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Scot Consultoria

Quando a segregação é melhor que a convivência


Quinta-feira, 6 de outubro de 2011 - 11h13

O mundo precisa preservar a biodiversidade e produzir alimentos. Infelizmente, são poucos os estudos que consideram simultaneamente esses dois lados da equação. Enquanto ecologistas estudam a melhor maneira de preservar a biodiversidade, agrônomos tentam maximizar a produção de alimentos. Agora, um grupo de cientistas resolveu estudar qual a melhor maneira de otimizar a produtividade agrícola e, simultaneamente, a preservação da biodiversidade. Grosso modo, existem duas maneiras de introduzir a agricultura em um ecossistema nativo. O primeiro, chamado de modelo de convivência, consiste em fazer um uso misto do solo, combinando pequenos campos agrícolas dispersos entre a vegetação nativa parcialmente preservada, o que permitiria a manutenção da biodiversidade original. O segundo, que podemos chamar de modelo de segregação, advoga a separação radical entre as duas atividades: áreas destinadas a agricultura são cultivadas de maneira intensiva, enquanto áreas dedicadas a preservação são mantidas intactas. A pergunta que os cientistas tentaram responder é a seguinte: qual desses modelos (convivência ou segregação) permite uma melhor preservação da biodiversidade para um mesmo nível de produção de alimentos? Para responder a essa pergunta, cientistas determinaram a densidade (número de animais ou plantas por metro quadrado) de cada uma de 167 espécies de pássaros e 220 espécies de árvores em 20 áreas de 1 quilômetro quadrado em Gana. A produção anual de alimentos nessas áreas também foi medida. Enquanto algumas áreas eram totalmente preservadas e não produziam alimentos, outras haviam sido ocupadas parcial ou totalmente por atividades agrícolas. O estudo também analisou outras 25 áreas na Índia. Para cada uma das 387 espécies analisadas, foi possível construir um gráfico relacionando a densidade da espécie em cada área analisada versus a produtividade agrícola da área. Esses gráficos retratam o comportamento de cada espécie frente ao convívio com a atividade agrícola. Para algumas espécies, bastava introduzir uma quantidade mínima de atividade agrícola para a densidade da espécie cair rapidamente (espécies perdedoras, que dependem totalmente da manutenção do ambiente original). Para outras, a densidade permanecia constante até um nível alto de atividade agrícola - somente então sua densidade diminuía (espécies resistentes). Um terceiro grupo aumentava lentamente sua densidade, à medida que a atividade agrícola aumentava (espécies vencedoras, que se espalham pela diminuição de predadores). Um quarto grupo tem sua densidade aumentada rapidamente quando se introduz qualquer atividade agrícola (espécies vencedoras). Com base nos gráficos construídos para cada uma das quase 400 espécies foi possível para os pesquisadores simular que tipo de ocupação agrícola é capaz de manter a densidade de um maior número de espécies maximizando a produção de alimentos. Estas simulações mostram que, independentemente da quantidade de alimento produzido, o modelo que permite uma maior preservação da biodiversidade é o modelo da segregação. Isso se deve ao fato de existirem muitas espécies que dependem totalmente da manutenção total de áreas intactas para sobreviver. Este estudo demonstra que é possível ocupar ecossistemas nativos de maneira relativamente inteligente e planejada, minimizando o impacto sobre a biodiversidade e permitindo a produção de alimentos de maneira intensiva. A surpresa é que o modelo de segregação total das atividades parece ser o ideal. É claro que a análise de somente 400 espécies não é suficiente para termos certeza do impacto sobre a biodiversidade, mas estudos como esses poderiam ser realizados no Cerrado e na Amazônia brasileira e deveriam ser usados como base para a elaboração das leis que regulam a ocupação das terras. A boa notícia é que o Código Florestal brasileiro exige que de 20% a 80% de uma propriedade rural seja mantida com vegetação nativa (as reservas legais), o que permite a implementação de modelos segregacionistas. A má notícia é que poucas pessoas respeitam a exigência de preservar e isolar as reservas legais. *Texto originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 6 de outubro de 2011.
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