Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de janeiro a agosto de 2012, cerca de 0,6% do biodiesel produzido no Brasil foi proveniente de óleos residuais, volume que equivale a aproximadamente 10,2 milhões de litros de combustível. "Os óleos residuais provenientes de processos de fritura são rejeitos produzidos diariamente nos grandes centros urbanos, tanto em estabelecimentos comerciais (como bares, padarias, restaurantes, hotéis, shoppings, redes de fast food, etc.) como também nas residências", diz Arruda Botelho.
A pesquisa foi orientada pela professora Suani Teixeira Coelho, do IEE, e teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O processo de produção convencionalmente adotado para a produção de biodiesel utiliza catalisadores alcalinos, o que exige que os óleos ou gorduras utilizados tenham baixos níveis de acidez. "Caso contrário, haverá a formação excessiva de sabões, prejudicando o rendimento e até mesmo a viabilidade do processo", conta o pesquisador.
Durante o processo de fritura, os óleos e gorduras sofrem um processo de degradação que eleva o seu nível de acidez e, dependendo do estado de degradação em que se encontra o óleo residual, ele pode se tornar inadequado para a produção de biodiesel por intermédio do processo convencional.
"Nesses casos, o óleo residual deve ser submetido a uma etapa de pré-tratamento para reduzir o seu nível de acidez, e depois, pode ser submetido ao processo convencional de produção de biodiesel", observa Arruda Botelho.
De acordo com o economista, existem catalisadores e processos alternativos capazes de converter óleos e gorduras com elevado nível de acidez em biodiesel, entretanto, eles ainda são pouco utilizados em escala industrial. "Há também a opção de adicionar pequenas quantidades de óleos residuais aos óleos virgens utilizados pelas usinas, de modo que a qualidade final do óleo como um todo não seja comprometida para o uso no processo convencional", acrescenta.
Matéria prima
Arruda Botelho conta que os óleos residuais de fritura constituem uma matéria-prima muito heterogênea, e podem conter uma série de compostos químicos resultantes da degradação do óleo e uma série de contaminantes que podem comprometer a viabilidade do processo de produção e a qualidade do biodiesel produzido. "Por exemplo, existem estabelecimentos que utilizam óleo para fritar apenas alguns tipos de alimentos e que monitoram rigorosamente a qualidade do óleo utilizado, descartando-o quando o mesmo começa a demonstrar sinais de degradação. O óleo residual proveniente desses estabelecimentos é de boa qualidade para a produção de biodiesel", ressalta.
"Por outro lado, também existem estabelecimentos que utilizam óleo para fritar os mais diversos tipos de alimentos, e que reutilizam o mesmo óleo por diversas vezes sem monitorar o seu estado de degradação", afirma o pesquisador. "O resultado pode ser um óleo residual com elevado nível de degradação e com uma série de contaminantes que podem comprometer a qualidade do biodiesel".
No Brasil, é crescente o número de iniciativas voltadas à coleta e ao aproveitamento dos óleos como insumo para a produção de biodiesel, destaca Arruda Botelho. "A coleta geralmente é feita por meio de empresas e cooperativas especializadas, que coletam o óleo descartado em pontos de maior concentração (como restaurantes, redes de fast food e estabelecimentos comerciais em geral) e também em pontos de entrega voluntária, nos quais os cidadãos descartam o óleo consumido em suas residências", conta. "O óleo passa por um processo de triagem e de remoção de resíduos, e depois, é vendido para as usinas produtoras de biodiesel".
O economista ressalta que apesar das iniciativas crescentes que estão surgindo no Brasil e dos resultados favoráveis, a viabilização da produção de biodiesel a partir de óleos residuais de fritura em escala industrial requer uma escala muito maior de coleta desse material. "Isso exige maior coordenação e tecnificação das atividades relacionadas à logística de coleta e armazenamento dos óleos descartados, que ainda é muito incipiente no país", observa.
Fonte: Planeta Sustentável. Por Júlio Bernardes. 8 de novembro de 2012.
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