É grande equívoco separar produção agrícola do universo da preservação. A agricultura é uma das atividades ambientalmente mais sustentáveis. Não fosse assim, não se produziria mais trigo no Velho Mundo, passados milênios de safras consecutivas.
A agricultura não é nem poderia ser uma atividade degradante, sob pena de, a médio prazo, pôr em risco a produção de alimentos para a população mundial.
Como em qualquer ambiente, seja urbano ou rural, temos os que produzem com consciência e a minoria que lança mão de práticas reprováveis.
Estes últimos devem ser educados e, em última instância, punidos. Mas é bom que se diga: no setor agrícola, são exceção, e não regra geral.
O termo sustentabilidade é bom de marketing, está na moda, mas não tem referencial concreto em nosso universo mental. Trata-se de palavra criada para a ela atribuirmos um significado.
Qual o significado válido? Difícil dizer, visto que o termo pode ser empregado em diversos ambientes, nas várias regiões dos cinco continentes. E a geografia é determinante. Uma atividade sustentável nos Emirados Árabes Unidos pode não o ser no pantanal brasileiro.
É preciso ter conhecimento para bem usar o conceito. Se imaginamos, por exemplo, a produção de café no sul de Minas Gerais, não temos como a ela associar falta de sustentabilidade.
O ambiente não está degradado, novas safras se repetem a cada ano e o turismo ecológico está no orçamento de boa parte dos municípios produtores, demonstrando que a beleza cênica e a qualidade ambiental não foram afetadas pela atividade agrícola.
Fica claro, portanto, que os movimentos políticos que ostentam as bandeiras da agricultura e do ambiente não devem ser adversários. São mais produtivos o trabalho conjunto e o diálogo permanente na busca do fortalecimento do histórico de compatibilidade entre produção e preservação.
Isso não é uma tese nem um discurso. É constatação da realidade histórica, que, felizmente, tem sido reconhecida. Técnicos ambientalistas do governo sentaram-se à mesa com técnicos da produção rural em 2012.
Confesso que, até há bem pouco tempo, eu tinha receio de entrar no Ministério do Meio Ambiente. Mais do que não ser convidada, eu temia uma agressão física dos radicais que agora perderam espaço para o ambientalismo republicano.
O ministério era uma extensão de ativistas radicais originários de diversas ONGs, todas comprometidas com o acirramento da irracional disputa entre ambientalismo e produção.
Não havia técnicos ali, e sim ativistas empunhando bandeiras agressivas e falaciosas, numa verdadeira cruzada contra os produtores rurais.
Agricultores e pecuaristas eram vendidos à opinião pública como vilões do ambiente no Brasil, e não como trabalhadores e empresários que produzem alimentos.
Mas, para meu espanto, foi no Ministério do Meio Ambiente que realizamos uma reunião histórica em meados de novembro. Técnicos do governo sentaram-se para ouvir a CNA a convite da ministra, que queria saber o que pensam e querem os produtores rurais para o futuro e quais os gargalos que estrangulam o setor.
Hoje, já há o reconhecimento de que produção agrícola e preservação caminham juntas. A sociedade que deseja a estabilidade da produção de alimentos também cobra cuidado com o ambiente.
Para o produtor rural, esse respeito à natureza tem duplo significado. Além da manutenção de um espaço agradável, representa o cuidado com seu bem maior: a terra, que, uma vez degradada, vai dilapidar seu patrimônio e comprometer a eficácia de seu plano de negócios.
Esse entendimento muito contribuirá para melhorar a imagem da agricultura nacional. E não apenas diante dos brasileiros como também aos olhos do mundo.
A coexistência entre produção e preservação confere tranquilidade ao campo, agrega valor à produção sustentável e não esvazia o verdadeiro movimento ambientalista republicano, cuja vigilância, mais do que útil, é fundamental a qualquer sociedade.
Kátia Abreu é senadora (PSD-TO) e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Fonte: Folha de São Paulo. Por Kátia Abreu. 29 de dezembro de 2012.
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