Compromisso social, ambiental e condições de sanidade animal deixaram de ser diferenciais na indústria da carne para ser condições de mercado. Com aumento das exigências com relação a procedência do produto por parte de mercados estrangeiros e até mesmo no país, frigoríficos adotam programas para estimular a produção sustentável na pecuária e assim garantir e ampliar vendas.
Alternativas vão desde orientações até mesmo pagamento de diferencial no preço da arroba e descontos na aquisição de insumos para criação. Marfrig, uma das principais empresas do setor, instaurou um programa para valorização do produtor que se compromete seguir as exigências ambientais, com relação aos trabalhadores e aos animais.
Marfrig Club oferece aos produtores que participam do programa até 30% a mais no valor pago pela arroba por cabeça, além de proporcionar descontos na compra de insumos de empresas parceiras do projeto. Gerente de pecuária do grupo, Leonel Almeida revela que esta foi uma forma de estreitar o relacionamento com o fornecedor e assim trabalhar a eficiência do setor, desde a cria até o abate e venda do produto.
Em Mato Grosso, cerca de 80 propriedades integram o Club Marfrig e a adesão é crescente.
Leonel Almeida revela que o projeto não tem normas rígidas e que os produtores recebem as orientações e podem adapta-las à sua realidade, podendo aderir parcialmente ao programa e conquistar parte dos benefícios. Produtor de Tangará da Serra (a 214 km da capital), Paulo Carvalho faz parte do Club Marfrig há um ano e revela que o maior benefício não está no valor a mais que recebe, mas na relação com a indústria, que se torna mais confiável e, consequentemente, mais fácil. “Somos levados para dentro da empresa, temos a oportunidade de expor nossa realidade e buscar a eficiência juntos”. Ele conta que não precisou fazer grandes adaptações porque sua propriedade já possui toda a documentação exigida.
Superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari afirma que este tipo de projeto é bom, mas que ainda são poucos os existentes no país. “Atualmente pecuaristas têm condições de produzir qualquer tipo de carne em quaisquer condições, mas para isso é preciso pagar o diferencial”.
Há expectativa de que se crie um modelo de certificação que seja padrão nacional e que toda propriedade que adotar alternativas que agreguem valor ao produto receba pelos investimentos.
No frigorífico Minerva, foi criado um projeto para preparar os pecuaristas para produzir de forma regular e com os certificados exigidos. Gerente de sustentabilidade da empresa, Carlos Barbieri explica que as equipes percorrem as propriedades, levam orientação e também pesquisadores que contribuam não somente com as questões legais, mas para dar mais qualidade de vida aos produtores e funcionários. “Levamos estudantes e professoras para tratar das questões sociais, como escolas e violência de uma forma que sejam abordados temas de diferentes naturezas”. Este ano o projeto deverá percorrer propriedades de todos os estados do país.
Grupo JBS também possui um programa de capacitação aos produtores chamado Pecuária Sustentável que consiste na orientação e treinamento de pecuaristas sobre as melhores práticas sustentáveis que podem ser aplicadas na atividade. A empresa desenvolveu um protocolo de ações que envolve desde questões ambientais, chegando até a aspectos sanitários. Diariamente os técnicos da JBS visitam fazendas de fornecedores e de pecuaristas que solicitam o acompanhamento para promover os treinamentos.
Empresa também firmou convênio de cooperação técnica com a Embrapa e com a Esalq para que todo o programa tivesse respaldo técnico de instituições de grande credibilidade. Com isso, a equipe da Pecuária Sustentável está preparada para aplicar os protocolos do BPA, da Embrapa. Em 2011 foram capacitadas pelo programa 8,4 mil pessoas, em 270 municípios brasileiros.
De acordo com o gerente do Marfrig, Leonel Almeida, as exigências não são mais somente dos países europeus, mas também dos clientes que buscam conhecer a forma de produção do produto.
“Se a empresa tem algum problema com relação a trabalho escravo ou infantil ou com questões ambientais o reflexo nas vendas é imediato. Existe a preocupação em conhecer o histórico da empresa”.
Em 2010 os frigoríficos JBS e Marfrig assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal em Mato Grosso se comprometendo a só comprar de fornecedores que estivessem com a documentação regular com relação a legislação ambiental e fundiária. Leonel Almeida, do grupo Marfrig confirmou que o acordo é cumprido 100% nas transações realizadas no estado. “Temos todo a nossa produção dentro das exigências e aptas para exportação”.
Na época, o documento estabelecia que as empresas iriam desfazer relações comerciais com todos os criadores de gado que pratiquem desmatamento ilegal, que não possuam licenciamento ambiental, que explorem mão-de-obra em condições de escravidão, que estejam localizadas em áreas indígenas ou quilombolas, que tenham registro de violência agrária ou que sejam áreas de desmatamento recente.
Fonte: Gazeta Digital. Por Laiz Costa Marquez. 12 de março de 2012.
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