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650 anos de queimadas


Sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011 - 11h24

Por Fernando Reinach medida que o homem se espalha pelo planeta, as queimadas aumentam e destroem a vegetao nativa. Essa uma crena arraigada na mente da maioria de ns. A realidade que no sabemos a quantidade de biomassa que era queimada anualmente durante a Idade Mdia ou ao longo do grande crescimento populacional do sculo XX. Estudos recentes demonstram que nossa crena est errada. A quantidade de biomassa queimada atualmente a mais baixa dos ltimos 650 anos. Analisando imagens de satlite possvel saber que parte do planeta est sendo devorada pelo fogo a cada dia. Mas esses dados cobrem apenas o perodo recente, pois faz menos de 30 anos que possvel compilar os dados a partir de fotos de satlite. Dados relativos aos ltimos 2 mil anos podem ser obtidos medindo a quantidade de carvo vegetal presente nas diversas camadas do solo, em diferentes regies. O problema dessa srie de dados que, apesar de ser coletada em diversos continentes, ela retrata somente o local estudado. A novidade que, analisando a quantidade de monxido de carbono presente em amostras de ar sequestrado em colunas de gelo, foi possvel calcular a quantidade de biomassa queimada, a cada dcada, nos ltimos 650 anos. Quando neva na Antrtica, pequenas bolhas de ar ficam presas na neve. No ano seguinte, essa neve recoberta por uma nova camada e a presso faz com que ela se transforme em gelo, isolando a amostra de ar atmosfrico em pequenas bolhas dentro do bloco de gelo. Ao longo dos sculos essas camadas se acumulam. Faz anos que os cientistas fazem furos em diversas regies desse continente e recuperam amostras de gelo de diferentes profundidades. Amostras colhidas logo abaixo da superfcie contm o ar do ano passado. Nas retiradas de profundidades maiores o ar sequestrado representa o que estava na atmosfera no sculo passado e assim por diante. O estudo dessas amostras de ar j permitiu calcular tanto a quantidade de gs carbnico presente na atmosfera antes da revoluo industrial quanto a temperatura da atmosfera no passado. Agora, utilizando mtodos sofisticados de anlise, foi possvel medir a quantidade de monxido de carbono nessas amostras. Como o monxido de carbono formado com a queima incompleta de biomassa, ele um indicador da quantidade de biomassa queimada no ano em que o ar foi sequestrado no gelo. Um complicador que existe um outro processo de formao de monxido de carbono na alta atmosfera. Mas novas tecnologias, capazes de analisar os istopos de carbono e oxignio presentes nas amostras, permitem distinguir a quantidade de monxido de carbono gerado por cada processo. Os resultados confirmam o que os cientistas haviam descoberto analisando o acmulo de carvo em amostras de solo. Entre 1350 e 1650 houve uma reduo de aproximadamente 50% na quantidade de biomassa queimada. Entre 1650 e 1850, a quantidade de biomassa consumida pelo fogo quase duplicou. A partir de 1850 se observa uma queda rpida na quantidade de biomassa queimada. Esta queda contnua faz com que a quantidade de biomassa queimada atualmente seja a menor dos ltimos 650 anos. Esses dados sugerem que nunca existiram to poucos incndios nas superfcie do planeta quanto nas ltimas dcadas. Se forem confirmados, os dados demonstram que nossa impresso, de que as queimadas acompanharam a colonizao do planeta pelo homem, no corresponde realidade. A maneira mais simples de interpretar os dados correlacionar as queimadas no com a atividade humana, mas com o clima. A primeira queda corresponde ao perodo de resfriamento, chamado de Pequena Idade do Gelo, que terminou por volta de 1500 e foi seguida por um ligeiro aquecimento nos sculos seguintes. A grande dificuldade explicar a abrupta queda entre 1850 e o presente, atualmente um mistrio. Outra dificuldade prever o que vai acontecer nas prximas dcadas com o gradual aquecimento do planeta. O fato que nossa impresso de que a maioria dos grandes fogos, responsveis pelo aumento do monxido de carbono, provocada pela atividade humana parece no ser verdadeira. Tudo indica que a temperatura da atmosfera um fator mais importante. De uma coisa podemos ter certeza: esses novos dados vo provocar polmica entre climatologistas e ambientalistas e provavelmente devem forar uma reviso de alguns modelos de aquecimento global. Fonte: O Estado de So Paulo. Por Fernando Reinach, 03 de fevereiro de 2011.
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