Como se alimentam as plantas? Bsica na ecologia, a pergunta remete a um processo fundamental da vida: a fotossntese. Esta no funciona, porm, sem gua e elementos qumicos, absorvidos pela raiz das plantas. Princpio da nutrio vegetal.
Os primeiros relatos da agricultura datam, aproximadamente, de 10 mil anos. Ao produzir seu prprio alimento, a espcie humana supera a dependncia animalesca da coleta florestal, da caa e pesca, permitindo o sedentarismo. Passo decisivo da humanidade.
No delta dos grandes rios surgem os cultivos de cereais. Por qu? Acontece que ali, nas vrzeas inundadas, o solo se enriquece com sedimentos orgnicos trazidos pelas enchentes anuais. Assim, a civilizao nasceu prxima foz dos Rios Tigres e Eufrates, na antiga Mesopotmia, ou no vale do Rio Amarelo (Huang He), na China. O Egito de Clepatra no existiria sem o Rio Nilo.
Primordialmente, a adubao das plantas era natural, quer dizer, dependia da matria orgnica e dos elementos qumicos j depositados no solo. At hoje tal primitivismo agrcola se pratica alhures. Ao derrubar uma floresta, os agricultores deitam nela a semente para aproveitar a terra "gorda", aquela rica mistura de folhas e galhos secularmente decompostos, chamada serrapilheira. Insetos, animais microscpicos, bactrias e fungos se alimentam da celulose armazenada nos vegetais, excretando hmus. Reino das minhocas.
Com poucos anos de cultivo, todavia, as razes das plantas sugam da terra a riqueza acumulada. Por isso, fora das vrzeas a agricultura original se mostrava itinerante, deixando para trs reas em pousio. Com a supresso contnua das florestas, surge a necessidade de repor no solo o nutriente retirado nas colheitas. Vinga a tcnica da adubao.
Desde a Antiguidade se conhecem vrios produtos e resduos utilizados na nutrio de plantas. Cinzas, restos de peixes, rochas modas, fezes humanas, tudo se buscava aproveitar naquele tempo de incipiente sobrevivncia humana. O progresso na domesticao dos animais revela o melhor de todos os adubos: o esterco bovino. Abundante, rico, o excremento faz do gado importante aliado na produo de alimentos. Fora o leite e a carne.
No sculo 19, descobertas de sedimentos nas ilhas do Pacfico ficaram conhecidas como adubos de guano. Ricas em nitrognio e fosfato, camadas com at 30 metros de espessura se formaram em milhares de anos de acmulo de fezes de pssaros e morcegos. Nova fonte de fertilizantes orgnicos.
Como os Corpos Minerais se Relacionam com os Corpos Vegetais, ttulo da tese de doutorado publicada, em 1822, pelo jovem cientista alemo Justus von Leibig, a descoberta inicia a moderna agronomia. Leibig prova que as plantas crescem em funo dos elementos qumicos liberados no solo, e no, conforme ento se supunha, por "comerem" a matria orgnica. Comea a era dos fertilizantes artificiais. Vai imperar o NPK.
Os avanos da cincia agronmica permitiram, por fim, chegar hidroponia, a mais recente fronteira da quimificao agrcola. Nessa forma de produo, apropriada para hortalias, at a terra se dispensa, substituda pela gua fertilizada em bandejas, suspensas nas estufas. Nem Leibig acreditaria.
Curioso o mundo dos homens. A quimificao da agricultura provocou, desde seu incio, reaes em defesa da agricultura tradicional, de natureza orgnica. Vrias correntes se instalam. Rudolf Steiner formula a biodinmica em 1924. Em 1935, Mokiti Okada traa a agricultura natural. Renegam a qumica (incluindo agrotxicos) e valorizam o hmus do solo, misturando filosofia com agronomia. D certo.
No drama contemporneo do aquecimento global, dois gases se mostram perigosos: o dixido de carbono (CO2) e o metano, 21 vezes mais poderoso. O primeiro sequestrado no processo da fotossntese, liberando, em contrapartida, o oxignio.
Plantar rvores, portanto, ou cultivar qualquer vegetal, imobiliza carbono nas folhas, nos ramos e na madeira. Prosa ambiental positiva no campo.
Sobre o metano, porm, a conversa anda negativa. Originado a partir da fermentao orgnica, seu cheiro pode impregnar-se nas vrzeas onde, por exemplo, se irriga arroz. Os rebanhos bovinos, por sua vez, expelem-no nos arrotos que brotam da ruminao. No confinamento animal, ademais, dejetos orgnicos podem-se acumular no solo, liberando o ftido gs. Por essas e outras, h gente achando que, no combate ao efeito estufa, dever-se-ia impedir o arroz irrigado e aniquilar a boiada. Um exagero ambiental.
certo que na flatulncia se expele metano. O fenmeno, alis, no exclusivo do gado, atingindo tambm os humanos. Fazer o qu, proibir? O fenmeno depende da alimentao. Na bovinocultura tropical o pastoreio livre ameniza o problema dos gases gerados no rmen. Trata-se de uma vantagem do gado nacional, mais ecolgico que a boiada estrangeira, estabulada no cocho. Ponto para o Nelore.
Soam esquisitos alguns clculos que os idelogos urbanos apresentam, punindo o campo. Parecem querer rasgar a Histria da Civilizao. Ultimamente alardeiam que se gastam 15 mil litros de gua para cada quilo de carne produzida. Puro engodo. Para ser verdade a conta supe que o gado nunca urine. E na natureza, ensinava Lavoisier, "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Inclusive o xixi, reciclado.
Contra mudanas climticas, sobra lio de casa para todos. A agricultura no escapar dessa tarefa. Soa estranho, porm, querer torn-la vil do problema ambiental. Excluindo o horror do desmatamento e o calor das queimadas, a crise ecolgica se gera na cidade. Agricultura, no, nela se produz comida. Bem adubada.
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