases do Anexo I, desde que as redues sejam mensurveis, reportveis e verificveis, e impliquem metas mais ambiciosas por parte dos pases do Anexo I; 5. Tendo em vista a importncia das atividades agrcolas, de florestas plantadas e de bioenergia para as polticas de mitigao das mudanas climticas em pases em desenvolvimento, fundamental que as atividades relacionadas ao uso da terra, mudana do uso da terra e s florestas (LULUCF), bem como o uso de biomassa como fonte de energia renovvel, tenham destaque no desenvolvimento de NAMAs; 6. fundamental incluir polticas e medidas que assegurem a reduo das emisses por desmatamento e degradao com a maior brevidade possvel. Para tanto, essencial a criao de um mecanismo de Reduo de Emisses de Desmatamento e Degradao (REDD), incluindo o papel da conservao, manejo sustentvel de florestas e o aumento dos estoques de carbono nas florestas (REDD plus), nos termos do pargrafo 1(b)(iii) do Plano de Ao de Bali; 7. Os mecanismos de REDD e REDD plus devem ser baseados em um sistema misto, que inclua o financiamento voluntrio de pases desenvolvidos e mecanismos associados ao mercado, a partir de incentivos e contrapartidas econmicas. Deve-se garantir que tais incentivos contemplem diretamente os agentes responsveis pelas redues, como populaes tradicionais e proprietrios rurais em regies elegveis; Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) 8. Facilitar e otimizar o processo de definio de cenrios de linha de base e de cumprimento com os critrios de adicionalidade, sem prejuzo da integridade ambiental do Protocolo de Quioto, por meio do desenvolvimento de ferramentas e metodologias mais simples, eficazes e customizadas em nvel setorial. fundamental reconhecer que ainda existem falhas significativas na regulamentao do atual sistema, e falhas de mercado em pases em desenvolvimento, que impedem anlises financeiras consistentes. Esses e outros entraves dificultam o desenvolvimento legtimo de projetos e programas adicionais de mitigao, a promoo do uso mais eficiente e a expanso do uso de combustveis renovveis, sobretudo as diversas formas de energia derivadas de biomassa; 9. Facilitar e estimular o desenvolvimento de Programas de atividades de projetos (PoA) e de projetos em nvel setorial no mbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), com os objetivos de reduzir custos de transao, aumentar o nmero de projetos, e de contribuir para a viabilizao de projetos de menor escala, tendo em vista a necessidade de se incrementar a eficcia do MDL em relao ao objetivo duplo de gerao de redues de emisses certificadas e de contribuio ao desenvolvimento sustentvel em pases em desenvolvimento; 10. essencial considerar que projetos de florestamento e reflorestamento (F/R) no mbito do MDL tm especial relevncia para a recomposio florestal, para o aumento de estoques de carbono e para a promoo do desenvolvimento sustentvel. Nesse sentido, fundamental que o MDL continue contemplando atividades de F/R nos prximos perodos de compromisso, e que todos os pases do Anexo I, especialmente os pases da Unio Europia, reconheam a importncia supracitada, por meio da iseno de quaisquer restries de comercializao aos crditos florestais, sem prejuzo dos riscos de nopermanncia e da integridade ambiental. Mais do que as dificuldades metodolgicas para tratar o risco de no-permanncia, os principais entraves para o desenvolvimento de projetos de F/R derivam da falta de liquidez no mercado resultante das barreiras praticadas pela Unio Europia; 11. Para garantir a integridade ambiental e a credibilidade do sistema, fundamental que o risco de no-permanncia seja devidamente levado em considerao no desenvolvimento de projetos de F/R no MDL, o que pode ser tratado conforme o atual princpio de crditos temporrios ou, preferencialmente, por meio de um sistema em que crditos florestais tenham como base os mesmos atributos das demais Redues de Emisses Certificadas, desde que: (i) exista um monitoramento peridico sobre as possveis variaes de estoques de carbono; (ii) que as organizaes ou os pases envolvidos nas transaes de compra ou venda dos crditos se responsabilizem pela reposio dos referidos crditos, caso haja qualquer diminuio nos estoques florestais, e (iii) que os riscos de no-cumprimento das obrigaes de reposies por agentes privados sejam cobertos por mecanismos de garantia como, por exemplo, o desenvolvimento de seguros e re-seguros; 12. Permitir no mbito do MDL a implementao de projetos de florestamento e reflorestamento em reas que continham florestas plantadas em exausto em 31 de Dezembro de 1989 e antes da implementao do projeto, que seriam colhidas independentemente do MDL em funo de ciclos de colheita, com o objetivo de ampliar a quantidade de reas disponveis para a implementao de diversos tipos de projetos de F/R em reas previamente cultivadas; Aes do governo brasileiro Alm das recomendaes acima, centradas nas negociaes no plano da Conveno, essencial que o governo Brasileiro adote outras aes em direo a uma economia de baixo carbono. Nesse sentido, a Aliana apresenta suas recomendaes nos seguintes termos: 1. As aes de mitigao brasileiras devem ser prioritariamente pautadas pela diminuio do desmatamento e os compromissos de reduo de desmatamento, assumidos no Plano Nacional sobre Mudanas do Clima, de fato implementados e registrados internacionalmente como NAMAs no mbito da Conveno; 2. O Brasil deve desenvolver uma ampla Poltica Nacional sobre Mudanas Climticas, incluindo aspectos de mitigao e adaptao, a partir dos seguintes pontos estruturais: (i) as necessidades futuras de crescimento e desenvolvimento do pas; (ii) o envolvimento efetivo dos ministrios responsveis pela gesto da matriz energtica brasileira e produo industrial, para evitar contradies nas diferentes polticas pblicas; (iii) a necessidade de acelerao da definio do zoneamento ecolgico-econmico federal, (iv) incentivos para a produo e o consumo de matrias-primas e fontes de energias renovveis; (v) a necessidade de se incrementar o processo de consulta aos diversos setores da economia brasileira e (vi) atribuio de competncias a estados e municpios, para que os mesmos possam legislar e formular polticas pblicas regionais e locais de acordo com suas circunstncias especficas; 3. A formulao de polticas pblicas de mitigao deve privilegiar incentivos que no prejudiquem a competitividade e o crescimento da economia brasileira como, por exemplo, mecanismos de comrcio de redues de emisses, uma vez que tendem a racionalizar os custos de ajustes da economia nacional, incentivando tecnologias limpas e renovveis. Mecanismos relacionados taxao sobre emisses devem ser evitados por serem menos eficientes e mais prejudiciais a economia; 4. fundamental e urgente promover a interligao das polticas pblicas vigentes e geridas no mbito dos Ministrios (MDIC, MAPA, MME, MCT, MMA e MRE) com os atuais mecanismos internacionais de mitigao no mbito da Conveno e do Protocolo de Kyoto, sobretudo o MDL. necessrio reforar a estrutura oramentria da Secretaria Executiva da Comisso Interministerial sobre Mudanas Climticas, para que no se restrinja aprovao ou reprovao de projetos de MDL. Assim, a Secretaria Executiva poder atuar de maneira pr-ativa na gerao de polticas de fomento utilizao do MDL e de outros instrumentos eventualmente criados no mbito da Conveno, luz das circunstncias especficas da estrutura econmica brasileira e de seus diferentes setores; 5. O processo de consulta entre os diferentes setores da economia brasileira e o Ministrio das Relaes Exteriores deve ser incrementado, alm das reunies preparatrias para as COPs. O referido processo precisa ser urgentemente intensificado e sistematizado, por meio da criao de um mecanismo permanente de consulta sobre as negociaes internacionais, para que o Pas aprimore a identificao e a defesa de seus interesses. O setor produtivo tem acesso a informaes estratgicas que podem ajudar substancialmente na identificao de eventuais ameaas e oportunidades inerentes s negociaes internacionais sobre mudanas climticas; 6. Considerando a relevncia da utilizao de matrias-primas e energias renovveis derivadas da biomassa para a mitigao das mudanas climticas, e a crescente importncia de sistemas nacionais de comrcio de emisses em outros pases, essencial que o Brasil tenha uma estratgia pr-ativa de negociaes bilaterais, por exemplo, com Austrlia, Canad, Estados Unidos, Japo, Rssia, Nova Zelndia e Unio Europia. Apesar da natureza global do problema, a poltica externa brasileira sobre as mudanas climticas no deve restringir-se ao nvel multilateral; 7. O governo brasileiro deve combater tentativas de imposies de Carbon Border Adjustment Taxes (sobretaxao para produtos importados baseada em emisses de GEE) a fim de evitar que medidas dessa natureza sirvam como barreiras comerciais aos produtos brasileiros. Por outro lado, importante o incentivo ao comrcio de produtos renovveis e que promovam a mitigao das mudanas climticas; 8. Considerando as vulnerabilidades s mudanas climticas de diversas comunidades, ecossistemas e das prprias atividades agrcolas e florestais (fontes de alimentos e biomassa), importante que o Brasil dedique maior ateno s questes de adaptao. Para tanto, deve atuar de maneira pr-ativa na regulamentao e no aproveitamento do fundo de adaptao constitudo na Conveno, desenvolvendo e incentivando pesquisas e sistemas preventivos para os efeitos adversos das mudanas climticas. Entidades que participam da Aliana Brasileira pelo Clima: Agricultura Florestas plantadas Bioenergia ABAG Associao Brasileira de Agribusiness ABAG/RP Associao Brasileira do Agronegcio da Regio de Ribeiro Preto ABIOVE Associao Brasileira das Indstrias de leos Vegetais ABRAF Associao Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas ABTCP Associao Brasileira Tcnica de Celulose e Papel ALCOPAR Associao de Produtores de lcool e Acar do Estado do Paran ARES Instituto para o Agronegcio Responsvel BIOSUL Associao dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul BRACELPA Associao Brasileira de Celulose e Papel ICONE (apoio tcnico) Instituto de Estudos do Comrcio e Negociaes Internacionais ORPLANA Organizao dos Plantadores de Cana da Regio Centro-Sul do Brasil SIAMIG Sindicato da Indstria de Fabricao do lcool no Estado de Minas Gerais SIFAEG Sindicato da Indstria de Fabricao de lcool do Estado de Gois UNICA Unio da Indstria de Cana-de-acar
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