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Scot Consultoria

Obama quando vocês irão repor suas florestas temperadas?


Segunda-feira, 21 de março de 2011 - 10h25

No filme A Bruxa de Blair, sucesso de bilheteria do cinema alternativo americano, há uma cena que fez meu sangue de ecologista amador brasileiro e defensor do crescimento sustentável literalmente borbulhar. Os três estudantes do longa estão totalmente perdidos numa floresta da Nova Inglaterra e a garota começa a entrar em pânico achando que nunca mais sairia daquela selva. Seu colega então diz algo parecido com: "Não seja idiota, nós destruímos todas as nossas florestas temperadas. É só andarmos meia hora em linha reta que logo sairemos daqui". Ecologistas do mundo todo vivem fazendo protestos para preservar a floresta tropical brasileira, mas raramente param para refletir sobre essa corajosa crítica contida neste filme, que fez tanto sucesso. Se alguém se perder na Floresta Amazônica, poderá ter de andar por noventa dias até achar uma saída, tal o nível de preservação de nossa Amazônia, comparada com as demais florestas. Então, não seria correto discutir com o Obama a reconstituição das florestas temperadas, há muito tempo dizimadas? Ele vai nos encher o saco com a nossa "devastação da Amazônia", e vamos sempre ficar na defensiva e concordar em princípio e depois fazer nada. Que tal contra atacar de vez em quando. Na Europa e nos Estados Unidos, 98% a 99% das florestas foram destruídas. O "Crescente Fértil" descrito na Bíblia é hoje o Iraque da "Desert Storm". Em contrapartida, 86% da Floresta Amazônica continua intacta. No famoso Museu Smithsonian de Washington, vi um painel que orgulhosamente mostrava um pioneiro derrubando uma árvore para criar uma área arável e poder "suprir nossos antepassados com a comida necessária". Destruíram tantas florestas temperadas para plantar comida que hoje eles têm muito mais agricultores do que o necessário, a maioria economicamente inviável. A destruição das florestas temperadas é uma das razões dos maciços subsídios que a Europa e os Estados Unidos dão à agricultura, razão de nossos protestos junto à OMC. Quando negociadores do governo brasileiro reclamam desses subsídios, a resposta é que eles são necessários para manter a população no campo. Caso contrário, os países teriam enormes espaços e terras vazias, com todo mundo vivendo nas cidades. O erro dessa lógica política está na frase "espaços e terras vazias", uma vez que essas terras não eram "vazias" antes de as florestas temperadas serem dizimadas. Há muito deveríamos ter colocado na agenda mundial a necessidade da reconstituição das florestas temperadas ao lado da preservação da Floresta Amazônica - o que exigiria dos países desenvolvidos a lenta substituição dos agricultores subsidiados por guardas e bombeiros florestais em constante vigilância. Pelo menos os agricultores passariam a ser úteis, em vez de receber subsídios para nada plantarem. Os espaços não ficariam vazios, como temem os políticos destes países. Voltariam ao equilíbrio original. Isso teria importantes conseqüências econômicas para o Terceiro Mundo. Acabaria com os enormes subsídios agrícolas e equilibraria a balança comercial de muito país em desenvolvimento. Bjorn Lomborg, autor do The Skeptical Environmentalist, escreve na página 117 uma frase de muita coragem política: "Que base nós (Primeiro Mundo) temos para nos indignarmos com o desmatamento das florestas tropicais, considerando o nosso desmatamento na Europa e Estados Unidos? É uma hipocrisia aceitar que nós nos beneficiamos imensamente da destruição de enormes áreas de nossas próprias florestas, mas não vamos permitir que países em desenvolvimento se beneficiem como nós o fizemos. Se não quisermos que eles usem seus recursos naturais do jeito que nós usamos os nossos, devemos compensá-los de acordo". Obviamente, ele foi massacrado por seus colegas, e no Brasil que deveria tê-lo apoiado, fui o único a fazê-lo num artigo na Veja em 2003. Gostaria que a Dilma, nesta reunião com o Obama indagasse o que ele está fazendo para reconstituir 85% de suas florestas temperadas. É o que eu faria.
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